Leitor: Estou casado a 6 anos com uma Testemunha de Jeová, no inicio tentei aprender sobre essa seita para me converter nessa religião, com o tempo vi diversas contradições e de tantas até deixei de acreditar em um Deus e virei Ateu. O problema é que religião para ela é muito importante e uma seita com tantas contradições e tão controladora me faz ver ela como uma tabua em que só os lideres dessa religião podem escrever, sinto que não preciso conversar com ela, já que a opinião dela é a que os menbros do corpo governante dessa seita indicarem, me distancio dela por não querer conversar com pessoa vazia, minha admiração por ela se esvaziou, nem desejo sexual tenho por ela.
Fora isso eu ate tinha minhas fantasias sexuais, mas como vejo o amor dela pela religião ser inversamente proporcional a minha atração pela mesma vejo que não realizarei nenhuma e meu libido está em queda livre, nem mais propor nada diferente quero, na verdade nem corriqueiro, ando me sentindo pesado com essa situação.
Sinto que estou ficando distante da minha esposa e isso esta me incomodando muito.
É natural que pessoas seguidoras de religiões restritivas tenham um conceito rígido sobre determinados assuntos, principalmente sobre aqueles que dentro da doutrina que professam representam um dogma. Isso porque para qualquer pessoa profundamente religiosa, a religião dela é uma verdadeira regra de conduta. Sendo assim, ela tentará se comportar no sentido de cumprir todos os dogmas que a religião impõe.
Você quando se casou com sua esposa já sabia que ela era convertida à essa religião e à época aceitou isso. Então, não é porque depois de algum tempo você percebeu supostas contradições nessa doutrina que necessariamente ela tenha que abandoná-la ou se tornar menos religiosa, pois fé é algo muito pessoal e íntimo e as incoerências que você enxerga nessa religião fazem parte da conclusão a que você chegou influenciado pelos seus valores que talvez não sejam os da sua mulher.
Você deveria encarar essa conclusão apenas como uma convicção pessoal sua. Penso que seu erro esteja justamente em querer indiretamente impor suas convicções pessoais à sua esposa, sendo muito provavelmente esse o motivo da crise do seu casamento e não a religião dela em si.
Agir assim é no mínimo um gesto de intolerância da sua parte e convenhamos, todos os segmentos religiosos possuem suas contradições em maior ou menor grau que são mais bem dissimuladas quando se acredita naquilo que por ele é pregado, o que não é o seu caso. Sem querer aqui atacar religião de ninguém, mas tendo o intuito apenas de trazer um exemplo, o catolicismo também tem lá suas incoerências: possui um verdadeiro histórico de barbáries praticadas em nome de Deus (quem não se lembra da santa inquisição?), quis converter os indígenas no Brasil à força (enquanto Cristo disse em seus ensinamentos que o evangelho se prega com amor e não por força ou violência), pregava que negro não tinha alma, representou em séculos passados um grande obstáculo ao avanço científico, vendia passagens para o céu e mesmo assim ninguém deixa de ser católico por causa disso. Muitos fazem vistas grossas aos erros da igreja tão somente por fé nessa doutrina.
Na verdade, você agora está sofrendo as consequências do equívoco de ter se casado com alguém que leva um estilo de vida completamente diferente do seu, sem ter observado se você teria estrutura para suportar tantas diferenças.
Acredito que nem tudo esteja perdido se houver tolerância da sua parte, elemento que parece está te faltando, e se você desencanar desse papo de que essa doutrina é desprovida de amor porque se você parar para pensar, intolerância também é uma forma de falta de amor ao próximo e, no seu caso, está até interferindo negativamente no seu casamento. Se você compreender que sua esposa não está obrigada a pensar da mesma forma que você e respeitar isso, fazendo um verdadeiro exercício psicológico consigo mesmo, talvez as coisas entre vocês comecem a mudar.
Você diz que tem fantasias as quais não pode realizar por conta da religião dela. Ora, realizar uma fantasia é algo que tem que ser bom para os dois e não apenas para um. Não é viável para a relação que um dos envolvidos faça algo que se sente constrangido apenas para ceder à pressão do outro por medo de que a relação desande, pois provavelmente isso ocorrerá do mesmo jeito e de uma forma ainda mais dramática, porque, com o decorrer do tempo, aquele que cedeu pode se sentir desrespeitado e humilhado pela incompreensão do outro. Além do que fazer algo que não se gosta apenas para satisfazer alguém costuma causar a sensação de que se está praticando um ato de violência contra si mesmo, e todas essas sensações acumuladas a longo prazo podem ser fatais para um relacionamento.
Diante disso, penso que você deveria abdicar de determinadas fantasias e tentar descobrir algo de novo que vocês dois gostem de fazer. Já que ela é de uma religião que usa a Bíblia, por que não tenta despertar a libido dela, reproduzindo entre quatro paredes determinadas passagens do Livro de Cantares de Salomão ou mandando para ela um buquê de flores com um cartãozinho com um poema erótico daqueles? Procure usar sua criatividade dentro daquilo que sabe que ela poderá gostar, pois provavelmente essa será uma boa saída para quem quer evitar um divórcio.
Para finalizar, penso que seria ideal que vocês buscassem uma terapia para casais, pois, ao que me parece, no nível de desgaste que o relacionamento de vocês está, será muito difícil vocês vencerem essa dificuldade sozinhos.
Boa sorte!
Para quem se interessar, aconselho a leitura do post “Namoro ou religião”, bem como o “Como lidar com a diferença religiosa”