Nesse texto pretendo falar um pouco sobre amor, comodismo e um ciclo que leva às tentações…
Relacionamento de anos, perda da paixão para a instalação do amor, aquele sentimento tranquilo que, por mais irônico e sem sentido que possa parecer, muita gente confunde com o tédio. No amor, não tem mais aquele alvoroço no coração, nem aquele frio na barriga com medo de você ainda não ter conquistado aquele ser que te acompanha dia após dia: inconscientemente ou não, agora você se sente como se ele já fosse seu, garantido e conquistado. Já quando vocês estavam no clima da paixão era diferente: você vivia em uma luta diária que, apesar do desconforto, te fazia se sentir vivo, te fazia se colocar o tempo inteiro à prova para ver se (ainda) era capaz de seduzir.
Há inclusive quem diga que os sintomas da paixão podem ser comparados com o vício em uma droga: você só pensa naquilo, e quando não tem, sente uma falta, um vazio terrível, que pesquisas recentes já compararam os sintomas aos da abstinência.
Já o amor é paz total, que nos dias de hoje em que somos acostumados a viver sob pressão e constantes emoções, não raramente é tratado da pior forma possível: é a hora do conformismo total. É aquele momento em que nem sempre você raciocina de forma consciente, mas no fundo você pensa que já tem estabilidade no amor e por isso não precisa de maiores esforços.
Você diz (ou acha) que ama e é amado e isso parece ser motivo para deixar o sexo para amanhã, e várias outras coisas para amanhã, sempre “amanhã”: a sua preguiça – às vezem sem maldade, eu sei – te faz pensar que “se você já tem mesmo, você pode deixar tudo para outro dia”. Não é mais como quando você estava conquistando, que um passo em falso poderia acabar com todos os seus planos. “Sair para jantar e cuidar do meu corpo pra quê? Agora já estou arranjado (a), vamos pedir uma pizza e ficar por aqui em casa mesmo…”.
Ainda que muita gente afirme gostar do sabor do amor tranquilo, ele, em dosagens muito altas, se transforma em um veneno capaz de acabar com a sua relação. Quem é que nunca ouviu alguém reclamando que a esposa/marido anda desleixado (a)? Não tenta mais agradar como antigamente? Dorme demais e não faz mais tanto carinho? Como essa “tranquilidade em excesso ” é mal trabalhada por muita gente, rotineiramente ela é trocada pelas grandes emoções.
Quem ficou por muito tempo com alguém ao menos uma vez na vida sabe: com o passar dos anos, é raro aquele casal que não tem a frequência do sexo diminuída. Rotina vai, rotina vem, e do nada, em um dia que você menos espera e em um lugar que você nem costuma frequentar, aparece aquela pessoa que te fez tremer nas bases. Você liga todos os seus faróis, dá uma arrumada no cabelo e instintivamente fica querendo se aproximar. Você se olha e nem parece mais aquele ser acomodado, e mais, a pessoa que você agora admira nem é desleixada(o) ou rabugenta(o) como o seu parceiro: ela trás uma vista nova, e como tudo que é novo, sempre tem um mistério a mais. Tocar, quem sabe sentir um beijo ou algo mais quente. Não que você vá partir para a prática, mas foi o que sua imaginação desejou…
O problema é que essa pessoa não é sua namorada, nem esposo, nem marido, nem nada disso. Ela é “a outra”, que vira casinho, vira amante, ou você se esforça para conseguir sair dessa.
Como não sou a diabinha que sopra no seu ouvido e que te diz: “vai lá”, que nem os seu amigos da onça que dizem que “ninguém vai ver” (como se a consciência não bastasse), vou tentar te ajudar a fazer de tudo para não ir. Afinal de contas, mamãe já cansou de te ensinar que você não pode fazer com os outros o que você não gostaria que fizessem contigo. Então vamos levar esse lindo ensinamento para a prática, sem mais tantas teorias.
Afinal de contas, como sobreviver a uma tentação?!
Uma das coisas mais legais para te inspirar a sobreviver a uma tentação é que ela nunca dura muito tempo. Ou seja, se você sobreviver pelos primeiros minutos, você pode ganhar a corrida. É que nem raiva: você respira fundo umas 20 vezes que já passou. Sei que não é simples, mas é o que acontece…
Essa é a primeira coisa, o item base, que eu quero que você faça quando brotar aquele ser delicioso, que te faz ter uma vontade enorme de viver aquele momento às custas de dar um belo de um par de chifres em alguém que confia em você. Acha que inspirar e expirar o ar com calma umas 20 vezes não funciona? Já se percebe que você nunca tentou…
Esse “respirar fundo” não precisa ser literalmente ficar fazendo cenas de meditação na frente do outro: serve pedir para ir ao banheiro e espairecer por lá (aí você inspira e expira fundo e reza para ninguém ter feito o “número dois”). Enquanto isso, pense no óbvio que você não pensa quando está com a cabeça enfeitiçada pelo calor do momento: é só uma tentação, e desde quando tentação trás coisa boa? Aproveite também para se lembrar de quando você devora um pote de sorvete: só é gostoso nos minutos que você literalmente come aquilo, depois dá um arrependimento maior do que as gorduras que você adquiriu, e você chora por saber que pagará caro por isso (no caso da traição não serão mil horas na academia, será algo muito mais grave do que isso, seja com a sua consciência, ou com o chifrudo(a) que te descobrir).
Depois que você passou dessa, vamos para a outra etapa, que é a da conscientização, “do se preparar psicologicamente”. Quando você estiver com a tentação na sua frente, pense: “ela não vai morrer, eu não vou morrer, podemos esperar mais alguns dias”. Você dormirá, acordará, terá tempo para pensar e verá que, desde que essa pessoa não trabalhe contigo e nem você a veja todo santo dia, a tentação já terá aliviado consideravelmente. Se você for daquele tipo de gente politicamente correta (sem ironias, digo no bom sentido mesmo!), você ainda agradecerá muito por ter dormido e esperado o dia passar, porque sabe que se você tivesse ouvido os seus instintos, você estaria encrencado(a) a essas horas, estaria se martirizando e querendo morrer, seja porque você se veria na obrigação de contar a tragédia com sua própria boca, seja porque você teria que dormir todos os dias com isso. “Tudo nessa vida é difícil”, sei que resistir às tentações também não é fácil, mas você há de concordar que “raciocinar antes que as merdas aconteçam” é sempre a opção “menos difícil” de todas. Ou ao menos eu quero acreditar que você é uma pessoa inteligente e pensa assim.
E para começar do final, sempre que você perceber que uma pessoa te faz não responder por você mesmo, evite ficar dando papo demais, evite estreitar muito o contato ou qualquer outra coisa que te deixe a perigo, pelo simples fato de que você sabe que isso vai dar caca: é que nem ex-viciado em bebida que dorme com um Whisky embaixo da cama e que se ilude que vai olhar para aquilo todo santo dia e nunca beberá. Não adianta ficar de conversinha, ficar “fazendo amizade” e passando vontade se você sabe que nem vai – não pode – pegar. Se você quer amizade, vá procurar por alguém que não mele as suas calças. Rolou tesão? Caia fora. É que nem chocolate. Não quer comer? É só não ter em casa para não ter que ficar passando vontade.
Para finalizar, agora vem a parte boa, a parte do “eu sou foda!!!”: Depois que você tiver vencido a tentação, você irá morrer de orgulho de você mesmo. Terá orgulho do seu controle mental, do seu poder de decisão, e achará até que o seu caráter não é como “o do Zé povão da boiada”. Isso será um trato na autoestima e que consequentemente te ajudará a cobrar do outro as atitudes nobres que você pratica. É um laço de (auto)confiança e poder de (auto)reflexão que precisa ser conquistado diariamente, até porque, tal como foi dito algumas milhares de vezes nesse texto: nada é fácil, ainda mais se envolver alguma delicinha na sua frente =). O lado bom é que se fosse fácil não teria graça e nem motivo para ter orgulho de você mesmo, né?!
“Seja você a mudança que quer ver no mundo”, Mahatma Ghandi.