Leitor: Comecei um namoro há um pouco mais de 2 meses, estou perdidamente apaixonado pela minha namorada, sou daquele homem a moda antiga, que abre a porta do carro, trata com muito carinho, dá presentinhos não só em datas comemorativas (aqueles que a pessoa fica feliz só de ter sido lembrada), minha irmã mesmo diz que o sonho dela era ter um namorado como eu, gosto de mandar mensagens de bom dia, boa noite, sempre que estamos juntos fico fazendo carinho, brincalhão, etc, etc. Ela não é desse jeito, porém sempre respondia minhas mensagens, ligava, queria me ver com frequência, há umas 2 semanas ela ficou diferente, falava que era pra sentir mais saudades e não enjoar de mim. Ontem mandei uma mensagem para ela dizendo que sentia falta de quando ela respondia minhas mensagens, ela respondeu, porém dizendo que sabia que eu sentia falta e queria conversar. Conversamos e quase terminamos, aos pranto pedi para que não terminássemos e que ela lutasse para continuarmos juntos, sugeri um tempo à ela para pensar e refletir. Será que acabará?
Primeiro de tudo, é preciso entender que cada um de nós, ainda que não nos apercebamos disso, buscamos um determinado perfil de parceiro. Na maioria das vezes, esse perfil é um reflexo de determinadas manifestações comportamentais verificadas em nossa própria família ou aquelas impostas pela sociedade. Assim, uma garota que foi criada em um lar onde o pai, apesar de amar a família, não era adepto de demonstrações de afeto muito fortes, certamente tenderá a procurar esse mesmo perfil masculino ao tornar-se adulta; além do que a sociedade cria e exige que o homem tenha um perfil mais sóbrio, destemido e pouco inclinado à manifestações de profundo sentimentalismo.
Você é totalmente o oposto disso tudo. Ao que parece, você faz o estilo “fofete”, ou seja, é aquele rapaz meigo, sensível, carinhoso e com uma necessidade enorme de dar e receber carinho, características que podem ter se originado da maneira como você foi criado. Existem famílias onde a troca de afeto entre os membros é muito intensa, gerando filhos extremamente carinhosos e, ao mesmo tempo, carentes quando não recebem de outras pessoas a mesma dose de carinho e atenção que estão habituados a receber em casa. No seu caso, essa necessidade de dar e receber afeto parece ser uma característica familiar. Prova disso é a sua irmã que aparenta ser igual a você quando diz que gostaria de ter um namorado com o mesmo comportamento que o seu!! Todavia, homens que reúnem em si essas características despertam, na maioria das mulheres, uma ideia de fragilidade, induzindo-as a pensar que são inaptos para satisfazer a natural necessidade feminina de proteção. Não que seja verdade absoluta que homens que tenham uma personalidade dócil e carinhosa possuam de fato essa inaptidão. Porém, foi-nos sócio e naturalmente imposto que é a mulher quem deve ter características mais meigas, pois é ela que “necessita” de proteção, ao passo que o homem deve ser o oposto disso para cumprir o seu “dever” de proteção, sendo mais atrevido, ousado, destemido, enérgico e menos sensível, ou seja, na cultura da nossa sociedade o homem deve ter qualidades muito mais impulsivas do que sensitivas.
Sendo assim, muito provavelmente você não faz o perfil dessa garota, o que não quer dizer que haja algo de errado com você. Vocês provavelmente apenas receberam criações diferentes, o que os fazem ser pessoas totalmente diferentes uma da outra, o que gera consequentemente necessidades diferentes. Sem contar que vocês também podem estar em épocas de vida distintas, na qual a necessidade momentanea de um não corresponde à do outro.
Em casos como o seu, será natural que apareçam pessoas alegando que ela não tem mais interesse em você porque você é pegajoso. Eu, sinceramente, não acredito nesse argumento do “pegajoso”. Para mim, tudo o que pode existir em situações onde isso é alegado é uma pessoa que está muito a fim de ficar com a outra e outra que, por algum motivo, não está tão a fim assim. Nesse caso, é natural que o mais interessado queira sair mais, dar mais atenção, ligar mais, falar mais… Enfim, fazer tudo que o que não está tão interessado gostaria de fazer em menor quantidade, de forma que ambos passam a se incomodar reciprocamente por não possuírem os mesmos fins um com o outro: o interessado incomoda o que não está por querer dar e receber atenção, e o não interessado se sente incomodado por se ver na obrigação de retribuir algo que ele, por ainda não estar – tão ou nada – apaixonado, não tem disponibilidade para oferecer. E daí que surge a figura do pegajoso, algo que, tal como anteriormente exposto, considero apenas uma desculpa esfarrapada de quem não está realmente interessado no outro e não tem coragem de admitir isso.
Todas as pessoas possuem defeitos. Então, se é para ter defeitos, tanto melhor que seja ser excessivamente carinhoso, pois dos excessos a gente pode descartar as sobras.Piores mesmo são as ausências, as faltas. Geralmente, quando a gente gosta do outro de verdade, toleramos até as ausências, como falta de atenção, traições, etc… Então, se toleramos as ausências, mais fácil ainda seria suportar os excessos positivos, tais como sucessivas demonstrações de afeto, por exemplo, de sorte que soa pouco convincente alguém alegar que terminou um namoro porque o parceiro lhe dava atenção demais!! Assim, caso alguém alegue ver em você uma figura pegajosa, a ponto de você achar que existe algo de errado com você, chamando toda culpa do rompimento para si, seria interessante você avaliar se a outra parte estava realmente interessada na sua pessoa tanto quanto você estava na dela!
Você diz que quando conversou com ela pediu para ela lutar pelo namoro de vocês. Ora, toda luta pressupõe alguma ameaça externa. No caso de vocês, essa ameaça externa poderia ser a família que não aceita o romance, um(a) ex perturbando a relação de vocês, enfim: um terceiro estranho à relação. Porém nada disso existe. O que existe é tão somente uma possível indisponibilidade dela em aceitar sua forma de ser e, você mesmo na sua pergunta expõe que ela não é tão afetuosa quanto você. Sendo assim, ela deveria lutar contra o quê? Contra a própria maneira dela de ser, de não se compatibilizar com parceiros que tenham o seu perfil? Não né!
Bem, não dá para saber se, nesse “tempo”, ela decidirá por continuar o relacionamento com você ou por rompê-lo. Mas seria interessante que você não ficasse nesse meio tempo tentando algum contato com ela, mandando mensagem, telefonando, chamando para sair, ou qualquer outra coisa que possa sugerir uma forma de contato, porque se a maior queixa que ela tem de você é o seu excesso de atenção, ficará difícil ela optar por dar prosseguimento a esse namoro com você a todo momento no pé dela. Deixe-a livre para repensar a relação e para sentir sua falta também. Com isso, você estará demonstrando para ela que, apesar de hiper carinhoso, você é capaz de se “controlar”. Você não relata de quanto foi esse tempo que você deu a ela. Caso não tenha ficado cronometrado um tempo, o ideal é que ele seja de um mês. Se dentro desse tempo ela não o procurar, parta para outra e procure preferencialmente meninas com o mesmo perfil que o seu.
Boa sorte!