Você acredita em destino? Eu acredito. Na verdade, mesmo os que dizem não acreditar no fundo acreditam e fazem mais ou menos como os ateus, que dizem não acreditar em Deus até a hora em que a vida aperta tanto que só resta jogar a responsabilidade do futuro em algo fora do alcance das mãos.
Nada contra quem entrega parte dos resultados na guarda de algo abstrato e subjetivo, até porque essa divisão de responsabilidades com o universo costuma gerar certa paz interior e melhorar as suas noites de sono ao te iludir que o peso que você jogou no mundo não é mais de sua inteira responsabilidade. Ilusões à parte, sabemos que, vez ou outra, essa estratégia até pode funcionar por termos dado o que chamamos de “tempo ao tempo”, porém, o grande perigo é quando essa atitude de “deixar tudo nas mãos da vida” acaba gerando um vício pelo comodismo do “vou deixar rolar para ver no que dá” e te faz ser uma pessoa covarde que faz pouco ou quase nada. Nessa hora você começa a jogar tudo o que te dá trabalho ou te faz sofrer nas responsabilidades do mundo e ainda assim acredita que o que é seu, virá naturalmente. Doce sonho…
Depois de um tempo com uma vida estilo Zeca Pagodinho do “deixa a vida me levar, vida leva eu”, as coisas começam a dar errado e mais uma vez o covarde joga a culpa no mundo, no azar do momento, numa fatalidade, mas nunca nas consequências de sua falta de atitude e excesso de medo de viver. Ele ousa até mesmo reclamar do quanto é azarado enquanto outras pessoas têm sorte. Nisso eu pergunto: será que alguma vez na vida ele se esforçou de verdade para mexer alguns palitos, ou só costuma fazer isso quando eles estão relativamente fáceis de se mexer?
Nenhuma vida é tão bem escrita quanto um conto de Shakespeare, com um começo, um meio e não importa o que aconteça, um final que continuará sendo sempre o mesmo. Qualquer vida real é composta por um misto de páginas eternamente soltas e incompletas: você tem que sair na tempestade para pegá-las, enxugá-las e tentar compor a sua história. Algumas rasgam, se perdem no caminho e, se isso acontecer, você terá que recriar a parte perdida ou simplesmente desistir dela – pagando o devido preço por isso, claro. Ainda que digam que viver é escrever sem rascunho, tem coisa que dá para apagar e reescrever novamente, quase que do zero, a depender da sua força de vontade e do tamanho dos seus sonhos.
Às vezes o que te falta é só respirar fundo, tomar um cafezinho, pegar a sua vida vazia e trabalhar duro na sua mais nova composição da vida real: reescrever do zero sempre dá trabalho e costuma ter como efeito colateral um bocadinho de preguiça e medo. Mas no fundo você sabe que consegue, porque querer ser feliz está no seu instinto de sobrevivência e você sabe disso.
Uma pessoa pode estar na cadeira de rodas hoje e sair dela amanhã. Se ela fizer isso, ela terá apagado e reescrito o seu destino que parecia ser fatídigo:
Uma pessoa diz: “Coitadinho, ele nunca mais voltará a andar”.
A mesma pessoa falando algum tempo depois: “Minha nossa, ele está andando! (cara de abismada!).
É bobagem afirmar categoricamente que algo não tem volta ou conserto, não sem antes tentar, tentar e tentar de novo. Ainda que reescrever seja difícil e que apagar deixe marcas no papel, a reescrita sempre tem a oportunidade de ser brilhante.
O destino existe sim, porém, não se iluda com as possíveis facilidades que a teoria cultural diz sobre ele. Ainda que pareça cômodo pensar assim, ele não vai escolher por você: o destino é mais ou menos como aqueles caminhos de mão dupla em que os heróis dos filmes vez ou outra têm que escolher: se for para um lado ele leva a um lugar, mas se for para outro ele poderá desembocar em um destino completamente diferente.
Se sempre temos mais de uma opção a seguir, não te parece absurdo pensar que o destino manda tanto assim em você? Ou melhor, não te parece coerente pensar que o destino não é “um” destino, mas sim múltiplas possibilidades de ser o que você quiser?
Será que podemos escolher o nosso futuro quase como a gente escolhe entre comer um doce ou uma fruta: se você escolher o primeiro inevitavelmente você engorda mais, porém, e ainda que seja mais difícil, ainda assim você tem a opção de comer uma fruta. No fim, o destino existe ao mesmo tempo em que ele é uma questão de escolha.
Se você só come, dorme e não gosta de trabalhar, como você vai ser gostosão(ona) e bem sucedido? Não te parece bobagem pensar que você nasceu para ser “assim ou assado” se você nasceu para ser o que você quiser? No fim, cada um nasceu para ter o que merece, com o detalhe de que quem corre atrás e acorda cedo costuma merecer mais. É a lei da atração e do retorno e essa lei costuma ser mais justa do que você imagina.
É até engraçado falar sobre isso, mas tem gente que vê a Gisele Bündchen e acredita que ela nasceu linda, rica e bem sucedida de um dia para o outro, como em um golpe de sorte no estilo dos filmes encantados. Porém, quem pensa um pouco mais sabe que nem precisa conhecê-la pessoalmente para saber que com certeza houve muito trabalho duro e muita luta durante esse processo que você, bem como os outros telespectadores, só puderam ver o final (ela brilhando nas telas). Ainda que a gente a veja feliz e radiante nas passarelas e comerciais, só ela sabe aonde teve que pisar para chegar onde chegou.
Será que o sucesso dela faz parte do destino? Sim. Mas será que chegar a um destino faz com que a luta ou a preguiça resultem nesse mesmo fim? Certamente não.
Não existe só ela de linda e talentosa no mundo, porém, ela foi uma das poucas que chegou até lá ao mesmo tempo em que tem outras tantas com potencial de ser como ela – e até mesmo melhor – mas que nunca chegaram nem perto. Essas pararam no caminho, desistiram ou simplesmente optaram por mudar de rota, mesmo as que queriam o mesmo sonho. Nesse caso não faltou potencial, mas faltou coragem.
Quando uma empresa aérea te pede para “escolher o seu destino”, você vai lá, escolhe e literalmente paga por ele. A vida real não é muito diferente disso: você escolhe e você paga pela sua escolha, você paga pelo seu destino.
O destino existe, mas também existe luta e oportunidades aproveitadas. Se você trabalha muito, faz o seu melhor e mesmo assim não consegue o que você quer, de fato não conseguir provavelmente era o seu destino, porém, se você não tenta, não se esforça e consequentemente não consegue o que quer, como você vai poder alegar que não conseguir era o seu destino? Isso seria como pular na frente de um trem em movimento e dizer “se for para morrer, eu morrerei!” e depois ainda ficar chateado porque se estrebuchou todo.
Você só terá certeza do seu sucesso ou fracasso se você realmente tentar e se esforçar para chegar aonde você quer chegar, pois o destino nada mais é do que aquilo que acontece depois de você ter dado o seu melhor.