Perdi meu “bv” há precisamente 6 anos. Ou melhor, aos 15 anos e isso era esperar demais. Sempre fui do tipo de garota que gostava de esperar o momento certo, só que meu tempo sempre foi diferente. Eu praticava Artes Marciais e era a única menina da academia. Minhas únicas preocupações até aquele momento sempre foram escola e esportes, mais nada. Não esperava me apaixonar e saber o que era amar alguém tão cedo na minha vida. Mas quando é pra ser, não tem jeito…
Apaixonei-me por ele quando eu tinha 14, e foi bem estilo filme, bem mesmo. Ele apareceu para começar seu primeiro dia de treino, mas foi descendo as escadas que nossos olhares se conectaram. Me perdi naquele momento, naquele exato momento. Seu cabelo era cor de chocolate, grande e cacheado. Não era um menino padrão e acho que foi isso que me chamou mais atenção. Nunca gostei de padrões….
Nosso “relacionamento” foi o mais lindo e mais traumático que eu poderia cogitar um dia ter. Mas hoje repasso como uma memória engraçada:
Minha família não era fã dele por diversos motivos, dentre eles estava o estilo briguento e despreocupado que levava a vida. Acredito que, se nosso relacionamento um dia tivesse seguido em frente, eu e ele certamente teríamos um caminho bem conturbado para que a ideia da minha família fosse mudada. E eu faria isso com todo prazer.
O que tivemos foi realmente maravilhoso, porque nunca me senti tão amada como um dia cogitei pensar ser e acredito que gostar de alguém seja exatamente isso: ser correspondida… E poderia ter dado certo, se não houvesse um detalhe que sempre estragou tudo: a imaturidade dele.
Não conseguindo lidar com seus próprios problemas, descontava suas frustrações na bebida e por vezes em brigas dentro da escola. Embora um ano mais velha, eu parecia ser no mínimo uns quatro anos mais velha do que ele. Estávamos no ensino médio, mas éramos bem diferentes. Ele saía para beber ou curtir algumas festas com os amigos enquanto eu precisava me deitar às nove da noite. Levantava às cinco para ir estudar. Passei várias madrugadas ao telefone com ele, esperando que chegasse bem em casa quando bebia. Sua vida não era das mais fáceis e os problemas que tinha em casa com seu pai pioravam tudo.
Eu sempre soube que ele tinha problemas demais e não me importava nem um pouco em talvez, só talvez, ser a pequena solução para tudo o que ele passava. Era egocêntrico da minha parte pensar assim, mas querer ser uma pequena salvação, uma luz na vida de alguém, nunca me pareceu tão certo.
Em meio a tudo, eu tinha minha família, minhas responsabilidades e as cobranças da parte dele para que tivéssemos um relacionamento oficial. Nosso relacionamento não era, e nem poderia, ser oficial, ao menos não naquela época. Hoje entendo perfeitamente, como na época também sempre entendi o porquê de nunca termos tido algo formal, como um anel ou almoços em família. A repressão familiar foi o motivo central, vocês sabem.
Minha mãe engravidou de mim quando tinha apenas 18 anos e precisou abrir mão de muita coisa por isso. Era medo. Ela tinha medo que a história pudesse se repetir e a minha vida transformar-se em uma segunda versão da dela. Uma filha grávida e adolescente não era o que ela queria para mim. Acredito que nenhuma mãe queira isso para sua filha adolescente. Eu compreendia a situação. Era triste, mas eu sabia e compreendia toda a situação.
Depois de alguns anos assim, nesse medo de arriscar e oficializar de vez uma relação que, pelos anos durados (mais especificamente, 4 anos), poderia ser considerada mais que oficial, nosso relacionamento não poderia ter tido outro fim. Coloquei de vez um ponto final, porque não tinha escolha. Era apenas uma jovem que estava lidando com um relacionamento demasiado complicado para aguentar. Era injusto, mas era um amor adolescente verdadeiro. E o melhor: amadureci muito.
Nesse tempo de separação, não teve um momento em que eu não me lembrasse dele. De todas as músicas tristes ou momentos felizes que eu gostaria de poder ter vivido ao seu lado. Ele ocupava minha mente todos os dias e, mesmo que por breves instantes, ele estava lá. Era louco mesmo! Foi o primeiro e último relacionamento que me entreguei por completo e que tive o desprazer de sentir o quão difícil era deixar alguém que gostamos ir. Dramático, eu sei, mas foi totalmente real. Desapegar de alguém que amava me dava medo.
Os momentos de recaída para seguir em frente duraram anos. Nossa vida seguiu caminhos diferentes, muito diferentes. Eu sempre quis estudar, conhecer o mundo, aprender e dividir experiências e para isso precisava de algo muito maior do que nós dois poderíamos nos dar naquele momento. Ele queria tudo. E consequentemente, não queria nada. Era um sonhador em potencial, mas sem metas traçadas, nem sonhos pensados. Ou seja, virou “um nada” eufórico.
Talvez sempre viesse a ser assim. Percebi, anos depois, que nunca tive uma escolha entre meu primeiro amor e todas as provações que nossos 4 anos nos mostraram. Éramos um casal promessa, apesar de tudo. Fazíamos planos juntos, ele apoiava minhas escolhas e ideais e eu era a companheira que ele precisava. Eu sempre estaria ao lado dele para tudo e ele sabia que poderia contar comigo. Porém, na realidade, ele nunca deixou de ser o garoto imaturo e problemático de sempre. Nossos planos juntos então, não tiveram chance. O casal promessa não teve chance. Olhando para trás e analisando tudo, desde me apaixonar a ter uma oportunidade de dizer que tive um primeiro amor, tenho a absoluta certeza que fiz a coisa certa ao ter terminar com ele.
Essa experiência de alguma forma me transformou como pessoa. Apesar dos pesares, valeu a pena. Sofrer por amor dói e não há nenhum drama ao se admitir isso. Se envolver com alguém significa correr riscos e se machucar é um deles. Porém, saber que ao menos nos arriscarmos em algo que por um momento acreditamos, já faz valer a pena. E para mim, já foi suficiente. E para todos os amores que um dia foram eternizados em corações apaixonados com promessas de uma vida, também deveria ser o suficiente. Não é problema algum admitirmos que um relacionamento foi lindo, mas que por alguma triste razão, se perdeu. Basta admitir ter sido real. Basta admitir que fez algum sentido pra sua vida. É isso.