Leitor: Olá, tenho 20 anos. Sou gay, não assumido, e namorei um garoto de 15 também não assumido (é.. eu sei, a idade). Tivemos um namoro maravilhoso por 6 meses, mas no último mês, a mãe dele nos pegou juntos (se pegando mesmo), e proibiu a gente de se ver, dizendo que “não aceitava filho gay”. Namoramos escondido por mais 2 meses, nos vendo poucas vezes no mês, e depois desse tempo ele disse que não aguentava mais, que tinha que terminar. Terminamos “numa boa”, mas não consigo esquecê-lo.
Oito meses se passaram e ainda nos falamos pelo menos 2 vezes por semana, por skype e aplicativos e estamos ficando com outras pessoas, tanto eu quanto ele, mas ainda não conseguimos “desgrudar” sabe? Temos muitos assuntos em comum e moramos a dois quarteirões um do outro. Ele diz que ainda gosta de mim, que tentou muito manter o relacionamento, mas que se sente culpado quando me vê e tem medo da mãe dele. Sei que é tudo muito confuso pra ele pela idade (gente, 15 anos!). Mas preciso saber se devo tentar esquecer de vez ou se existe alguma chance de mais pra frente voltarmos, já que o fim do namoro foi meio que “forçado”.
Aguardarei ansiosamente pelas dicas dos comentaristas, inclusive do Rodrigo e do Denilson! Porém, vou dar meus pitacos também!! rs.
Você disse:
“Ele diz que ainda gosta de mim, que tentou muito manter o relacionamento, mas que se sente culpado quando me vê e tem medo da mãe dele.“
Era exatamente isso que ia dizer! O menino gosta de você, só que o trauma por ter sido pego pela mãe + a chance de não ser aceito por ela + a pouca idade realmente se tornam uma bomba na cabeça de alguém que, “pra piorar a situação”, também não sabe muito como se assumir, né?
No momento, mais do que um namorado, ele precisa de um amigo. De preferência que tenha passado pelo mesmo que ele, que tenha paciência + a coragem para inspirá-lo em um caso de superação: ou seja, você (só que para isso você precisa aprender a se assumir também, né?)!! Ele precisa de alguém que o explique que, se ele não virará hétero caso se esconda no armário ou ore muito e nem será aprovado 100% pela mãe, nem por ninguém no mundo – tal como todos nós, só resta ser feliz! E o melhor: tão feliz quanto qualquer outro hétero, trans ou assexuado desse mundão afora! Diga que também entende que, querendo ou não, família é família e ninguém quer decepcionar. Porém, que ele não decepcionará ninguém, mas sim será feliz e de quebra ainda terá o privilégio de mostrar aos pais outra forma igualmente legal de viver. É como diz meu pai: nada como os filhos para nos abrirmos e nos despirmos dos preconceitos, né? E falando em família, se seus pais forem mente aberta, fica outra dica pra ver se eles não podem bater um papo com os pais do garoto e ver se assim causam uma maior “identificação entre os mais velhos”.
Apesar de ser meio óbvio, é sempre bom ressaltar que, muito provavelmente, se os pais dele ainda não entendem/aceitam, não é por maldade ou por falta de amor, mas sim por ignorância, criação religiosa, ou qualquer outro fator que caberá a ele explicar que existe e que dá pra ser feliz – nem tenha que peitá-los um pouco, né? Não no mau sentido, na grosseria ou no barraco, mas sim porque ele simplesmente não tem saída, caso queira viver uma vida “livre e sem máscaras”. Sem contar que, se vivemos em um país que luta cada vez mais contra o preconceito, é muito melhor que ele faça parte dessa luta do que simplesmente desista. E, ainda que não seja proposital, se torne “tão preconceituoso” quanto quem não o aceita ao se esconder de tudo e de todos, né?
Ele precisa se lembrar do óbvio de que, independente de vocês ficarem juntos ou não (até porque concordo que o menino é muito novo pra você), chegará um dia em que ele terá que assumir um homem – e que todos (inclusive ele!) esperam que isso não aconteça aos 60 anos de idade, rs! E nisso entra outra pessoa que será tão importante e necessária quanto você: um psicólogo! Inclusive para os pais dele. E se os pais não quiserem no momento, tenho certeza que, ele fazendo e vivendo bem consigo mesmo, será questão de tempo para os pais fazerem o mesmo a fim de chegarem na mesma conclusão. Afinal de contas, a gente espera que o amor seja maior do que qualquer outra coisa, ainda mais se tratando de família, certo?
E sabe o que é pior, ou melhor (sei lá? kkk): é que a mãe dele no fundo sabe que essa conversa acabará existindo. Ou seja, que não tem como o filho deixar de ser gay: nem se ele quisesse ser hétero! Então muito provavelmente, tudo que a família precisa é apenas de um tempo para digerir o óbvio. Sem contar que, se tudo tem o lado bom, o fato dela ter visto já faz com que o lance automaticamente não possa ser desvisto, rsrs. Ou seja, ELE JÁ CONTOU! ELA JÁ SABE! “Ufa e o pior já passou!“. Ou seja, agora é só conversar sobre os detalhes e se abraçar =)
Por fim, assistam a vídeos emocionantes de gays que se assumiram pra família na Internet: quem sabe isso os inspira de alguma forma? Isso se ele mesmo não topar enviar pra mamis!
Se ele for tímido, às vezes esse vídeo que fiz com dicas para superar a timidez possa ajudar também!
Boa sorte
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Aproveito para pedir um texto colaborativo vindo de um gay e que sempre quis: Dicas motivacionais para um gay que quer se assumir, porém tem medo! Se for um relato pessoal contando como foi se assumir pra família, ajudará muito também =)