Se não é amor entre mãe e filho, nenhum amor é conquistado de graça.
Obs: Esse texto fala fundamentalmente da beleza e demais características exteriores, que em menor ou maior grau, todos nós exigimos. Não importa se o seu padrão de beleza é o Tony Ramos ou o Brad Pitt: todos nós nos atraímos por um componente fútil e bonito aos nossos olhos (não necessariamente aos olhos dos outros) que nos faz suspirar.
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Já faz algum tempo que vemos vídeos de mulheres gostosas na internet sendo zoadas porque quiseram um homem apenas depois de saber que ele tem um carrão, enquanto que ao mesmo tempo ninguém ironiza esse mesmo homem por ter merecido se ferrar ao ter escolhido uma mulher pela bunda. Essa lógica seria que nem aquela frase que roda a internet e que diz “quem escolhe mulher pela bunda, merece ter um relacionamento de merda”. No fim, de futilidade para futilidade, os dois definitivamente não estavam santificados e o que houve não foi nada mais do que a moeda de troca “minha beleza, pelo seu dinheiro”. Em briga de cachorro grande – ou seria cachorrão e cachorrona – existe mesmo um coitadinho?
Tem gente que tenta alegar que o interesse pelo dinheiro é “mais feio” do que o interesse pela beleza. Não acredito que seja verdade, até porque, quando se trata de futilidades, cada um que coloque o seu preço e “compre quem quiser”. Assim, se o homem quer uma gostosa, e a mulher quer um homem rico, cabe aos dois que, figurativamente falando, são compradores e vendedores, decidir se a troca vale ou não a pena. Sei que a beleza tem prazo de validade, mas se o interessado punhetão for inteligente, ele faz as suas regras, bem como a interessada biscatinha também pode estabelecer que rico muquirana é pior do que pobre: se for para mostrar a Ferrari, tem que tirar o escorpião do bolso também, porque olhar o carro bonito por si só não compra Louis Vuitton, nem viagens caríssimas. Nessas horas, saber que o homem é rico e não poder gastar o dinheiro dele daria no mesmo – ou até pior – do que namorar um pobre, visto que se o pobre for mão aberta ele já fica melhor do que o “rico muquirana tira onda” que acha que papo preenche desejos sólidos de biscate. Agora, tentar medir quem é mais fútil, o homem ou a mulher, isso é bobagem.
Se dizem que é do instinto de muitos homens gostar de beleza, por que não seria do instinto de muitas mulheres gostar de conforto? De acordo com a teoria da “boa mãe bisca”, esse conforto iria para os filhos dela, e lá vai fundamento que inevitavelmente necessitaria do dinheiro para acontecer – o que inevitavelmente desembocaria no homem rico como espécie atrativa. Alguém pode dizer “se quer dinheiro, que vá trabalhar!”. Mas esse seria um pensamento um tanto quanto ingênuo: quem gosta mesmo das verdinhas, sabe que encher o porquinho nunca tem limites. Assim, ela a bisca pode muito bem ser rica e trabalhadeira e mesmo assim querer um homem comprador tira-onda rico: se o gosto é dela, é ela quem escolhe o seu perfil ideal e reza para ser correspondida, e é claro que o contrário também vale para os homens. Essa é uma realidade triste e chocante, mas como diriam os franceses: c`est la vie.
Seria esse acontecido certo ou errado? Eu não sei, só sei que adoraria saber que as pessoas têm interesse em mim. É claro que eu choquei contando um caso extremo sobre o cúmulo do cúmulo da futilidade, porém, saindo desse caso exagerado da mulher gostosa, que é superficial e limitado demais e indo para adjetivos que vão além de ter um belo corpo: quem é que não gostaria de ter o máximo de qualidades possíveis que causam admiração e, chore: que inevitavelmente e você querendo ou não, acabam desembocando no interesse? Ser lindo(a), gostoso(a), inteligente, engraçado(a), ter um bom trabalho, ser um bom companheiro daqueles que todo mundo quer saber a sua opinião, e quem sabe ser rico(a)? Em uma sociedade hipócrita, parece “feio” e egocêntrico falar assim, mas a verdade é que a esmagadora maioria da população deseja isso. É evidente que esse não é o caminho total para a felicidade, mas que aumenta a autoestima e facilita a vida de muita gente que souber administrar, isso é fato. Se você fosse hippie ou daqueles estudiosos que conseguem o equilíbrio e a felicidade interna, você realmente não desejaria isso, mas aí você entra na exceção que definitivamente não é o tema central desse texto.
Se é o que muita gente deseja – e mesmo que inconscientemente faz isso para ser aceito e amado – qual é o problema em ser desejado a começar pelos detalhes fúteis? Será porque o seu pensamento hipócrita age como se só você pudesse ter interesses? Se é que você tem cacife para admitir que também é interesseiro. Ouso a dizer que o amor começa pela observação e pelo interesse, não pelo coração. Nem que seja pelo interesse masoquista em só notar quem te esnoba. Se precisamos de alguma motivação externa para sentir e conquistarmos um primeiro olhar, e se ninguém se apaixona pela pessoa “menos atraente do mundo por caridade”, qual é o problema em usar esses detalhes para, quem sabe com o tempo, conquistar algo maior? Infelizmente a conquista não é muito diferente da escolha do nosso doce favorito: primeiro ele chama os nossos olhos, depois a gente come e sente se ele vai ou não para o coração. Quem não tem interesse é cachorro, e se você está lendo isso, definitivamente você não é um canino.
Naturalmente que existem pessoas mais fúteis e outras menos fúteis do que as outras, mas no fim, são todas fúteis e elas só mudam as preferências. Tem gente que gosta de status, de dinheiro, outros que gostam de gente bonita. Tem gente que gosta de tudo isso e mais um pouco. E qual é o problema? Nenhum, desde que você tenha como retribuir isso. Sem ser grosseira, mas já sendo, vamos para a realidade: tem gente que já não é uma pessoa muito inteligente e nem muito agradável. Para acrescentar ainda é feia, chata, pobre, e não raramente ainda escolhe as pessoas mais tops do mundo para se apaixonar, o que a meu ver só comprova que a futilidade pode ser um primeiro estímulo para o coração. O triste é que esse ser que ama e que não tem muitas qualidades costuma levar fora atrás de fora por não ter tantas características positivas que valham o coração do ser amado. Como é de se esperar, não raramente esse é o tipo de gente que acaba falando mal do mundo, falando que todo mundo é fútil, só liga para dinheiro, aparência, mas bem que ele está sempre lá, desejando uma pessoa que tenha muito disso e que nem o olha. Será que você não está jogando ovos no seu próprio espelho e só está tão indignado por não ter o que você quer ao seu alcance?
É ironicamente aí que muita gente que se sente vítima de interesseiros deveria fazer uma espécie de agradecimento. Oras, se você desperta esse olhar,é porque você conquistou muita coisa nessa vida, e aí, cabe a você saber administrar e diferenciar as pessoas que gostam de você única e exclusivamente por causa das suas qualidades, das pessoas que, ainda que à primeira vista gostaram da pessoa que você se tornou, aprenderam a gostar de você de verdade e agora são capazes de formar um vínculo de parceria contigo na qual ambos terão os seus benefícios. Daí quem sabe não vira amor, visto que, querendo ou não, este tem por base a admiração do ser amado?
Se eu estivesse interessada em alguém, ficaria extremamente feliz caso a pessoa tivesse um interesse em mim que pudesse compensar o interesse que eu tenho por ela. Muita gente gosta de distanciar o interesse do amor, como se eles fossem lados opostos da mesma moeda, enquanto na verdade eles são quase que um mesmo lado. Você pode se revoltar, mas a verdade é uma só: mesmo para quem acredita em amor à primeira vista, a manutenção dele, bem como a sua durabilidade, só ocorre a partir de interesses primeiros, que com o tempo vão te aproximando da essência da pessoa amada. Primeiro você olha o externo, nem que seja o sorriso, as roupas, ou um belo olhar; só depois você se aproxima da alma. E não adianta falar que você só liga para papo e inteligência, porque se fosse apenas isso o seu melhor amigo não estaria encalhado.
Isso me lembrou a lógica de adotar um cão: a maioria das pessoas, mesmo as que se dizem super desapegadas, preferem os cães de raça e inclusive pagam caro por eles; e mesmo as que adoram um vira-lata, os adoram por algum motivo. Primeiro você tem motivos para gostar, mas só depois vêm os motivos para amar. Tá certo que muitas pessoas adotam um cão – ainda mais se ele morar nas ruas – ou começam um relacionamento entre homem e mulher por pena, carência ou caridade, mas convenhamos: nem pena, nem carência, nem caridade é amor. Amor a gente só sente depois de um tempo, depois que houve uma parceria carregada de oportunidades para lutar por objetivos em comum, vencer tristezas e então perceber que a sua metade da laranja é tão atraente por dentro, quanto um dia você viu que ela é por fora. Lembrando que beleza não é apenas o gato ou a gata da capa de revista, mas sim aquilo que você tem como padrão pessoal e que faz com que o seu coração deseje tenha interesse por aquela pessoa. A sua concepção de beleza também não precisa vir de um rosto, um peito ou de uma bunda padrão televisão, mas sim daquele componente atrativo que te faz pensar: é essa pessoa que eu quero ter para mim.