Em 2012 foi anunciado o início da produção de um vídeo chamado Virgins Wanted. A proposta era documentar o leilão da virgindade de um homem e de uma mulher. Enquanto para o cara, um russo, o lance maior alcançou aproximadamente U$ 2.600, a mulher, uma brasileira, obteve a impressionante oferta de U$ 780.000, oferecida por um suposto magnata japonês. O tema virgindade aparece também nos noticiários, embora de forma caricata, quando ocorre um atentado terrorista, perpetrado por supostos fanáticos muçulmanos. Existe a lenda de que a motivação destes homens bombas reside na promessa de que após cumprirem a tarefa suicida, chegarão ao paraíso celestial e terão à disposição um harém com nada menos do que 72 virgens!
Mas afinal, o que há na virgindade feminina, que levaria milionários a depenarem o próprio cofre, ou aos menos afortunados se explodirem para ter “o supremo prazer” de ser o primeiro de uma mulher?
Para tentar entender este desejo atemporal e mundial, devemos analisar, pelo menos, dois aspectos: O histórico e o simbólico.
De onde veio e quando surgiu a importância da virgindade?
Dentre as especulações, a mais razoável parece ser aquela que diz que a importância da virgindade feminina surge com a consciência da paternidade. Quando o homem descobre sua participação na concepção, imediatamente procura cercear a atividade sexual feminina e assim garantir ser o real genitor dos filhos de sua mulher. Ser o primeiro, seria a garantia de não ser surpreendido posteriormente por uma semente já plantada por outro no ventre da futura esposa. A motivação biológica em transferir os próprios genes se consolida, então, em costumes, regras não escritas, preceitos religiosos e leis. Com o tempo, a importância da virgindade adquiriu novos sentidos, indo além de garantir a paternidade da prole.
As religiões de origem judaico-cristã associam fortemente o sexo à culpa e ao pecado. Segundo a história bíblica de Adão e Eva, este primeiro casal humano ao desobedecer a Deus e compartilhar “a maçã do pecado”, perderam a pureza e a inocência iniciais e foram condenados à vida mundana, assim como todos os seus futuros descendentes, ou seja, todos nós.
“Perdeu a virgindade, se perdeu…”
É muito significativo e de enorme força simbólica que Jesus Cristo seja filho de uma virgem. Virgindade é um sinônimo de pureza, ausência de pecado. Até hoje, quando nos referimos à primeira vez, dizemos: “Perdeu a virgindade…” Embora não aconteça perda de nada, de fato marca o começo de algo tão humano como a sexualidade. A palavra “perder” denuncia o sentido negativo que atribuímos ao fato.
“Não é mais pura, perdeu seu valor.”
O que representa a virgindade feminina afinal?
Segundo os produtores do documentário “Procuram-se virgens”, o vencedor do lance para ser o primeiro da brasileira Catarina, desistiu pela maneira como foi tratado por ela. O japonês não achou ela “nada virginal”, pois ela só queria tratar da forma de pagamento e então, ele desistiu.
Apesar da definição de virgindade consistir em “uma mulher que nunca teve a vagina penetrada por um pênis”, o conceito vai além disso. Existe uma aura de pureza, inocência e inexperiência associadas a ela. Para entender melhor isso, pense na seguinte situação hipotética:
Uma certa mulher já fez anal, oral, masturbação em homens e tudo mais que você possa imaginar, e com vários parceiros, com mais de um cara ao mesmo tempo e com desconhecidos… No entanto, ela nunca permitiu a penetração vaginal, por que pretendia se preservar para o casamento, portanto o hímen está intacto. Esta primazia será reservada ao noivo.
Tecnicamente falando, ela seria uma virgem. Mas seria uma virgem desse tipo, a que está no imaginário masculino? Lógico que não! A virgindade é muito mais do que uma membrana intacta, ela é um símbolo, e o que ele representa, pesa muito mais.
Como encaramos a virgindade hoje?
Está havendo uma surpreendente valorização da virgindade nos últimos anos. Dos locais mais conservadores dos Estados Unidos surgem notícias sobre certificados de virgindade ostentados por noivas antes do casamento e compromissos de purezas firmados por meninas pré-adolescentes perante os seu pais. Também incluímos nisso, os anéis de pureza, e aqui no Brasil existe o movimento eu escolhi esperar. Cabe ressaltar que os homens, também, estão incluídos nestes pactos pela abstinência pré-nupcial. Pelo menos na teoria…
Na contramão da importância que é atribuída a primeira vez de uma mulher, muitas delas optam por um “defloramento secreto”. Esta atitude de retirar a importância cerimonial que caracteriza normalmente a primeira vez, foi retratada por dois filmes de 2013: Jovem e bela (Jeune et Julie) e Ninfomaníaca (Nymphomaniac). Não por coincidência, a vida sexual das protagonistas destas histórias é caracterizada por contrariar, e muito, o senso comum. São personagens, sem sombra de dúvida, marcadas pela independência. A virgindade e sua importância, passa a ser de domínio exclusivamente íntimo delas. E essa é uma atitude cada vez mais corriqueira, as meninas partem para a “primeira” sem revelar ao seu parceiro que ele é o “inaugurador” e, não raro, o escolhido não é sequer um namorado ou alguém especial em suas vidas. As únicas pessoas a saberem, geralmente são somente algumas amigas íntimas.
Este comportamento, parece-me, foi a maneira de muitas mulheres, mesmo que inconscientemente, combater o estigma da virgindade. São as fascinantes voltas e reviravoltas da história.
Quais tipos de homens desejam tanto as virgens?
Para simplificar, podemos resumir em dois tipos: Os Cavaleiros Sacros e os Caçadores sem Coração.
Os do primeiro tipo, associam fortemente virgindade à integridade, caráter e outros atributos pessoais. Embora exista um fundo religioso na base dessas ideias, uma parte considerável destes honrados idealistas não costuma passar sequer perto de uma igreja. A ideia corrente, que motiva esta busca pelas inexperientes, está na suposição de que, se a sua “Vênus” se guardou só para você, não abrirá facilmente a porteira para outros no futuro. O hímen intacto é o selo garantidor de que o produto adquirido não foi contaminado pelo vírus da promiscuidade e da infidelidade. E este comportamento não é anônimo, pois dois famosos jogadores brasileiros de futebol, Kaká e David Luiz, defenderam publicamente as virtudes da virgindade. O desenrolar de suas vidas mostrou uma realidade não tão virtuosa, mas o impacto que estas declarações têm na mente das pessoas comuns é enorme.
Entretanto, existe um problema para esta turma. Algo, talvez relacionado às atitudes predatórias antiecológicas de homens e mulheres, está fazendo com que as virgens sejam, cada vez mais, uma raridade, uma espécie em extinção. Para contornar essa dificuldade, foi criada uma nova categoria: As “seminovas ou pouco rodadas”. Então, para os homens terem opções adequadas à realidade da fauna atual, esta poderia ser a solução viável. O grande porém desta classificação é que não existe nenhum consenso sobre qual seria a exata quilometragem máxima que deve ser exigida da pretendente para poder ser aceita nesta categoria de “quase virgens”.
O outro tipo de cara obcecado por virgens, é o retratado pelo personagem adolescente Telly, do polêmico filme Kids (1995), que se vangloriava de ser especialista em ser o primeiro de meninas pré-adolescentes. Para estes predadores, o valor das virgens é semelhante ao de um troféu de caçador. Abatida a vítima, ela passa a ser apenas mais uma carcaça desprezível, tendo o seu valor reduzido aos benefícios da inveja causada nos outros homens, que ouvem os relatos autoelogiosos destes destroçadores de cabaços. A humanidade e empatia destas figuras os colocam como fortes candidatos a fazerem fama e fortuna como serial killers quando crescerem.
Mas qual seria, afinal, o segredo deste Santo Graal que se esconde entre as pernas das meninas, lá onde o Sol não alcança?
A importância da virgindade, atualmente, é um anacronismo, mas ainda resiste bravamente, porque conta com um aliado poderoso, o medo. O temor de ser traído ou abandonado leva muitos homens a fantasiar que a castidade prévia de sua companheira seja a garantia de um comportamento futuro. Além do evidente equívoco de confundir sexualidade com índole e caráter, é que justamente esta inexperiência destas noivas castas pode ser a causa de futuras surpresas. A sexualidade de uma pessoa não é algo a ser menosprezado e a ideia de que casais se unam incondicionalmente, sem ter este aspecto do relacionamento avaliado previamente é algo completamente sem sentido. Não existem amarras tão fortes que garantam que esposas insatisfeitas aceitarão passivamente uma condição de descontentamento.
A história não para, não diz para onde vai, e a insegurança que todos sentimos com relação ao futuro desconhecido leva cada vez mais pessoas a sonhar com um passado idealizado.
Mas é uma grande ingenuidade imaginar que assegurando-se que a sua amada não teve passado, você poderá ter, assim, garantido o futuro.
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