Vivia um grande momento de crise em minha vida, apesar de que a parte financeira só melhorava. Em 2011, aos 27 anos, estava mergulhado em duas vidas, a primeira noturna e com muita bebida e a segunda era encarar um trabalho árduo e burocrático durante o dia. As amizades superficiais de trabalho em nada me ajudavam.
Apesar de estar mergulhado em um sedentarismo destrutivo, eu não tinha a aparência de homem gordo, os ternos e as roupas de trabalho me deixavam elegante, pelo menos isso é o que eu achava.
Anos antes de começar a trabalhar, era corredor profissional, corria inclusive meia-maratonas, esse vigor físico tinha sido invadido e dilacerado pela bebida. Era noivo, mas o trabalho, as viagens e a minha falta de dedicação ao relacionamento unido com o conformismo da minha ex-noiva me deixavam em um relacionamento sem nenhuma profundidade.
Muitas vezes gostava de frequentar puteiros de luxo com os amigos de trabalho, ali era um local onde bebíamos, pagávamos strippers e se rolasse interesse pagávamos mulheres.
Certa vez o grupo de trabalho estava implantando processos corporativos em uma empresa em Porto Alegre. Todos os colegas decidiram ir a uma boate de sertanejo, já eu, preferi ficar em casa. Mais tarde peguei o carro e comecei a rodar sozinho pela cidade, tinha como companheiro apenas o GPS. Uma hora as luzes de um puteiro começaram e me chamar a atenção, estacionei o carro e entrei. Lá dentro, comecei a tomar whisky e curtir aquele som de péssima qualidade, nenhuma garota me chamava a atenção. Certa hora comecei a olhar uma menina, ela era branquinha como um floco de neve, era magra e naturalmente bonita, estava na flor da idade. Os cabelos eram longos e lisos até a cintura. Chamei-a para conversar e ela imediatamente pediu uma dose de whisky. Perguntei algumas bobagens, mas ela cortou logo o assunto:
– Faço programa e custa duzentos reais.
– Eu quero apenas conversar – eu disse.
– Meu tempo é dinheiro.
Eu não estava no clima de querer transar com ninguém, mas algo me atraía naquela garota e de certa forma eu não queria pagar, queria ter o gosto da conquista. Topei pagar os duzentos reais, mas inicialmente sem interesse de sexo. Chegando no quarto ela começou a tirar a roupa, mas eu lhe interrompi e lhe disse que só queria conversar, ela riu ironicamente, mas parou de tirar a roupa.
– Tenho uma hora paga, podemos conversar.
Escrevendo agora, alguns anos depois, percebo como estava carente de atenção.
– O que faz aqui menina? É jovem e bonita, não deveria estar nessa vida.
– E você, o que faz aqui? É jovem e educado, não precisa estar pagando garotas.
– Não sei..
– Já eu, estou aqui para ganhar dinheiro – respondeu ela.
Eu apenas a olhei, mas olhei com sinceridade, então ela começou a conversar:
– Tenho dezenove anos, minha família não sabe que faço programas, só desconfia e eu digo que faço eventos. Eu não sei quem é meu pai, ele comeu a minha mãe e sumiu no mundo. Tenho uma vida triste, sabia? Aqui é como se me desligasse do mundo, posso dançar, ganhar dinheiro, às vezes aparecem homem bonitos, orgias, experiências. Tem o lado ruim, há homens que acabam com a gente, te comem de uma maneira tão animal… às vezes me sinto um lixo. A verdade é que eu não sei, só sei que estou ganhando dinheiro.
Continuei olhando, ela se aproximou de mim e me deu um beijo. Na boca! Foi um dos beijos mais maravilhosos que me aconteceram na vida, era sincero… então naturalmente começamos a nos despir. A cada peça de roupa tirada havia grande troca de caricias, há tempos eu não sabia o que era um sexo tão gostoso e verdadeiro como aquele. A hora passou, peguei seu telefone, ela me disse que seu nome era Valéria. Voltei a ganhar as ruas nas noites frias de POA.
Três dias se passaram e eu não podia acreditar que não parava de pensar em uma garota de programa. A previsão para estar no Rio Grande do Sul era de apenas mais quinze dias. Em um dos dias da semana, no meio da noite, resolvi ligar, ela me disse que estava no mesmo local e me convidou para um novo programa. Quando cheguei na porta do puteiro, lhe orientei a sair para que pudéssemos conversar, ela saiu e me perguntou o que eu queria.
– Sair para jantar – respondi.
– Saídas, noitadas, jantares são trezentos reais.
– Não quero lhe pagar mais nada, quero você como mulher, se quiser entrar, seja bem vinda. Se não, vou embora.
Ela pediu que aguardasse e voltou.
– Vamos – disse ela, em tom imperativo.
A partir desse dia passei a viver intensas noitadas acompanhado de Valéria, íamos a boates, restaurantes, cinema, etc. Fazíamos sexo em todos os lugares: estacionamentos, motel, na rua, em estradas desertas… era um ritmo intenso. Ela não deixou de fazer programas, os fazia durante o dia e dizia que tinha que ganhar dinheiro. Meu trabalho se tornou mais árduo ainda, pois eu sempre andava de ressaca e cansado, mas tinha habilidade em manter bom relacionamento comercial com os clientes… e era tão repetitivo de certa forma, que não tinha dificuldades em desempenhá-lo com facilidade.
O dia de voltar a São Paulo tinha chegando. Valéria me ligou e me disse que viria ao meu apartamento (tipo Kitinete alugado). Quando ela entrou, estava com uma pequena mala nas mãos e me disse:
– Para onde você for, eu vou. Arrisco tudo, que dê certo, errado. Tudo.
Eu fiquei sem reação, gaguejei um pouco, ela percebeu a minha insegurança e disse:
– Tudo bem, já entendi. Vou embora.
Pegou sua pequena mala e se foi. Eu fiquei sem reação no sofá, não fiz nada. Peguei meu voo de volta. No meu retorno meu noivado entrou em crise definitiva e se acabou. Fiquei um tempo na sede da empresa em São Paulo, em torno de quatro meses creio. Certo dia Valéria me mandou uma mensagem: “A partir de hoje não existo mais, estou partindo para uma nova vida, seja feliz, desejo tudo de bom na sua vida“. Eu lhe respondi: “Obrigado, desejo toda a felicidade a você também“.
Dois dias depois, resolvi ligar e me puni por ter mandando apenas uma mensagem. Quando liguei, fui informado de que aquele número não existia. Procurei um cartão que ela me deu no primeiro encontro e localizei seu e-mail, lhe mandei um e-mail mas a mensagem retornou dizendo que aquele e-mail não existia.
Poucos meses depois, pedi demissão da empresa, o último pedido do meu chefe foi que eu fizesse uma viagem ao Rio Grande do Sul e resolvesse algumas pendências que por ali ficaram. Fui até o puteiro para ver se localizava algumas de suas amigas presentes no primeiro encontro. Falei com algumas e lhes perguntei por “Valéria”, falei com a gerente do local, mas ninguém sabia quem era Valéria. Mostrei o cartão dela, mas todas diziam que por esse nome falso era impossível. Fui embora, fiquei um tempo desempregado, pensando na vida, reestruturando a nova maneira de amar a próxima mulher da minha vida, saber lidar melhor com o trabalho e com os sonhos.
Os anos se passaram… Para mim ela foi importante e muito especial, espero ter tido o mesmo efeito em sua vida…
Relato real de um colaborador anônimo.