Com esse mundo modernoso no qual o excesso de liberdade tem falado cada vez mais alto, e que a liberdade sexual está ficando cada vez mais em pauta, não raramente me deparo com casais que se perguntam sobre a questão do fetiche: vale a pena realizá-lo? Enfim, alguns querem realizar por si, outros querem pelo outro, e alguns – poucos – tem a mesma vontade praticamente na mesma sintonia. Mas e aí? Qual é a desse fetiche? Faço ou não faço? Não escrevo esse texto para desencorajar os fetichistas, até porque sei que muitos vivem muito bem e super felizes, mas sim para fazer pensar nessa prática a partir de uma nova possibilidade, que pode ser – ou não – maravilhosa.
Acredito que algumas pessoas têm confundido o excesso de liberdade com excesso de imaturidade, e ficam tão felizes com “enfim poder amar livremente”, – porque se a mídia apoia a liberdade sexual, agora (quase) todo mundo apoia, – e se esquecem que o que vale para os outros nem sempre vale para elas e que a liberdade pode acabar virando a prisão de si mesmo. Não, não estou falando que essa prática é algo ruim, mas sim que apesar de parecer um simples desejo, ela pode desembocar em um buraco muito mais fundo do que parece.
Atire a primeira pedra quem nunca, nunca, mas nunquinha mesmo teve um fetiche na vida. Tudo bem que não precisa ser dos mais ousados, como se imaginar transando com 4 homens ao mesmo tempo, ou transando com a filha do seu melhor amigo… Opaa… Só se ela tiver mais de 18 anos, ok? hehe. Quem é que nunca teve um fetichezinho básico, nem que seja algo leve como seduzir e transar com o amigo da sua melhor amiga que você é afim há anos? Sim, porque fetiche não é só fazer orgia, ou transar perigosamente em cima da linha do trem: ele pode ser algo que mesmo sendo básico, parece distante, relativamente difícil, e não sai da sua cabeça. Tem também aqueles fetiches mais ousados que a pessoa se mija toda só de pensar – entendeu a maldade?! Mas tudo bem, no fim não é isso que importa, são apenas fetiches mesmo e o que passa a importar no final das contas não são eles em si, mas sim se valem a pena e se você tem o perfil adequado para ele(s).
Será que o fetiche é realmente necessário na sua – opsss, na vida – de vocês? Seria algo para apimentar, ou apenas para cobrir um vazio espiritual que você ingenuamente acha que a prática sexual iria ajudar? Do tipo aquelas pessoas que sempre que estão tristes vão comprar qualquer outra coisa física na tentativa de cobrir uma falha espiritual que nunca acabará, pelo menos não assim. Não estou pregando práticas religiosas aqui, mas só perguntando até onde o seu espírito aguenta, e se você não está tentando alimentá-lo com a comida errada. Com isso, quero dizer que o fetiche pode ser sim maravilhoso, e que sair da rotina pode trazer grandes alegrias, PORÉM, isso só acontece se você estiver muito bem resolvido consigo mesmo e quiser um pouco de diversão, sem a pretensão de se sentir mais completo por isso, porque completude vem de dentro. Ok, fui brega mas é isso.
Será que o desejo também é seu, ou é apenas do seu parceiro? Quando ele propõe algo assim você se sente mais apreensiva e na obrigação do que qualquer outra coisa? Se sente como se estivesse devendo algo para ele? Ou já pensou até mesmo “em fazer logo para ver se ele não para de te encher o saco, porque um dia você prometeu sem querer que faria e ele te cobra isso até hoje?”. Não estou desmerecendo a vontade do outro, até porque sabemos que vida a dois requer algumas aberturas de mão, mas será que se você sente alguma ou todas as minhas perguntas você não pode sair dessa pior do que entrou? Ninguém melhor do que você para se conhecer, e nessas horas é de fundamental importância tentar avaliar todas as probabilidades que tem a ver contigo e com o desenrolar da história. Até porque suponho que, mesmo que o pedido seja egoísta e muitas vezes só pense no idealizador dele, o marido ou a esposa que o propõe não quer te ver triste, mas sim feliz, certo? E se ele está cego de tesão a ponto de não poder pensar nos contras, é a hora de você pensar e decidir se você concorda – ou não – com a proposta do seu parceiro.
Fora o clichê básico que diz para nunca fazer algo exclusivamente pelo seu parceiro, nunca, mas nunquinha mesmo pratique essa ousadia apenas para tentar salvar o seu relacionamento, porque nessa você pode acabar se complicando ainda mais. Tudo bem que toda regra tem sua exceção, e que isso pode de fato ajudar alguns casais, porém, o que acontece com muitos deles é que se o relacionamento estava ruim, acaba ficando pior, principalmente se o fetiche exigir uma terceira pessoa no meio: – “Opa, então se eu estiver bem com o meu parceiro e em plena sintonia eu posso fazer um sexo a três danado de inovador que isso só aumentará a nossa cumplicidade?”. Não necessariamente, só quis dizer que casais que já estavam mal podem piorar, o que não altera a possibilidade dos casais que estavam bem piorar também. Para explicar melhor, conto um exemplo real que aconteceu com um casal que se ama, mas que também pode facilmente acontecer com um casal que já estava com problemas. A história é baseada em fatos reais, mas minha imaginação fértil empregará nomes fictícios.
Adão amava Eva (ok, meu exemplo não foi de uma mente fértil e criativa) e eles recém completaram 4 anos de casamento: tudo estava bem, tudo estava perfeito e eles não poderiam estar mais felizes. A cumplicidade era tanta que eles resolveram inovar – mas o que fazer? “Que tal ir em uma casa de swing, assim só para conhecermos mesmo?”. Bem, foi isso que eles inicialmente combinaram, e a ideia era realmente apenas conhecer. Chegaram lá e conheceram tudo: gente feia, gente bonita, e uma casa encantadoramente arrumada. Esta era uma das mais badaladas da cidade e a negociação se dava de uma maneira bem clara: “Camarada, eu gostei da sua mulher, o que você acha de fazermos uma troca? A minha mulher também gostou dela e de você”. Conversa vai, conversa vem e muitas propostas foram recusadas, até que chegou um casal realmente sedutor, com um bom papo, e com a ajuda do clima da casa não demorou muito para em poucos minutos todo mundo estar pelado. Bem, Adão e Eva não quiseram se separar já de início por ciúmes: como assim vou deixar meu parceiro no quarto sozinho com outra pessoa sem eu ver o que ele está aprontando por lá? Na, na, ni, na, não!! Vamos juntos!!!”, e assim optaram. Bem, rolou todo mundo com todo mundo, menos homem com homem, e de acordo com nossos protagonistas, o sexo foi intenso, maravilhoso, mágico mesmo. Eva coitada, acho que nunca tinha gozado tanto na vida, já o Adão vocês já podem imaginar: realizou o sonho dele de transar com duas mulheres!! Ok, sexo fantástico, gozadas absurdas, só que o que acontece é que o gozo só dura alguns segundos, e depois que ele baixa, você dorme e acorda, e a cabeça passa a funcionar de outra forma.
O dia amanheceu e o casal se sentia estranho: o sexo foi maravilhoso, mas algo entre eles não estava indo bem: Eva começou a pensar no jeito que ele olhou para a outra, e o tanto que ele parecia ”pirado de feliz” com aquela situação, e começou a comparar aquela cara com as que ele fazia quando transava com ela, que de acordo com ela nem eram tão felizes e instigadas assim: para ela, ele ficou tão feliz com a estranha que nem mais vontade de transar com ele ela tinha, porque para ela, felicidade mesmo ele só iria ter se transasse daquela forma novamente. Para Adão, o trauma não foi menor e ele pensava: “acho que aquele cara fez um serviço melhor do que o meu, e nunca vi minha mulher gemer tão alto. Também suspeito que ela gostou mais do instrumento dele do que do meu”. Pensamentos vão, pensamentos vêm, e não demorou muito para um querer tirar satisfação com o outro, querer tirar essa história a limpo, gerar muitas brigas, e nunca, mas nunca mais conseguir tirar aquelas imagens da cabeça. Indo logo ao fim: o casal ficou com problemas, e estão na terapia até hoje (e isso é sério). Será o amor ou o trauma que vencerá?
Bem, minha sessão de cronista erótica acabou, mas a pergunta fica: vale a pena realizar um fetiche? Não só acredito, como conheço casais que praticam sexo a 3, troca e tudo mais e que são felizes até hoje, e arrisco a dizer que muitos deles são mais felizes do que muitos casais que praticam o convencional, mas também ouso a dizer que eles costumam ter algo em comum e que é raro encontrar em casais: muita confiança em si mesmos bem como no relacionamento, muita maturidade sexual e até mesmo um certo desapego no que diz respeito ao corpo, sabendo diferenciar muito, mas muito bem o desejo da carne com o amor da alma.
Se você é uma pessoa extremamente insegura, ciumenta, possessiva, ou até mesmo tudo isso junto, eu não vou dizer que se você praticar fetiches – ainda mais se for com terceiros – irá prejudicar o seu relacionamento, mas sou uma pessoa que acredito nas probabilidades, e eu no seu lugar esperaria mais um pouco até estar 100% bem e consciente de tudo que um ato desse pode trazer. Se possível, eu também tentaria optar por fetiches que não precisem de terceiros, até que eu me sentisse mais segura e preparada a ponto de ter certeza que seja lá o que vier, não atrapalhará o meu relacionamento.