Quem lê esse blog sabe que eu não sou e nunca serei a favor da traição, porém, temos que ser realistas em afirmar que ela tem sido cada vez mais rotineira. Sendo assim, quando contar (ou não) que você pulou a cerca para dançar na grama do vizinho?
Antes de começar o texto de fato, gostaria de listar alguns motivos para NÃO trair e que servirão de motivação para as pessoas que nunca traíram continuem assim, para as que estão pensando em trair mudem de ideia e para as que já fizeram a caca não cometam o erro novamente. Aqui vai a lista:
– Não vale o peso na consciência que você sentirá depois. Isso para os que tem consciência, claro!
– Você tendo ou não consciência, se você for descoberto você sentirá uma vergonha gigantesca. Ou será que quem é pego no flagra não se sente no mínimo constrangido e ridículo por estar fazendo coisa errada achando que ninguém iria descobrir?
Obs: Infelizmente, a grande maioria das pessoas só se arrepende depois de serem pegas com a mão na massa. Evite um constrangimento desnecessário e não seja mais uma delas!
– A propósito: Você pode até não acreditar, mas, ao serem descobertos, a grande maioria dos traidores sofre um monte, muitas vezes até mais do que quem foi traído. Isso acontece porque a vergonha e a dor da perda costuma pesar mais em quem tá devendo do que em quem não deve nada e ficou de santo da história (ou seja, o traído). É claro que ambos sofrem, mas o devedor costuma sofrer por mais tempo por ter na cabeça que ele simplesmente poderia ter agido diferente e que se ele nunca tivesse feito a besteira, não estaria passando por maus bocados que não valeram o corpinho nu do(a) amante.
– Se você tem a sua convicção e moralidade pessoal que diz que o respeito e a fidelidade tem que vir acima de tudo, está aí mais um motivo para você ficar quieto no seu buraco e não ir olhar o jardim alheio. Boa moral e bons costumes não servem só para ficar esfregando na cara dos outros, servem para você usar também!
– Tesão e vontade podem acontecer, mas você sabe: um tesão de momento definitivamente não vale um relacionamento para a vida inteira, tampouco justifica a quebra de um “contrato monogâmico”. Se o contrato não é monogâmico, esse texto não é para você!
Por fim….
A partir do momento em que você decidiu ter uma vida a dois, você soube que você teria coisas a ganhar e a “perder” com isso. Ou seja, você soube que não são só os seus desejos e vontades que importariam, mas também o bem estar comum do casal que você passou a ter que zelar, não por obrigação, mas por respeito e por você esperar o mesmo respeito do outro. Afinal de contas, “combinado não sai caro”.
E aí que você não se aguentou ou não pensou direito e botou o pé na jaca….
Listados os motivos para NÃO trair, sabemos que nem todo mundo tem autocontrole, maturidade, caráter, ou então bom senso o suficiente para não cair na tentação. Ainda que seja bonito pregar pela fidelidade até o talo, coisa que por sinal eu sou adepta, não vivemos em um mundo cor de rosa em que todo mundo age conforme os bons costumes sugerem. Contar ou não sobre uma traição envolve muito mais do que discursos que pregam que o traidor tem que assumir o próprio erro e contar tudo: envolve todo o contexto de um relacionamento sério.
Vou contar uma história real sobre traição de um homem, mas que a moral serve para todo mundo:
Quando ainda nem morava em Curitiba, uma vez uma amiga chegou assustada para me contar que o seu irmão, que também era seu grande amigo e até então era uma pessoa fiel e de valores inquestionáveis, tinha traído a esposa depois de alguns anos de casamento. De acordo com essa amiga, ele tinha conhecido uma mulher, não se aguentou e transou com ela. Enquanto narrava os fatos, ele disse o que grande parte dos homens costuma dizer quando trai: “Foi só sexo, carne, não tivemos nenhum tipo de envolvimento emocional!!”.
Depois que a m**** estava feita, ele disse que se arrependeu, de verdade mesmo. O arrependimento teve direito a buraco negro no coração, questionamentos da sua própria índole (“Como eu pude ter sido tão frio e burro?), peso extremo na consciência e muita lamentação pela merda que fez. “Por que eu fiz isso?”, “Eu não deveria ter feito isso com a minha esposa!”. Detalhe, na época eles tinham acabado de ter um filhinho pequeno, a coisa mais linda do mundo. Apesar de ter sido um traidor, ele entrou em uma crise tão intensa que resolveu ir até a esposa contar o que tinha feito. Não, ela não precisou descobrir. Ele foi até ela com os próprios pés, e contou a verdade com a própria boca. […] Ela não perdoou, não quis conversa e eles estão separados até hoje.
Fim de história e muitos vão pensar: “Quem trai deve no mínimo contar da merda que fez, sendo assim, ele não fez mais do que a obrigação!”, “Ai, agora esse traíra ficou de coitadinho, isso se trata de uma inversão de valores!”. Não é nada disso minha gente….
Nessa mesma época eu e essa minha amiga, que pelo o que eu saiba também não é a favor da traição, conversamos sobre alguns tópicos interessantes:
Ela: Ele a amava muito, estava muito arrependido e disposto a nunca mais cometer o mesmo erro. Só que ela não perdoou.
Eu: Pois é, ele errou e eu no lugar dela também acho que não perdoaria uma traição. Já pensou ficar com isso na cabeça para sempre com medo de ele repetir de novo? Isso seria um inferno!
Conversamos um pouco mais do que isso e chegamos a algumas conclusões: tal como a mulher do homem em questão, provavelmente nós também não o perdoaríamos, até porque, se somos fiéis, nada mais justo do que cobrar o mesmo. Porém, também pensamos: se ele realmente se arrependeu, se ele realmente está disposto a nunca mais cometer o mesmo erro, nunca mais trair, e se mais do que isso, ele sentiu na pele que trair não vale a pena e não vale o tesão, por que é que ele contou? A resposta parece evidente: da parte dele, foi por achar que era o certo a se fazer e também pelo excesso de culpa, claro. Porém, da nossa parte chegamos à conclusão de que, nesse caso, se ele não contasse, obviamente estaria todo mundo feliz até hoje: papai, mamãe e filhinho e o papai juraria nunca mais fazer isso com a mamãe. Só que a promessa seria em off para ele mesmo. Seria isso tapar o sol com a peneira?
Acredito que a maior parte das pessoas não perdoa uma traição porque não sabe se o outro realmente não repetiria mais o mesmo erro, e se sentem inseguros duvidando até mesmo do amor que o outro dizia sentir por elas, até porque, temos estabelecido quase que culturalmente que “quem ama não trai”. Porém, se ele tinha no coração dele que o amor e o arrependimento dele eram de verdade, será que se ele não contasse ele seria um crápula mentiroso? Um frio? Um dissimulado que trai e ainda consegue voltar a dormir na mesma cama que ela sem abrir a boca?
Teoricamente eu poderia julgá-lo mal por isso porque eu nunca traí, mas não consigo fazer isso sabe por quê? Por que eu sou boazinha e candidata à santidade de 2014? É claro que não, até porque nenhum de nos somos 100% bonzinhos. Porém, tento ser realista o bastante a ponto de saber que infelizmente o outro nem sempre trabalha na mesma lógica que a gente e que nem todo mundo que erra deixa de merecer uma segunda chance por isso. Eu diria que o burro erra duas vezes, mas se você erra só uma, pode ser aprendizado. É claro que o certo é nunca errar, porém, quem nunca errou? Julgamos os outros como se o nosso telhado não fosse de vidro, mas é.
Acredito que traição é e sempre será horrível: porque dói, porque te faz sentir um lixo, porque te faz perder a confiança, porque te faz ficar neurótico e se sentindo pouco amado. Por essas e por outras razões que já citei no início desse texto, no final das contas, nunca vale a pena trair. Porém, para quem já fez , se arrependeu de verdade, e pretende de coração nunca mais repetir o mesmo erro, fica a eterna dúvida: será que vale a pena contar para um parceiro que, com toda razão, depois de saber o que você fez não teria mais motivos para acreditar em você? Teria valor uma promessa secreta feita de coração do traidor para ele mesmo e que diz que isso nunca mais se repetirá? Afinal de contas, o que mais vale: o sincero que nem sempre muda de fato e apenas conta o que fez ou o omisso que se pune e muda de fato? É certo que o melhor seria o sincero que já é naturalmente mudado para o bem, mas os seres perfeitos nessa área definitivamente não são temas nesse texto e por isso não entram em comparação.
Ainda que a sinceridade seja tida como uma das atitudes mais nobres do mundo, querendo ou não o amor e a vontade de ser feliz ainda estão acima dela. Esse texto não é uma apologia a traição, muito pelo contrário. Esse artigo é tão somente um chamado para a reflexão: até que ponto a verdade é melhor não só para você mesmo, mas para a pessoa que você ama? Você seria capaz de responder isso sem nenhuma falsa moral e hipocrisia social que pregam teorias que nem sempre são aplicáveis ao seu caso na prática?
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