Leitora: Há dois anos descobri que sou portadora do vírus HIV, assim que engravidei do meu ex-marido (ele era caminhoneiro). Mesmo não sabendo quem pegou de quem, continuamos casados. Depois de um ano tínhamos brigas frequentes onde ele sempre me acusava de ter infectado ele. Cansada de tudo isso, acabei o casamento e agora conheci uma pessoa q não é soro positivo, mas sabe que sou. Mesmo sabendo que sou soro positivo quer continuar comigo, mas tem medo da reação dos pais, pois o mesmo ainda depende deles. O que fazer? A minha idade é 24 e o rapaz 35.
Na minha opinião, o portador de HIV positivo tem a obrigação de contar que tem o vírus para todo mundo que ele pretende ter relações sexuais ou de risco. De resto, acho completamente desnecessário falar, visto que todo mundo já sabe as formas de contágio e que o vírus morre rapidamente depois de ter entrado em contato com o ar. Ou seja, que não passa com o contato social rotineiro, tipo compartilhar pratos e talheres, contato com os sogros (rs), etc.
Ele não tem obrigação nenhuma de revelar o teu estado de saúde para os pais dele, pelo simples fato de que é ele que te come, é maior de idade e deve saber onde quer se meter. Porém, se por uma questão de filosofia pessoal e afins vocês concluírem que, ainda que não sejam os pais dele que se relacionam contigo, seria melhor contar, nada como um pouco de informação para acalmar os ânimos, né?
Primeiro, se vocês transam e estão juntos, sempre existirá a possibilidade de contágio, por menor que seja (camisinha estourar, etc). Então, esse é um risco básico que ele deve concordar em assumir, até pra não ficar jogando nada na sua cara caso um azar aconteça. Porém, o que rola é que a falta de informação tende a deixar as pessoas ainda mais preocupadas do que o normal, e é justamente aí que entra a necessidade de todo mundo que vocês acham relevante saber, estudar mais a respeito. Se informar mesmo, sabe? Sem achismos…
Essas pessoas precisam saber que, por exemplo, ainda que a possibilidade de contágio sempre exista, quanto mais rigidamente o portador (você) seguir o tratamento, bem como cuidar da saúde e do sistema imunológico, maiores são as chances de conseguir manter a taxa de CD4 elevada (células importantes do sistema imunológico) e com isso diminuirá a carga viral e as chances de passar para o parceiro, etc.
Também vale a consulta com um infectologista a fim de que ele explique informações mais detalhadas a respeito da necessidade de transar apenas com camisinha (e isso na minha opinião vale para todo mundo, independente de ter ou não o vírus), sexo oral, bem como todas as outras dúvidas possíveis (nada de vergonha, tem que montar lista escrita pra não se esquecer de nada e levar lá na caruda mesmo!). No lugar de vocês, eu também entraria em contato com outros casais sorodiscordantes – coisa que existe muito no Brasil – e pediria dicas para eles. Tipo globo repórter: como eles vivem? O que fazem para manter a felicidade conjugal? Como contaram pra família? etc.
Outra coisa legal e que independe de vocês terem ou não plano de saúde, é dar uma passadinha no CTA mais próximo da casa de vocês. Lá eles fazem exames de HIV, sífilis, bem como outras DSTs gratuitamente e o melhor de tudo, dão apoio psicológico e medicamentos para quem tem a doença. Inclusive seria legal levá-lo junto contigo em uma consulta com um médico+psicólogo de lá, que por trabalharem 24 horas com o assunto, ajudarão a aliviar mais ainda os ânimos do casal. Lembrando que, infelizmente, nem todo médico é bem informado a respeito do HIV / AIDS no Brasil e justamente por isso é bom procurar especialistas com experiência no assunto. E se precisarem, levem os sogros também. O que não pode continuar é com essa desinformação toda que gera muito mais medo e preconceitos do que realidade de fato, né?