Hoje eu não chamei o bombeiro, mas chamei nossa colaboradora maravilhosa com experiência na delegacia da mulher para ajudar. Espero que gostem e, claro, compartilhem caso conheçam alguém que esteja passando por isso, já que infelizmente, sempre tem.
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Estou lhe enviando este email porque acompanho seu blog há algum tempo e me senti desesperada (sem saída, sufocada mesmo) pra contar o que me aconteceu.
Bem, tenho 24 anos e recentemente eu conheci um carinha no Tinder e a gente começou a trocar uma ideia. Pois bem, papo estava ótimo (ele havia levado um amigo dele para esse encontro e eu não.. erro meu né?) até que a gente decide ir para o hotel. As coisas começaram a esquentar, quando de repente ele pede para incluir o tal amigo no lance. Eu fiquei chocada e falei que não, ele insistiu, eu disse não, fiquei meia hora dizendo não.. até que por algum motivo eu cedi (provavelmente serei julgada, estou preparada).
Eu não estava bêbada, mas estava alta já e sabia o que estava fazendo, mas quando esse amigo dele chegou… eu olhei para o carinha e disse que não queria. Daí vocês podem imaginar o que aconteceu… Eu não reagi em nenhum momento e mesmo nenhum deles terem sido violentos, eu decidi ficar imóvel. Foi difícil e eu só chorava, olhava para a pessoa com os olhos cheio de lágrimas e nada dele ter empatia comigo. Estava com nojo, a cada toque do homem eu me sentia enojada, e aí não aguentei e deixei o choro vir mais alto. Foi aí que ele parou.
Depois disso eu não sei como reagir, sinto que a culpa foi minha, totalmente minha. Que eu deveria ter reagido e ido embora, eu sei que muitos vão falar isso. Também sei que deveria denunciar, mas o sentimento de culpa não deixa, pois o ato não foi violento (pra deixar marcas fisicamente, mas psicologicamente fez estrago) para se comprovar o abuso.. Então quem levaria a sério a minha palavra? Gostaria de uma opinião e sei que vou ter que lidar com as mais duras possíveis.
Querida Leitora,
Não foi culpa sua. Leia bem: não foi culpa sua. A culpa é um sentimento extremamente perigoso, porque ela te deixa presa ao passado de duas formas: primeiro ela te leva a acreditar que suas ações te trouxeram consequências negativas e, por outro lado, te faz crer que se você tivesse agido diferente seu futuro seria melhor. Veja bem: pense em quantas vezes fazemos coisas boas e temos coisas ruins de resultado? Ou quantas vezes agimos de forma negativa, mas temos um resultado positivo? Viu? Não há certezas sobre o que poderia ter acontecido. Você teve medo. Provavelmente qualquer pessoa em seu lugar teria sentido o mesmo. Por tudo isso, eu particularmente, não gosto muito do termo culpa. A partir de agora, iremos falar em responsabilidade, ok?
Leitora, naquele dia, você não conseguiu fazer diferente. Não conseguiu. A partir de agora, eu preciso que você passe a revisar positivamente todo o acontecido, mas tudo feito sem cobranças. Onde você poderia ter tido mais cautela e ser mais cuidadosa? Além dessa situação, quando é que eu deixo as pessoas se aproveitarem de mim, mesmo eu querendo dizer não? Pode ser, leitora, que você tenha dificuldades em impor alguns limites, inclusive em outras áreas de sua vida. Então, é preciso que você se pergunte: eu me coloco em muitas situações desconfortáveis, com uma frequência maior do que eu gostaria? Por que eu digo sim querendo dizer não? É para agradar? É porque eu me sinto “fraca” nessas horas? É porque eu sinto que não posso dizer a palavra não?
Minha querida, sua culpa está ligada diretamente ao perdão. Você precisa se perdoar. Mas te dizer isso não é suficiente. É preciso que você perceba que estamos todos em crescimento. Todos nós, em algum momento, nos arrependemos de algo que fizemos. Quando entendemos isso, julgamentos severos e críticas em demasia perdem um pouco da importância e, assim, não te afetarão tanto. Acontece que, por algum motivo, questões sexuais nos afetam mais do que outras e, principalmente, quando nos levam a sofrer julgamentos dos outros. Pode ser que sua criação, seu meio social, tenham contribuído para isso. Mas o que eu sei, como psicóloga e ex-Delegada da Mulher, é que o perdão só acontece quando a gente se vê como um ser imperfeito, capaz de errar e de se arrepender. A partir de agora, você tem a oportunidade de se perdoar e de crescer.
Para romper seu ciclo de autoflagelo e autopunição, retire algo de positivo desse infortúnio e restará alguma lição. Então, novamente se pergunte: quando eu não quiser ficar com alguém, o que devo fazer? E repasse isso algumas vezes em sua consciência, até que esteja plenamente segura de sua situação e qual ação deverá ser tomada. Nesse momento, o melhor que você pode fazer é, ao tomar consciência das respostas para as perguntas feitas acima, procurar uma maneira de não repetir o que foi feito. Assim, nós usaremos seu emocional a seu favor, leitora. Faremos do seu sentimento de culpa um sinal de alerta e, em alguma eventual situação desagradável, você poderá se proteger com mais facilidade.
Leitora, você está em um momento bastante vulnerável. E eu tenho que tocar em um assunto bastante delicado agora. Sobre sua denúncia. O mais adequado é que você procure uma Delegacia especializada em sua cidade e conte tudo: quando e exatamente o que aconteceu, já que você foi breve em sua pergunta. Mas para todo esse processo é preciso que você esteja fortalecida e amparada. Lidar com tudo isso e ainda ter que clarificar todos esses sentimentos é tarefa longa e difícil. Eu aconselho você a procurar ajuda psicológica. Terapia é um processo de autoconhecimento em que há empatia, identificação de comportamentos auto-destrutivos e muito, mas muito acolhimento. Não pense que você está sozinha ou desprotegida. Você não está. Mas só você é capaz de dar outro contorno para essa história. Desejo toda força para você.
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