Por causa do meu trabalho, faz algum tempo que tiro dois dias da semana para ver programas populares da televisão brasileira. Nunca tinha escrito algo a respeito, mas pretendia fazer por achar que dá para tirar muitas lições para a vida real – até que uma leitora sugeriu e tirei a ideia do papel de vez.
Quantas vezes você já gostou de um homem que não está nem aí para você? Ou na melhor das hipóteses até gosta, mas é aquele gostar bem “inho”, que está na cara que ele só fica contigo porque foi escolhido, não porque te escolheu.
Clara é assim: sabe que está sobrando, mas mesmo assim se humilha e ainda fica feliz com o pouco que recebe. A pessoa é tão sem valor próprio, que age como se acreditasse que pior do que ser o resto, é ser esnobada e não ser comida nem por caridade – como aconteceu com a amiga Cora.
Nisso eu te pergunto: o que será que vale mais? Perder o jogo, ou se humilhar para tentar ganhá-lo sabendo que nunca o ganhará de fato? A noção da dignidade mínima grita que, mais triste do que ser colocada para escanteio, é saber que está sobrando e mesmo assim forçar a barra para ver se reverte um jogo que já começou perdido. Clarinha, a iludida forçona, diz:
“Sei que você gosta dela, mas fica comigo que te farei mudar de ideia”.
“Vamos tentar, eu sou paciente e gosto muito de você”.
Em loops eternos de atitudes e palavras que dizem “fica comigo pufavôôô!“, a sessão humilhation não tem fim. Você pega um cara que age na regra do “só tem tu vai tu mesmo” e ainda fica agradecida por ele ficar contigo. Afinal de contas, o pior de tudo é ficar sem ele, certo? Errado.
Não se humilhem Clarinhas do meu Brasil. Se o cara não te ama em maiúsculo, prefira a dor imediata do que a que vem em pequenas doses. Prefira chorar, chorar e chorar mais um pouco para depois passar e você enfim conseguir superar e partir para a próxima, do que ficar cutucando uma ferida eterna, que nunca dói por inteiro por você ainda ter as migalhas da presença dele, mas que também nunca se cura pelo simples fato de você acordar todos os dias sabendo que ele está contigo, mas não é seu. Quem já enfrentou a morte de um ente querido entende o que quero dizer: se você não visualizar o caixão e o fim fatídico, fica bem mais difícil acreditar que você perdeu alguém que amava e que deve viver apesar disso.
Ficar em um relacionamento desses é como nadar muito para depois morrer na praia: você passa uma vida tentando fazê-lo gostar de você o tanto que você gosta dele, mas, mais cedo ou mais tarde, acaba tendo que pagar por uma conta absurda, com juros, correção monetária e mais tudo aquilo que você cavou nesses anos do famoso levar com a barriga. Nisso chegará um dia em que ele te trocará por outra, ou terá coragem em assumir que é melhor ficar sozinho do que contigo. E aí, você vai fazer o quê? Lembrando que isso não acontecerá porque ele é cruel, mas sim porque finalmente se deu conta (por você e por ele) de que ambos estavam à procura de algo que nunca existiu: a possibilidade de se amarem em uma intensidade e em uma reciprocidade que nunca seria possível.
Aprenda minha amiga, se a fagulha da paixão não acontecer desde cedo, não será depois dos anos que ela acontecerá. O amor é ou não é. E infelizmente ele nunca será o que a caridade ou a boa intenção querem. Porém, se mesmo depois de tantos fatos você quiser insistir e eu puder te dar o final mais otimista possível, posso dizer que no máximo você conseguirá o amor de um amigo que te acha uma boa companhia, ou tentando melhorar ainda mais a minha hipótese, que se esforça para valorizar o fato de você gostar dele. O problema é que a carência e a falta de opção do mocinho nunca o farão gostar de verdade de você. Só que ele finge se esquecer disso… e você também.
Desista enquanto há tempo minha amiga: você não pode dar jeito nos Vicentes do mundo, mas com certeza consegue deixar de ser uma Clara.