Não sei por que resolvi escrever esse texto hoje, mais de um ano depois do acontecido. Talvez seja por finalmente ter conseguido digerir o que aconteceu naquele tempo.
Deixe-me contar o que aconteceu:
Eu estava em um fase com muitos problemas. Meio triste. Nunca fui depressiva, mas tava triste. Desanimada. Desencorajada. Me sentindo com poucos amigos. Até engordar, engordei. Resumindo, tava de mal com a vida.
Nessa época, estava me encontrando bastante com uma amiga da academia, que vou chamar de “Mi”. Não sou de desabafar (acho que nasci mais pra ser mais conselheira mesmo), só que com ela eu quis.
Falei. Falei. Falei. Contei um pouco sobre a minha vida e meus problemas. Do nada, ela saiu do assunto e disse algo, aparentemente, sem sentido ou contexto:
– “Luiza, por que é que você carrega tanta coisa na bolsa? Você só está indo pra academia!”.
Tentei rebater – a gente tem mania de querer parecer certo, né? Disse que é porque trabalhava com Internet e tinha que estar sempre com x, y e z em mãos.
– “Mas é só por uma hora!”.
Sabia que se tentasse me defender de novo, ia ficar feio.
Ela tinha razão.
Não fiquei me explicando, mas depois cheguei caladinha aqui em casa, olhei minha bolsa e descobri que se alguém tivesse jogado fora metade das minhas coisas, levaria um bom tempo pra perceber.
Batons que raramente usava. Espelho que nunca usei (usava o da sombra). Notas e notas que achava que precisaria, mas no fundo sabia que nunca precisaria.
Parecia medo de perder, de deixar a vida levar e trazer outras coisas, sabe? Medo dessas outras coisas no fim nem virem. Medo “do menos”. Daí você começa a carregar um peso enorme nas costas como se algo proporcional fosse acontecer. Ou pior, como se você merecesse carregar tudo aquilo.
3 canetas, um livro que raramente lia (porque sempre achava que ia ter tempo na rua – mas nunca tinha). Desodorante (só por uma hora?) e até creme de cabelo tinha!!
Eu podia um dia precisar daquilo? Podia. Mas sabia que ia demorar tanto tempo, que mais valeria o risco de precisar e não ter um dia, do que ficar 364 dias com peso extra nas costas.
Esvaziei minha bolsa e, consequentemente, comecei a esvaziar minha vida.
Aprendi a andar mais leve, a levar o estritamente necessário. Hoje tenho o hábito de me arriscar e deixar muita coisa aqui em casa. Se for pecar, que seja sempre pelo mais leve.
Meus braços também ficaram mais livres, ficou melhor pra andar. Não tinha “aquele peso me puxando pra baixo”, sabe? Também fiquei com uma postura melhor e até consigo andar mais rápido.
Foi uma agilidade que funcionou tão bem pra mim que quis escrever esse texto e te perguntar: