Leitora: Olá, tenho 26 anos, meu marido 39 e somos casados há 3 anos. Temos um filho de 1 ano e 5 meses que foi previsto! Nosso namoro e casamento fora ótimos até nosso filho nascer. Depois que ele nasceu, ficou um homem pra nada, era a tristeza em pessoa. Diz ele que ficou perdido e eu com bebê em casa dando conta de tudo, quase entrando numa depressão pós-parto.
Por tanto que já reclamei, ele faz alguma coisa quando eu peço. Até para ele brincar com nosso filho tenho que pedir pra ele. Ele não deu nenhum presente do dia das crianças e sempre dá pros sobrinhos, na verdade, ele nunca deu nenhum presente pra ele, nem quando ele completou 1 aninho. Às vezes dá a impressão que meu marido tem ciúmes do nosso filho!
Eu não sei o que passa na cabeça dele. Eu já perguntei e ele fica somente calado e não fala nada. Isso me dói muito, porque dá a entender que ele não ama nosso filho e eu não sei o motivo!
Já conversamos, mas ele não tem a responsabilidade de um pai e parece que nem amor pelo neném tem. Não sei mais o que fazer, parece que tenho 2 filhos em casa. E ele ainda me cobra que eu lhe dê atenção, como um menino com ciúmes do irmão! O que eu faço?
Esse é o abacaxi mais difícil de ser descascado de 2018!
Fiquei muitos dias refletindo sobre a sua pergunta, relendo e editando a minha resposta. Mesmo assim, não fiquei contente com o meu conselho.
Quando não acredito no que escrevo, fico assim, numa puta dor de cabeça e aflita por não conseguir encontrar algo que pudesse vir a ajudá-la.
Enfim, após diversas reedições fui me aconselhar com uma pessoa que passou por isso e falhou. Demorei para fechar a edição do texto e encaminhar à Luiza, pois tive que esperar a minha fonte retornar de uma breve viagem.
Assim sendo, segue o meu posicionamento e os conselhos que recebi ontem da minha fonte conselheira:
Meu conselho
Ter um filho é uma das coisas mais difíceis, complicadas e banalizadas pela sociedade. Poucas pessoas pensam na procriação sem a romantização da família perfeita.
A sociedade te pressiona a procriar e existe um pré-conceito muito grande com pessoas que não querem tê-los.
Esse pré-conceito é tão grande e arraigado que muita gente não tem coragem de admitir que não quer filhos, e acabam encenando os papeis sociais sem nenhuma predisposição para tanto.
Porém, você disse que o filho foi “previsto”, mas essa previsão foi sua, dele ou dos dois? Chegaram a um consenso juntos, ou você presumiu que ele, por ter 39 anos, deveria ser pai?
Faço essas perguntas por saber que, infelizmente, as pessoas ignoram que o amor hereditário não nasce em todos. É um risco que cada pai/mãe corre ao engravidar. E, por isso, não posso recriminar o pai ou a mãe que não ama seu rebento, pois eu mesma não sei se esse amor nasce de forma espontânea, por isso, não engravidei até hoje por medo.
Medo de não amar o bebê.
Medo de não amar cuidar de um bebê.
Medo do meu marido rejeitar o bebê.
Medo de me arrepender e não ter como voltar atrás.
Medo de reproduzir histórias que vivi na infância.
Sem contar também que meu marido foi rejeitado pelo pai. Assim sendo, conviver com os danos que a rejeição causa não é nada fácil.
A pessoa rejeitada tem uma grande chance de se tornar um adulto complicado, inseguro, depressivo e procurando aceitação a cada esquina. O cônjuge acaba se distanciando do “rejeitador” e criando um ranço gigante, pois ele/ela não entendem como pode uma pessoa rejeitar o próprio filho(a).
TODOS PERDEM.
Esse tipo de situação desencadeia muitos problemas familiares e ninguém sabe lidar com isso. Ninguém se prepara para não ter sentimentos por um bebê que tem seu próprio sangue.
O que fazer?
Primeira coisa é parar de cobrar, falar e exigir.
Coloque-se no lugar dele. Será que ele mesmo não se cobra, se julga e recrimina por não ser o pai que vocês dois idealizaram?
Ocorre que as pessoas pensam que sabem conversar. Contudo, interrogatório, cobranças e apontamento de dedo faz tudo, menos comunicar.
Acredito que dificilmente você conseguirá reverter a imagem de inquisidora, até porque você questiona e ele se cala. Por isso, será que não é a hora de procurar ajuda profissional?
Talvez ele consiga se abrir e passar para uma pessoa de fora o que ele está sentindo e buscar a solução. Mas se ainda quiser tentar mais uma vez uma conversa sincera com seu marido, trago uma ideia de coisas que eu faria:
1 – Teria uma última conversa
DICAS PARA QUEM QUER DISCUTIR ALGO SÉRIO (serve para qualquer conversa):
Retire do ambiente qualquer distração
No seu caso, deixe o bebê com alguém para que ele não cause nenhuma interrupção na conversa, pois o ideal é conversar e resolver de uma vez só.
Jamais inicie uma conversa com alguém que acabou de sair de uma situação estressante
Exemplo: acabou o expediente, o cara chegou do trabalho e é pego de surpresa com uma DR.
Leve o alvo para o banheiro e dê um banho daqueles BEM relaxantes
Após o relaxamento, sente e converse. Uma mente mais leve é mais propensa a ouvir.
Não converse com alguém que esteja com fome
Depois de comer, o corpo libera dopamina, serotonina, endorfina e ocitocina. Não é à toa que muita gente usa comida como válvula de escape. Alimente-o antes do debate..
Seja objetiva
Tenha em mãos um roteiro de tudo que quer dizer, pois os homens não são predispostos a longas conversas. Ter uma lista com todos os sentimentos principais ajuda muito a ser objetiva e não deixar nada passar.
Não discuta o mesmo assunto mais de uma vez
Evite bater na mesma tecla a cada discussão, isso desgasta o físico e a mente. Se a primeira conversa não resolveu, somente atitudes resolverão.
Estabeleçam no diálogo as consequências
Não adianta correr em círculos atrás do próprio rabo e não colocar uma meta simples e muito clara para os dois. Bem aquilo “se você não mudar, o nosso relacionamento vai acabar”. Diga com muita ênfase e tranquilidade que essa conversa é derradeira e que você está procurando uma saída para evitar terminar a relação.
Não pense sozinha
Diga que você o ama, mas não sabe mais o que fazer. Jogue a resolução no colo do outro. Faça-o pensar na solução.
Escute
Escute sem fazer cara de julgadora. Escute, absorva e tentem encontrar uma solução.
Após fazer todos os pormenores e prepará-lo para a conversa, seja sincera e explique o que vem observando nos últimos 1 ano e 4 meses. Diga que você esperava uma postura diferente, pois ele sempre foi carinhoso com os sobrinhos, mas é indiferente com o próprio filho e que essa situação vai pesar bastante no futuro na criação e na formação do filho de vocês.
Dê espaço para ele expor os próprios sentimentos e busque construir, não impor, uma solução. Peça a ele que comece a policiar as próprias atitudes, que mostre disposição em ser um pai melhor e pare de ser tão infantil na disputa por atenção, pois isso tem afastado vocês dois.
Algumas ideias simples que pode sugerir a ele no dia a dia são:
1- Não espere alguém pedir, faça de forma espontânea. Exemplo: preparar a mamadeira do neném ou distrai-lo enquanto a mãe está ocupada;
2- Perguntar “o que posso fazer para ajudar?“. Ou seja, ser mais proativo.
3- Aprender a dar banho, trocar fralda e outros pormenores do dia a dia. Caso saiba fazer tudo isso, comece a executar essas atividades.
4- Separar um momento no dia para que ele e o filho fiquem sozinhos. Exemplo: dar uma voltinha no quarteirão sem a presença da mãe.
Assim sendo, tenha serenidade para falar e ouvir. Tenha sabedoria para entendê-lo. Tenha paciência caso ele esteja disposto a procurar ajuda para lidar com os próprios sentimentos, pois esse problema não será resolvido de imediato.
2 – Tenha coragem para tomar uma atitude
Caso a conversa não dê em nada, tenha um plano B.
Se ele continuou na defensiva, não quis procurar ajuda profissional, não está disposto a mudar, aí leitora, você vai ter que escolher: escolher entre o bem-estar psicológico, ou esse sofrimento.
Como disse ali em cima, essa situação vai corroer seu casamento e a saúde mental do seu filho. Esteja disposta a seguir a vida sem o seu marido.
3 – Priorize a parte indefesa
Você decidiu trazer uma pessoa ao mundo, portanto, ela é sua responsabilidade. O seu marido é adulto e pode escolher ser um pai melhor, mudar as atitudes ou procurar ajuda. O que não deve acontecer é deixar uma criança passar por tudo isso sem fazer nada.
Você não conseguirá suprir o carinho/atenção que o pai deveria dar ao filho.
Eu não sei, mas no seu lugar eu daria um tempo para observar a evolução dessa história e, se não visualizasse melhora, iria desistir de estar casada com um cara egoísta, infantil e que quer disputar a atenção com um bebê!
Conselho da experiência: aqui é a sugestão da minha fonte que passou pelos mesmos problemas que a leitora
A minha fonte pediu para que seu nome e origem permanecessem em sigilo, por isso, não citarei nomes.
Ela concorda com quase tudo que escrevi. Porém, acredita que somente uma conversa civilizada e a ajuda profissional não irão ajudar no seu caso. Ela tentou isso e não deu certo.
Segundo ela, alguns homens ficam sem saber seu lugar quando o bebê nasce, diferentemente de nós mulheres, pois temos 9 meses para nos habituarmos e conectarmos com a criança.
Nesse sentido, o homem PRECISA de meios para conectar-se e criar vínculos com o bebê. Alguns o fazem de forma natural, enquanto outros simplesmente não conseguem.
No caso da especialista, o marido não se conectou com o bebê por três motivos:
1 – A sogra morava com eles;
2 – Tudo o que ele fazia estava errado, desde pegar no colo até dar mamadeira;
3 – O marido não teve meios para criar uma ligação de pai/filho, tanto pela ignorância quanto pela birra que nasceu em seu coração por causa da sogra.
Obviamente que são conjecturas, pois ninguém sabe o que de fato o marido sentiu, pois em todas as conversas ele fazia como o marido da leitora, OUVIA CALADO.
Quando eles tiveram o segundo bebê, a história quase se repetiu. Porém, a sogra não residia mais com eles, mas a presença da cunhada fazia as vezes da sogra nos cuidados com a recém-nascida e com as críticas recebidas por ele.
O que diferenciou o primogênito da recém-nascida?
Importante salientar que o marido criou vínculos afetivos com o segundo bebê.
Eu perguntei à minha fonte o que ela tinha feito de diferente, e então segue o diálogo:
Conscientemente nada, mas hoje vejo um acontecimento que virou o jogo, pois até os 9 meses de vida, a neném não recebia atenção e era tratada como o outro filho. Eu via com muita tristeza a história se repetindo e não sabia mais o que fazer, pois o meu marido sempre gostou dos meus sobrinhos, brincava, contava histórias e dava presentes, mas com os nossos filhos era frio.
Porém, quando a minha bebê estava com 9 meses, precisei viajar com meu menino para tratá-lo de uma pneumonia, deixando a bebê com o pai por uma semana.
No decorrer dessa semana, meu marido foi obrigado a cuidar, conversar, dar carinho, trocar de fralda, dar mamadeira, olhar no olho da criança sem nenhum intermediário para socorrê-lo.
Cheguei em casa após essa semana e encontrei a minha filha com a bundinha murchinha e disse brava ao meu marido: Fulano, você é doido? Deixou a neném sem fralda?!
Ele riu e disse que tinha ficado três dias ensinando a neném a fazer xixi e cocô, portanto, ela não precisava mais de fraldas”.
A neném era um dengo com o pai e o pai com a neném. Ele mudou da água para o vinho com a caçula, mas com o menino a situação não mudou. Ele dava tudo, menos carinho.
Nesse sentido, perguntei porque ela não separou. Respondeu que naquela época divórcio era intolerável e que se fosse hoje não levaria adiante o casamento, pois a rejeição do filho mais velho foi corroendo o casamento e as diversas brigas só prejudicaram o desenvolvimento emocional do filho.
Por fim, a minha fonte disse que o único jeito de resolver o seu problema, leitora, é com um tratamento de choque. Deixe seu marido cuidando do bebê sozinho, nem que para isso você precise inventar uma viagem.
Continuação do diálogo:
Mari Cobra: mas e se ele judiar do neném?
Fonte: uma coisa é ele ser frio e desdenhoso, outra bem diferente é judiar. Se ela desconfiar que ele trataria mal o próprio filho, é hora dela repensar esse casamento e dar no pé.
Caso nada disso resolva, sugiro repensar com urgência seu casamento, pois você é nova e poderá recomeçar a sua vida. Não faça como eu que mantive um relacionamento ruim por muitos anos e prejudiquei muito o meu filho, pois ele presenciou muitas brigas que poderiam ter sido evitadas.
Desta forma, a sua questão foi passada para várias pessoas e todas elas foram unânimes no quesito separação, pois é uma carga extremamente pesada você criar um filho tendo um marido como estorvo.
Dê a chance dele mudar o comportamento e ser um pai melhor, se ele não aproveitar, caberá a você resolver o que fazer.
Boa sorte, tenha paciência e firmeza nas próximas decisões que tomar.