Leitora: Oi Luiza, acompanho seu blog há muito tempo, admiro seu trabalho e gostaria de saber sua opinião. Tenho 29 anos e não sei mais lidar com o turbilhão de sentimentos sobre a minha mãe. Ela tem 51 anos e um casamento falido de três décadas. Meu pai nunca foi um marido exemplar, mas ela não fez por onde se emancipar e ser feliz. Sempre apoiei ela e muitas vezes fui contra meu pai mesmo nas situações em que ele tinha razão. Em resumo, ela sempre teve subempregos para ajudar em casa e quando eu pude, forcei ela a estudar e com dois empregos banquei a formação dela numa universidade federal. Éramos muito amigas. Ela traiu meu pai com um colega de trabalho. Me usou inúmeras vezes para encontrar com o dito cujo; fui deixada de lado e colocada em situações de risco. Ela chegou a envolver meu namorado nos rolos dela e agiu como uma adolescente inconsequente. Eu repudio traições e não contei nada ao meu pai em nome da nossa parceria e esperando ela tomar uma atitude. Mas não houve atitude nenhuma. Eu saí de casa depois de 14 meses de tortura psicológica, ela me agrediu fisicamente e para evitar coisa pior… saí. Hoje a relação entre nós 4 (pai/mãe/namorado/eu) está ok, mas não sinto vontade nenhuma de ficar no mesmo ambiente que ela, sentir empatia ou amor. Tenho pena dela e gostaria muito de perdoá-la, mas não consigo e ela cobra sempre que pode a minha presença e a postura que tinha antes de toda a merda, mas não consigo. Ela está numa depressão fudida e não tenho vontade de estender novamente as mãos. O que eu faço?
PS: Me ajudem povo do site, preciso de vocês porque o bagulho tá complexo!
Mas gente… Isso aí dava um caso de família fácil! Como assim ela pede ajuda pra filha pra sair com os boys que não seja o papi? Essa é nova pra mim kkkk. O lado bom é que já deu pra perceber que o nível de amizade e de cumplicidade entre vocês era alto e isso já serve como primeiro passo de inspiração pra tirar o rancor do coração (até rimou kkk).
Na minha opinião, dá pra cortar o lado ruim e otimizar o bom, porém, para isso, basicamente você terá que se mudar, para com o tempo ela mudar, o rancor vazar e tudo ficar bem. Explico melhor no decorrer do texto.
Pense assim: namorado é tipo cabelo e roupa: por mais que a gente goste, dá pra trocar. Agora família é tipo Zagalo: você vai ter que engolir. Sendo assim, será questão de inteligência você lidar com isso da melhor maneira possível…
Eu já passei por uma situação semelhante à sua com uma pessoa da família. Não de acobertar traições, mas de estar sempre lá pra tudo, até o dia em que me cansei porque tava me fazendo muito mal, “virei as costas” e fui ser feliz – tipo você, só que diferente, rs! Com isso quero dizer que, até quando virei as costas, na verdade a minha intenção era dar as mãos. Fiz isso não por ser uma “alma caridosa”, mas sim por ter muito claro que seria bom pra mim também: afinal de contas, quem é que consegue viver realmente feliz com tanto rancor? No final, quem dormiria mal e ficaria remoendo seria eu, não a pessoa. Nisso eu optei por me proteger, ainda que não precisasse abandonar completamente a pessoa.
Como sempre ajudava, a primeira coisa que reparei é que, por mais que a pessoa goste da gente e não seja por mal, se estivermos sempre disponíveis e com ouvidos pra tudo, acabamos dando a falsa impressão de que não temos problemas e até mesmo de que “não temos o que fazer”. E no fim a culpa fica sendo de ambos: um por não saber os próprios limites, e o outro por não imaginar que estaria fazendo mal ao ouvinte. Aí entra a primeira lição:
Independente de ser um familiar ou não, nem sempre as pessoas entendem, ou até mesmo conseguem imaginar os sacrifícios que fazemos por elas. E isso não é bem uma culpa delas, mas sim nossa também ao não saber impor limites. Tudo sempre aos poucos e na educação, claro. Mas sem essa de fazer como você fez, de ficar engolindo tudo e depois simplesmente estourar a decepção acumulada de meses, ou até mesmo de anos. Não que seja errado esperar um retorno mínimo, mas se você tivesse “surtado” aos poucos, você daria pra trás aos poucos também, sem esse baque tão intenso de chegar a tomar “horror da pessoa”. Ainda mais sendo a sua mãe.
Depois que tem uma coisa que a gente sempre ouve, ouve e ouve, mas raramente entendemos por parecer distante demais: a grande sabedoria da vida está em nunca esperar reconhecimento e perfeição dos outros, mas sim em ser esperto o bastante para saber se adaptar às situações com o mínimo de danos possíveis.
Pense assim: ajudar as pessoas é muito bom (ainda mais sendo sangue do seu sangue), ouvi-las também, porém, só até certo ponto. Se depois de ter feito a sua parte, você ver que a pessoa não está aprendendo nada e isso só está te machucando, é necessário deixá-la andar um pouco sozinha – exatamente como você fez. Só que sem cara de bunda, nem rancores.
Nunca se esforce além do seu limite, porém, lembre-se que se distanciar de certos problemas não precisa significar se distanciar da pessoa. Até porque depressão é coisa séria e se acontecesse algo com ela, você não se perdoaria depois.
Nisso seria legal pensar: “não preciso ignorar minha mãe no sentido do “tô de mal e vaza da minha frente”, só que também não preciso me foder tanto. Vou conversar, tratá-la bem, porém, quando ver que o assunto não está me agradando (que posso me arrepender depois, etc), ou que não vai dar a lugar nenhum, simplesmente mudo de assunto – para algum leve, do dia a dia mesmo ou simplesmente invento uma desculpa e saio do lugar com cara de paisagem. Tudo pra não dar corda para alguém se enforcar.”
Por exemplo, quando ela te chamar pra acobertar uma traição, você a trata bem, só que não vai, entende? Se ela estiver se lamentando, você dá os seus 5 minutos (lembra da teoria?), porém, se demorar demais, fala que vai fazer um suco para as duas e que já já volta. Isso inevitavelmente “quebrará o clima negro”, ainda mais que na volta você pode fingir que se esqueceu do assunto e simplesmente começar outro, rs. Ao fazer assim, você estará dando atenção, porém, sua mãe verá que não está fazendo sucesso com certas atitudes.
Pense também que você não precisa entrar na deprê para ajudá-la, mas sim passar um pouco da sua força e alegria pra ela. E aí no dia em que ela finalmente conseguir conversar sobre coisas que não “ofendem as suas limitações”, você será a primeira a dar toda a atenção do mundo, e até mesmo elogiá-la por isso (discretamente, até porque mãe odeia ouvir lição de moral de filho kkkkkkk).
Com o tempo, ambas pegarão o jeito e ambas sairão ganhando, basta entender que nenhuma das duas são perfeitas, mas que dá pra estabelecer limites. Ainda que pareça um pouco forçado no começo, depois que vocês se acostumarem, não irão querer voltar aos velhos hábitos.
PS: Se der, imprima ou mande para ela o link com dicas para aliviar a melancolia e a depressão.
Até mais!