Leitor: Sou um homem heterossexual e divorciado por duas vezes. Apesar de ter sido heterossexual por toda minha vida adulta, quando adolescente mantive relações homossexuais ativas e passivas com dois primos mais velhos. A cerca de 3 anos atrás fiz amizade com um casal de moças lésbicas, ainda bastante jovens, que propuseram iniciarmos um relacionamento onde os papeis sexuais seriam invertidos, ou seja, eu seria o passivo e as duas as ativas, vestindo aquelas cintas com um pênis acoplado. Com o passar do tempo, as duas revelaram-se dominadoras e a relação tornou-se sado-masoquista, onde eu sou também feminizado e apanho das duas. Sou obrigado a deitar nú no colo delas e apanhar na bunda com chinelo de borracha, ou então sou imobilizado e apanho na bunda com vara até ficar cheio de vergões roxos. Outras vezes elas me vestem de mulher, me aplicam maquiagem feminina, peruca, etc.
Eu passei a sentir um prazer imenso nesse tipo de atividade, e com o tempo verifiquei que gosto muito mais de ser passivo sexualmente e dominado por mulheres, a tal ponto que atualmente esse é o único tipo de relação sexual que tenho – sexo passivo acompanhado de dominação, surras e feminização. Nunca mais tive vontade de fazer sexo ativo com mulheres.
Embora goste muito, eu nunca me senti totalmente à vontade com essas minhas atividades. Passei a ter um pouco de vergonha e insegurança, a ter dúvidas com relação a minha sexualidade e masculinidade, e também tenho dúvidas se esse é um comportamento “normal”. Apesar disso, me sinto completamente incapaz de resistir aos meus impulsos sexuais, eróticos, e continuo a praticar assiduamente esse tipo de atividade sexual.
*** Quer conversar sobre sua dúvida em específico? Agende uma consultoria particular através do e-mail [email protected]
Olha, muita gente consideraria esses seus desejos como parafilias (vulgo perversões). Porém, lembremos que atividades como sexo anal e até mesmo sexo oral, já foram consideradas parafilias em outras épocas e culturas, mas hoje em dia são consideras atividades normais e saudáveis do ser humano. Assim, nem precisa dizer que esse conceito de “perversão” não é algo imutável e depende muito da sociedade e dos valores em que vivemos. De qualquer forma, no Brasil do século XXI, convenhamos que essa prática não seria normal para grande parte da população, mas isso não quer dizer que você tenha que deixar os seus fetiches de lado por conta disso. Falemos um pouco mais a respeito:
O que me preocupa mais são três coisas:
1- Mexer com atos que machucam o seu corpo;
2- Você não conseguir praticar outro tipo de sexo;
3- Nem você mesmo estar à vontade com isso tudo.
A primeira opção me preocupa porque eu sempre fico meio assim com coisas que prejudiquem o nosso corpo e posteriormente possam vir prejudicar a nossa saúde. Esse negócio de ganhar “porrada” e ficar cheia de vergões roxos não é comigo não kkkk. Não iria gostar de me ver no espelho toda “baleada” e não gosto desse tipo de relação, porém, se você tentar manter contato com comunidades sado-masoquistas, provavelmente eles vão te dizer que eu sou uma careta e aí entramos naquela de que gosto é que nem c… ops, nariz: cada um tem o seu e aí a regra seria clara: não prejudicando os outros, nem você mesmo, está valendo.
Já o item 2, me preocupa porque se você só consegue ter prazer sexual assim, já é um motivo para procurar ajuda psicológica – não para julgar se isso é ou não normal, mas sim porque, cá para nós: não só comportamentos sexuais, como tudo que é demais e ilimitado é digno de preocupação. Como assim você só consegue ter prazer se for assim? Como assim você já não consegue mais fazer outro tipo de sexo com igual prazer? Seria que nem você falar que você só consegue gozar se rolar feijão preto, porque se for o marrom você já não come. Acho isso um pouco bitolado demais: seria como dizer que eu só como biscoitos. Para completar e anular (pelo menos por enquanto) a possibilidade de você não se preocupar com essa história toda, nem você mesmo está feliz com esse tipo de vida que você leva, o que ao meu ver, é um grande motivo para procurar ajuda psicologógica. Note que não importa bem o seu fetiche em si, mas sim o incomodo que ele está te causando.
Você concorda que se até você está se sentindo mal, confuso, sem entender e até mesmo se sentindo deslocado (“qual é a minha “gangue”?!) com isso é porque você deve procurar ajuda profissional? No seu caso em específico, vale a pena procurar não só essa ajuda que você está tendo aqui no blog, como também uma ajuda mais de perto, tipo semanal mesmo, que nem escolinha com um psicólogo e até mesmo um psiquiatra (que diga-se de passagem não é coisa de doido, como um monte de gente desinformada diz). Não digo isso porque considero que o que você tem seja uma perversão, até porque não acho isso, mas sim porque VOCÊ está incomodado com a situação e está nitidamente perdido de si mesmo, o que me leva a crer que você não precisa apenas de dicas práticas e conselhos que nem nós aqui do blog tentamos dar, mas sim de uma ajuda psicológica mais a fundo e que acompanhe a sua mente, bem como os seus questionamentos internos por um tempo, não só os seus hábitos sexuais.
De qualquer forma, acredito que no fundo no fundo você sabe pelo menos a sua orientação sexual: você sabe se esses seus casos homossexuais foram realmente “nada a ver” ou se você sente de fato atração por homens. Atração a gente sente independente dos nossos preconceitos, inclusive a grande maioria dos homossexuais alegam sentir atração pelo mesmo sexo desde sempre, independente de compartilhar esse fato com outras pessoas. O problema é quando uma pessoa é homossexual (ou bi) e nega tanto para si mesma que chega a ignorar os seus desejos mais íntimos, mas mesmo assim não acredito que alguém consiga se bloquear 100% a ponto de não fazer a mínima ideia a respeito disso. Você só precisa ter personalidade e discernimento para encarar a sua realidade e ser feliz, porque uma coisa é fato: muitos dos meus amigos homossexuais alegam que, se é difícil ser gay, é mais difícil ainda viver enrustido. Palavra deles e que faz sentido, não acha?
Por fim e em paralelo a isso, digo mais uma vez: pode ser que você não seja especificamente homossexual, pelo menos não devido ao fato de você gostar de praticar inversão, até porque prazer anal não tem nada a ver com homossexualismo que nem muita gente insiste em dizer, mas sim com um prazer sexual que tem a ver com as terminações nervosas dessa parte do corpo, não com a sua orientação sexual em si. Quanto ao fato de você ter se relacionado com homens, isso é algo que você deve pensar de acordo com o que te disse no parágrafo anterior. Independente de ser gay, hétero ou bi, o que acontece é que você nutre um desejo por dominação e por relações sado-masoquistas onde os integrantes se complementam. No seu caso, você seria o masoquista e como culturalmente dominar, apanhar, e no caso dos homens héteros, até mesmo dar o fiofózinho, são consideradas coisas de “submissão” e de “dominação” (pelo menos na cultura genérica atual), você gosta de ocupar um lugar extremamente passivo na relação, e sabe-se lá se você também não nutre um prazer em se sentir inferiorizado, o que não teria grandes problemas caso você não sofresse com isso.
Culturalmente, dar “o c*” é coisa de mulherzinha, e se você sente um prazer nisso, talvez o seu caso seja mais um fetiche que ainda não foi aceito pelo sujeito principal da ação toda (você mesmo), do que qualquer outra coisa, e que ser grave ou não dependerá muito mais da sua mente e aceitação, bem como em não prejudicar a terceiros, do que do fetiche em si. Note que pelo o que eu entendi, você não prejudica ninguém e nem força as pessoas a fazerem algo: você não é um estuprador, nem um pedófilo, que são pessoas abomináveis. Você é tão somente um fetichista que, ao que tudo indica, procura por pessoas que tenham o mesmo prazer que você, sem forçá-las a nada e todas maiores de idade. Lembrando que o gosto de se vestir de mulher também não é garantia de homossexualismo, vide a entrevista com um Crossdresser hétero que fizemos nesse blog, que é heterossexual, mas tem prazer em se vestir de mulher.
Corra atrás da sua satisfação pessoal para que você não viva no mundo do “perdido de si mesmo” e não seja infeliz. Busque compreender de onde vem todos esses seus fetiches, porque a partir do momento que você se der bem com a sua vida e as suas escolhas, será tudo mais fácil para você. No mais, se você conseguir não prejudicar a si mesmo ao ter esses conflitos mentais, tampouco prejudicar aos outros que participarem da sua vida, não vejo por que não ter os seus fetiches. Todo mundo tem os seus segredos, acho justo você ter os seus. Se você não incomoda e nem prejudica o vizinho, só te falta ir em busca de si mesmo e ser feliz.
Boa sorte!
*** Quer conversar sobre sua dúvida em específico? Agende uma consultoria particular através do e-mail [email protected]
Assista ao vídeo que fiz: Homem que pratica sexo anal é gay?
***************************
Para quem se interessou pelo tema, recomendo ler o depoimento da mulher dominadora que postamos aqui no blog!
*Gostaria de entrevistar uma pessoa que curte BDSM (Bandage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo). Se você for uma pessoa assim e se interessar, mande email para [email protected])