Leitor: Boa tarde. Tenho 23 anos, sou casado há um ano, minha esposa tem 31 anos e é obesa. Esse foi daqueles relacionamentos em que comecei realmente a gostar dela depois de uma boa convivência, me casei com ela por afinidade, aparentemente tínhamos intimidades e comum acordo sobre muitas coisas, então pensei que a obesidade fosse solucionável desde que mudasse os hábitos, porém, aí vem os problemas: ela anda descabelada, não faz regime e nem exercícios físicos, vive na coca-cola e doces, tem um grande apetite sexual mas eu não me sinto mais muito atraído. Não estou em forma mas sou bem mais magro, se eu toco no assunto ela logo se chateia, não sei o que fazer, isso está nos prejudicando… O que vc aconselha??
Você acha mesmo que é fácil mudar os hábitos? Quantos maus hábitos você tem na sua vida que você nunca mudou? Mudar a rotina e vícios de anos nunca será fácil para alguém e para ela não será diferente. Obesidade não é só uma questão de “não se cuidar”, de desleixo ou de estética: é uma doença. Ainda que quem veja de fora pense que “é só adotar um padrão de vida saudável”, quem vive nesse mundo sabe que o buraco é muito mais embaixo.
“Ah, mas então como tem um monte de gordinha que emagrece horrores e muitas vezes fica até gostosona, nem parecendo que um dia foi gorda?”
Primeiro de tudo porque a pessoa (não você) quis, depois que grande parte dessas pessoas teve uma mudança drástica na cabeça. Com isso quero dizer que não adianta nada fazer dieta, se a cabeça da pessoa continuar “de gordo”, entende? Ao fazer isso, ela pode até conseguir manter um certo controle (=dieta) por um ou três meses. Depois ela cai de boca em tudo e engorda o dobro. Exemplo clássico, né?
O seu maior erro foi se casar acreditando que ela mudaria. Você não pode comprar um manequim 36 se usa 40 pensando que um dia irá emagrecer, entende? E foi isso que você fez com ela. Sem contar que pior do que ela comprar um manequim menor pensando que vai caber nela, é você fazer essa promessa por ela, né? Quem foi que disse que ela realmente quer emagrecer? Ou melhor, às vezes ela até quer, mas quem foi que disse que ela quer tanto a ponto de lutar por isso? Você errou ao tentar prever um futuro na vida dos outros, não na sua. Seria muito mais fácil você prometer por você mesmo que não se separaria dela mesmo ela sendo obesa, do que se casar com ela pensando que ela iria emagrecer futuramente. É claro que você pode tentar ajudá-la, mas a decisão final será sempre dela.
“Ok Luiza, já entendi. Mas agora que já estou no barco, o que eu faço?”
Eu no seu lugar não pediria para ela fazer dieta – pelo menos não nesse momento, porque se ela não está fazendo isso, é porque de duas uma:
1- ou não quer;
2- ou está desmotivada.
Sendo assim, eu no seu lugar tentaria fazer ela gostar um pouco mais dela mesma (isso caso você sinta que ela é infeliz sendo gordinha, apesar de não (tentar) emagrecer). Falaria que EU estou fora de forma, que quero caminhar, praticar algum esporte e perguntaria se ela não quer ir comigo. Sim, não é porque você não é obeso, que você também não precisa se cuidar, né? E pelo o que entendi você também é meio paradão.
Eu também daria a ideia da gente ir ao médico fazer um check up geral de sangue, porque nisso vai que ela encontra alguma super dosagem de algo que ela precisa diminuir? É muito comum um obeso ter colesterol alto, por exemplo. E aí quem sabe isso já estimularia ela a mudar de vida (ou ao menos um hábito ou outro), bem como faria ela descobrir um fato antes de algo pior acontecer, né?
Uma outra ideia é tentar estimulá-la a fazer coisas que tirem a ansiedade: não só os esportes, como meditação e até mesmo um trabalho manual. Muitos obesos sofrem desse distúrbio e isso acaba sendo descontado na comida. Assim, se ela resolver um problema inicial (emocional, etc), ela acaba resolvendo o final (=comer demais). Não dá para começar pelo contrário (por uma mudança de vida forçada), entende?
O processo seria assim: ela aprenderia a gostar mais dela mesma, só que para isso ela precisaria de um exemplo – no caso você – que também teria que fazer as coisas. Não há garantias de que daria certo da parte dela, mas da sua no mínimo você lucraria duas coisas: 1- não bateria (diretamente) de frente com ela e 2 – na pior das hipóteses você ficará saradão saudável, rs. E se ela não ficar, paciência. Tentar fazer a sua parte é sempre o mais importante.
É claro que no começo não será fácil: é difícil sair do ócio e da morgação inicial (e isso vale para você também!), mas nada que não seja alcançado com esforço.
Boa sorte!