Leitora: Olá. Tenho 31 anos e sou casada há doze anos. Aconteceu que depois de onze anos de casada, num exame completo que meu esposo fez, descobriu que é portador do vírus HIV. Foi uma descoberta que mudou completamente minha vida, pois ele foi e é até o momento o meu único parceiro. Fiz o exame também por duas vezes e o resultado foi negativo. Acontece que não sei como explicar, mas não porque eu pense que ele me traiu ou algo assim, pois ele teve uma adolescência de muitas aventuras e eu estava ciente disso quando me casei, mas acontece que eu não consigo mais transar com ele de forma alguma. Travei mesmo e não sei se é porque o choque foi muito grande, só sei que eu preciso resolver isso, mas não sei como. Gostaria muito de um conselho.
Ainda bem que, apesar do grandíssimo risco, felizmente você não contraiu a doença! Porém, se tivesse contraído você seria a prova viva de que, ao contrário do que muita gente diz, uma pessoa que tem HIV nem sempre transou com geral e é promíscua. Assim, é plenamente possível que uma pessoa que, tal como você, até então era virgem contraia uma doença dessas. Para correr o risco basta que o seu parceiro esteja infectado e fico muito feliz que você teve a sorte de ter escapado do contágio.
Se o seu marido te traiu ou não, realmente não dá para saber, até porque, como sabemos, o vírus HIV pode demorar mais do que décadas para se manifestar (= virar AIDS) e, para descobrir esse vírus antes dele desencadear a doença, é só fazendo o exame mesmo. Ou seja, desde que o indivíduo não manifeste a AIDS e fique apenas com o vírus HIV no corpo, ele pode até morrer sem descobrir ser portador a depender de há quantas andam o sistema imunológico e a carga viral dele (se está alta ou não). Sem contar que tem gente que mesmo com AIDS nem desconfia que tem essa doença devido ao fato de muitas vezes ela se confundir com outras moléstias. Resumindo, apenas o exame de sangue é capaz de detectar com precisão se alguém é portador – ou não – do vírus antes mesmo da manifestação doença, e se o seu marido só fez o exame depois de mais de uma década de casado, só se ele te contar sobre a vida sexual dele para saber quando e onde ele pode ter se contaminado.
De qualquer forma, traindo ou não, infelizmente ele já entrou para o grupo das pessoas que sofrem com essa doença e se você quiser continuar com ele, terá que superar isso ou ficar sem sexo para o resto da vida, o que não acredito ser a intenção de vocês. Se você pesquisar um pouco sobre o vírus em sites confiáveis, verá que ele pode ser contraído através de sexo sem proteção (incluindo o sexo oral), compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos cortantes, de mãe para filho e outras alternativas que vale a pena você pesquisar mais. Porém, é claro que essas são atitudes de risco, o que não quer dizer que quem praticar alguma delas garantidamente contrairá a doença, tanto é que você mesma não contraiu! Se considere uma pessoa de sorte, porém, já que sabemos que com a sorte não se brinca, então, agora que você descobriu, tome todas as precauções cabíveis.
Fora pesquisar sobre o tema na internet e em livros confiáveis, aconselho que você marque uma consulta com um infectologista a fim de tirar todas as suas dúvidas, confirmar dados que você leu, etc. Um outro profissional que vale a pena conversar é com um psicólogo e demais profissionais que tenham experiência com pacientes com HIV. Sei que o governo disponibiliza tratamento gratuito para quem sofre da doença, bem como ajuda pscicológica, só não sei até que ponto essa mesma ajuda (psicológica) é aberta aos parceiros do paciente. De qualquer forma, caso não dê para falar com os médicos que atendem o seu marido, nada impede de você marcar uma consulta pelo próprio SUS em caso de você não ter plano de saúde. O mais importante nesse momento é você se informar e ter muito claro na sua cabeça como se transmite ou não a doença. Como você parece ser um pouco desconfiada, procure por si mesma e confirme todas as informações. Afinal de contas, é a sua saúde que está em jogo, né?
Depois que você souber que, desde que você se cuide, a chance de você contrair a doença do seu marido é ínfima (ainda que sempre exista, pois não existe nada 100% na vida), tenho certeza que esse seu medo diminuirá consideravelmente. Sem contar que tudo ainda é muito novo para você, que ainda está processando informações sobre algo que ao que tudo indica você nunca imaginaria que fosse acontecer contigo. Tente também saber sobre a carga viral dele, pois se ela estiver baixa as chances dele passar a doença são ainda menores – o que não quer dizer inexistentes -, mas já é bem melhor do que ser alta. Saber se o vírus HIV já evoluiu para Aids também é importante.
Um último conselho: no fundo você sabe que tudo vai depender do amor que você sente por ele, porém, sugiro que mesmo que você não o ame a ponto de correr o risco – independente de ser grande ou pequeno – de contrair a doença ao se relacionar sexualmente com ele, o ajude pelo menos como amiga, mesmo separada sexualmente dele. Independente de ama-lo ou não, você pode optar por não transar com ele (nem que seja até você se recuperar do “baque”), até porque esse é um direito seu. Em caso de você optar por isso, ser amiga e dar força ainda vale, né? Eu pelo menos adoraria um ombro amigo se estivesse na posição dele.
Boa sorte!