Leitora: Sou universitária. Tenho 21 anos. Já tive namorados e ficantes como qualquer garota da minha idade, mas preciso admitir: gosto do tipo cafajeste. Já a minha irmã, só namora caras legais. Não sei explicar porque somos diferentes. Os namorados dela sempre foram bem vindos aqui na família. O tipo de homem que vai na cozinha, bebe água, lava o copo e guarda. Já os meus, prefiro nem trazê-los muito aqui em casa.
Não sei porque sou assim. Acabo me sentindo atraída por caras egoístas, infiéis e até um pouco abusivos. Já tentei namorar um sujeito legal e não deu certo. Eu não o respeitava. Não que eu o traísse, mas o tratava mal. Uma vez eu deixei ele me esperando meia hora do lado de fora de casa enquanto eu terminava de me arrumar, sem nem chamá-lo para entrar. Ele se cansou disso e terminou comigo. Hoje em dia reconheço que agi errado. Perdemos o contato (ele se mudou), mas se um dia encontrá-lo, gostaria de pedir desculpas.
O que me consola é que pelo menos eu não exploro os caras legais. Infelizmente tem muita menina como eu que usa homens assim para levar vantagem. Vejo várias fazendo isso. Elas jogam aquele sorriso matreiro, dão a entender que pode rolar só para obter algo numa troca que nunca se consuma. Admito que já fiz isso, mas parei. A consciência doeu. Hoje se eu quiser sair de noite, saio com meu dinheiro ou então sendo bancada por um homem com quem eu realmente quero ficar. Não quero minha bebida, meu cinema ou meu jantar sendo pagos por alguém que se iludiu comigo.
Pode ser falta de maturidade. Se for, pelo menos é algo que o tempo corrige. Meu medo é que isso seja algo do meu caráter.
Minha amiga, encontrei váriosss, mas váriosssss erros nessa sua história…
Primeiro:
Como assim você “só aceita algo” quando pretende ficar com um cara? Se não pretende, não aceita porque do contrário está “explorando” ele? Ao meu ver, essa é uma cultura que tem que parar. O homem paga porque quer e, estando afim ou não, quero acreditar que é por gentileza (assim como você agrada pessoas que você gosta, etc). E a mulher aceita porque acredita que é uma gentileza.
É óbvio que em uma paquera “a gentileza pode aumentar, bem como haver o desejo de retribuição”, porém, não podemos interligar uma coisa a outra. Ou será que meu amigo gay quer me comer porque quase sempre que me vê me trás um presente e por várias vezes não me deixou pagar a conta de alguns lugares que vamos juntos? E quando meu pai levava minhas amigas pra passear e pagava tudo é porque ele era um velhinho safado?
Sério, temos que parar com essa cultura que, a meu ver, é “extremamente pobre” (inclusive de espírito de ambas as partes) do “ganhei um prato de comida e agora vou dar a ppk/um beijo”. Isso desvaloriza todo mundo, OUUU se você, leitora (ou leitores que estão lendo isso), realmente acredita que faz sentido, já podemos logo nos precificar de uma vez pra ficar mais fácil pra todo mundo.
Sem contar que meu pai sempre fala que quem sempre pensa que o outro espera algo em troca, é porque se trata de uma pessoa que também não faz nada de graça. E aí viria uma outra filosofia sobre você e esses tais caras que você sai: será que semelhante atrai semelhante? Tipo lei da atração? Até quando somos “pessoas” ou “espelhos”?
Quero ressaltar que não estou falando que a maioria dos homens paga algo despretensiosamente, mas sim que é como um leitor que faz isso um dia disse (traduzido em minhas palavras kkk): “Eu “arrisco” porque é da minha criação e quero ser gentil também. Agora, se ela não quiser algo a mais, vou ficar triste, porém, sei que atração mútua não pode ser forçada“.
Sem contar que muitos homens que acreditam nisso (não sou ingênua ao pensar que são poucos), acreditam porque existem mulheres que alimentam esse tipo de lógica – mesmo não querendo, concorda? Tipo a menina que não tinha como voltar pra casa e acabou “tendo algo com o cara só pra pagar a carona”. Triste…
Segundo:
Na minha experiência, a maioria das mulheres que gosta de homem que não presta, é porque na verdade ela tem baixa autoestima. Ou seja, não acredita nela mesma, nem se vê como merecedora de algo “maior”. Acha que não merece “o mais foda de todos” e aí cria toda uma ilusão “de que o cafa excita mais”, enquanto na verdade, é apenas a (falta de) autoestima dela gritando que “se ela consertar aquele cara, é porque ela é muito especial e nunca mais terá baixa autoestima de novo”. É complexo, resumi brevemente e pouca gente entende. Porém, em meus anos de site, só tenho confirmado essa teoria.
No fim, obviamente que elas nunca conseguem a autoestima que querem, porque o vazio está interno, e claro, na maioria das vezes, acabam só se machucando ainda mais. Porém, como muito gente prefere repetir o mesmo erro do que “pagar de fraco que precisa de terapia” (e quem não precisa?), fica só vivendo num looping eterno de merdas e uma vida insatisfatória.
Terceiro:
Não acredito que você seja mau caráter, mas fora todos os problemas que foram – e que serão – citados aqui, talvez você também seja um pouco covarde (e/ou imatura?):
Quando você deixou aquele cara plantado, você entende que era, mais uma vez, a sua baixa autoestima pedindo ajuda para se sentir superior ao pisar nos outros? Tipo “nossa, eu piso mesmo, sou foda porque ele aceita!!” (e sorte sua e dele que, no fim, ele não aceitou porcaria nenhuma kkkk). Enfim, quando você passar a entender que você fez aquilo porque você se acha um lixo, não porque você desrespeitou o cara (ainda que também tenha acontecido isso, obviamente), muita coisa irá mudar.
Por fim,
Ainda que vocês sejam irmãs, às vezes você viveu algo que ela não viveu. Ou que ao menos em você desencadeou algo extremamente negativo.
Não que seja regra, mas…
Você já foi violentada, estuprada, abusada, ou qualquer item negativo quando criança? E qual é a visão que você tem do seu pai/tio/avô, ou qualquer outra figura masculina que foi importante pra você? Será que é diferente da que talvez a sua irmã tenha? A forma que você vê os homens pode ter muito mais a ver com o que “os seus ídolos te mostraram” – mesmo sem dizer nada – do que você pensa. E como, por sua vez, a reação aos fatos pode mudar de pessoa para pessoa, faria bastante sentido caso sua irmã fosse diferente de você.
Continuando…
Seu pai trata sua mãe bem? Seu tio já insinuou que mulher que aceita que pague a conta tem que ficar com o cara? Ou até mesmo sua mãe, ou qualquer outra pessoa que tenha peso pra você? Esses são apenas exemplos figurativos: adapte-os como quiser e entenda que, ainda que muita gente queira “pagar de sabichão independente”, somos, sim, produtos do meio.
Outro exemplo é uma amiga minha que é igualzinha a você. No caso dela, é visível que é porque o pai dela sempre dizia que, apesar dela ser bonita, “era muito burra e não iria conseguir nada na vida“. Sabe aquele pai que acha que tá fazendo o filho se coçar, mas na verdade tá é desmotivando? Pois é… ela infelizmente acreditou nas palavras dele e hoje arruma um mala atrás do outro.
São muitas coisas, muitas mesmos, mas o mais importante é que sim, dá pra mudar. Basta que você entenda “a sua lógica”, e claro, realmente se esforce para mudá-la. Sem contar o respeito e empatia pelo próximo, coisa que, quanto mais você cultivar, mais fácil será de esperar o mesmo.
Boa sorte!