Há uma grande diferença do meu problema para o problema dos outros. O meu problema eu tenho a obrigação de resolver, e o problema dos outros eu tenho a obrigação de não tomá-los para mim.
Em princípio isto pode parecer bem óbvio, mas a experiência mostra que nem todo mundo separa as coisas desta forma.
Gosto de dar exemplos não só para fixar o que eu digo, mas também para mostrar que não estou inventando nada. Suponhamos que você está atrasado para chegar ao aeroporto. Chama um táxi e fala com o motorista:
– Anda rápido porque estou atrasado!
Traduzindo até aqui: Você tem um problema, está atrasado. Este é o seu problema. Aí informa ao motorista do táxi do seu problema. Se o motorista assumir o seu problema como dele, irá desrespeitar as leis de trânsito para andar mais rápido que o normal. Então vai correr o risco de ser multado e até de se envolver em algum acidente. Ou seja, o motorista assumiu o seu problema e arcou com as consequências. O correto é o motorista ser ágil, sem desrespeitar as leis de trânsito e nem agir com imprudência para não se colocar em risco.
Mas o que mais vejo são pessoas sofrendo por causa de problemas dos outros, isto porque assumiram problemas de outras pessoas, e não conseguem resolver.
O problema dos outros é feito sob medida para as forças e capacidade dos outros. Não adianta outra pessoa assumir tal problema porque não vai conseguir resolvê-lo. Consegue, no máximo, ajudar, mas resolver não!
Um outro exemplo é de uma pessoa que me procurou e relatou uma penca de problemas:
– Meu pai está doente e não quer tomar remédios, meu irmão está desempregado e não quer procurar emprego, etc, etc, etc…
O curioso é que ela foi relatando problemas relacionados a outras pessoas. Eu ouvi tudo e quando tive oportunidade de falar, disse:
– Você me falou de problemas de um monte de gente. Mas e os seus problemas? Quais são os seus problemas mesmo?
A ficha dela caiu e ela pegou minha linha de raciocínio. Saiu aliviada e me agradeceu por ter tirado os problemas dos ombros dela (mas juro que eu não fiz isto! rsrs). Claro que eu disse a ela que não deveria ignorar nenhum problema alheio, apenas não tomar a responsabilidade da solução.
Quando assumimos o problema dos outros, não assumimos as condições ideais para resolvê-lo. Então iremos depender de atitudes do verdadeiro dono do problema. E se este não quer agir, o problema fica sem solução. Com isto, iremos ficar frustrados por não conseguirmos resolver um problema que não é nosso (???). Isto não me parece justo, mas infelizmente é o que mais acontece.
Obviamente, mudar não é algo simples de ser feito. Tudo requer treino. Sair da inércia e adquirir a “velocidade de cruzeiro” precisa de uma força de impulsão.
É claro que corta o coração ver alguém sofrendo por causa de um problema. Mas assumir a responsabilidade não vai ser bom pra ninguém. Problemas existem para aprendermos a resolvê-los, isto é o que compõe a nossa personalidade. Se alguém sempre vem e assume os nossos problemas, é sinal que nunca aprenderemos a caminhar com nossas próprias pernas.
Podemos (e realmente devemos) nos colocar numa posição de ajudar. Podemos nos desdobrar para ver o outro feliz, mas devemos fazer isto sem assumir a responsabilidade do problema.