Leitor: Olá. Eu e minha esposa já vivemos juntos há três anos. Depois que eu a conheci ela tornou-se evangélica. Acontece que sou alguém muito cético, principalmente a respeito de religiões. Ultimamente ela tem tentado fazer com que eu participe e eu resisto. Começamos a discutir várias vezes sobre isso e ela não aceita o fato de eu não ter crença e não aceitar o seu fanatismo, o que está levando nosso casamento a um desgaste sério, pois já estamos à beira da separação por um motivo tolo. Gostaria de saber se vale a pena insistir nesse tipo de relacionamento.
Gostaria muito que religiosos e evangélicos participassem desse debate, porém, como alguém que, tal como você, não tem nenhuma religião em específico, no seu lugar perguntaria à ela:
“Você me acha mau caráter?
Acha que tenho atitudes estranhas?
Que traio?
Que não sou um bom marido pra você?
Não?
Então por que você me força a ter a mesma religião que a sua?
Pense:
Você é a favor do amor entre todos?
Então por que a gente tem que brigar por causa disso?
Se Deus amou todo mundo, por que acha que ele pensaria que você teria que me amar menos, só porque sou diferente de você?
A propósito, provar amor com alguém que pensa exatamente como você me parece fácil. Quero ver é amar o que “lhe é estranho” – tal como Deus amou. E o mais importante: sem julgar ninguém.
Existe religião boa se a pessoa não for boa?
E se a pessoa for boa e não tiver religião?
Cabe de tudo no mundo: preto, branco, vermelho, rosa…. E todo mundo tem sua função…. e todo mundo serve pra muita coisa….
Na verdade, desconfio que é a nossa pluralidade que faz o mundo girar e que nos faz aprender o que precisamos aprender. E isso vale para todos nós.
Como você acha que seu Deus gostaria de ver os seguidores dele?
Brigando com todo mundo e acreditando que a própria religião é a melhor de todas?
Não me parece ser a cara dele, que nunca impôs nada a ninguém…
Na verdade, acho que se ele conseguisse fazer todo mundo viver bem e feliz, nem se preocuparia caso não acreditassem nele. Ele não teria esse “ego”.
Ele fez (mentira, ele não fez, a gente que fez) a religião pra gente se amar. E se a gente conseguisse isso sem ela, ele também ficaria felizão. Não acha não?
E certamente falaria: ”Não briguem, crianças!”.
E agora, se você pudesse arriscar uma resposta:
Diria que Deus quer que a gente nunca falte à Igreja, ou que façamos algo de efetivamente bom à sociedade? Ainda que não pisemos um dia sequer por lá?
E se Deus é amor:
Ele quer que a gente se ame ou deixe de se amar por pensamentos incompatíveis?
Ele quer casais perfeitos, ou casais que se esforcem pra dar certo?
Que pratiquem a tolerância ou que tolerem apenas quem pensa como eles?
Entendo que a sua religião te faça se sentir melhor, ou até mesmo que te faça ser uma pessoa melhor. Porém, chegando até aqui, você acha possível entender que eu posso ser o seu oposto e mesmo assim ser tão bom, tão feliz e tão útil à sociedade quanto você?
Por que você não pode simplesmente agradecer por ter alguém legal ao seu lado?
Sou imperfeito. Você também é. Mas o lado bom disso tudo é que, ainda assim, podemos ser perfeitos um para o outro. À nossa maneira imperfeita, claro.
Enfim….
Se você quiser terminar o relacionamento comigo, tudo bem, mas que seja por outro motivo.
Agora, vamos arrumar a cama e dormir abraçados, que é o melhor que a gente faz e Deus agradece.
Amém?