Hoje nossa colaboradora que tem transtorno bipolar dividiu um pouco da sua experiência e superação com a gente. Obrigada!
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Existem diversas partes de uma mesma história. Se vocês estivessem lendo essa história do ponto de vista de outra pessoa, ela poderia parecer completamente diferente. Porém essa é a minha parte da história e essa parte é sobre o compromisso de superar as dificuldades no meu casamento. Eu sei que todos os casamentos têm seus altos e baixos, mas na minha vida, altos e baixos são vividos de maneira intensa e extrema.
Vocês devem estar se perguntando o que poderia causar tantos altos e baixos, e a resposta é: sou bipolar. Uma pessoa com transtorno bipolar precisa trabalhar estratégias para controlar seu humor, seus impulsos. Uma forma simples de explicar o que acontece com um bipolar é: você pode acordar sem ânimo, sem energia, tão triste que sair da cama é uma luta, ou você pode se sentir tão confiante, provavelmente muito agressivo e tão cheio de energia que você nem precisa dormir. Sei que estou simplificando demais; é algo mais complexo que isso, mas, por hora, é essa intensidade excessiva que desejo que entendam.
É claro que é muito difícil viver com essa instabilidade e intensidade de sentimentos, mas conviver com alguém com esse transtorno também não é uma tarefa fácil. Então, como o amor sobrevive apesar de um problema tão grande?
Não há uma receita de bolo, cada relacionamento é diferente porque cada pessoa é diferente. Então, o que farei para responder essa pergunta é contar um pouco da minha história.
Eu tive algumas depressões ao longo da minha vida, mas quando conheci meu esposo, eu estava bem. Depois de poucos meses de namoro eu tive minha pior crise. Fui afastada do trabalho, não saía da cama e o que era de se esperar de um namoro recente é que ele acabasse enfraquecido nesse momento, porém não foi isso que aconteceu.
Meu esposo (na época namorado) acompanhou esse início em que fiquei distante dos nossos amigos e até mesmo dele e a decisão dele de ficar comigo e me ajudar fez com que se mudasse para minha casa. Quando ele veio morar comigo, eu ainda estava bem deprimida e, consequentemente, distante. Para resolver isso, no nosso caso em particular, buscar conhecimento e tratamento terapêutico foi de extrema importância. Eu tomo medicamentos com acompanhamento médico, faço terapia e, em alguns momentos, o Du (é assim que o chamo) fez terapia para lidar com os sentimentos dele também. Além disso, ele e meus pais participavam de um grupo para familiares onde minha psicóloga conversava com eles e os ajudava não só a conhecer a doença e compreender meus comportamentos, mas principalmente a lidar comigo de maneira saudável e que me ajudasse a melhorar.
Ter paciência em um casamento faz toda a diferença, tanto no dia a dia quanto em uma crise – principalmente em uma crise. Quando somos pacientes com nosso companheiro, conseguimos dizer para ele o que está no limite do que aceitamos de uma maneira que ele não fique na defensiva. Sair gritando e xingando porque ele largou a toalha molhada na cama de novo não costuma resolver o problema e ainda coloca o casal em uma situação de intolerância.
Eu costumava fazer de tudo um motivo para terminar com o Du. Eu fazia isso porque tinha medo dele se cansar e ir embora; sendo assim, eu adiantava o que eu acreditava ser um fim inevitável. Ele sofria muito com essas brigas e costumava me dizer isso de maneira calma e gentil, o que me ajudou a mudar.
De agressiva ou apática, eu passei a refletir sobre meus sentimentos e pensar bem antes de agir de maneira impulsiva. Hoje, ainda tenho dias que não quero levantar, mas sei que, por mais angustiante que seja esta sensação, isso vai passar e vou voltar a me sentir bem. Não deixei de ter altos e baixos, apenas passei a reconhecê-los antes que eles fizessem um grande estrago.
Nossa história tem suas particularidades, mas o que desejo que vocês entendam é que o amor pode sim sobreviver a tudo que possa acontecer e sei que isso soa piegas, mas não deixa de ser verdade. Relacionamentos existem e persistem porque nos comprometemos um com o outro, porque buscamos compreender e ser compreendidos com paciência, construindo uma história que supera as dificuldades e nos faz evoluir com a ajuda de quem amamos.
12 Comentários
Na era dos relacionamentos descartáveis, em que casais se desentendem até sobre de quem é a vez de levar o cachorro pra passear ou o que o parceiro fez ou deixou de fazer no passado, eis um exemplo de amor, coragem e maturidade emocional.
Felicidades pra você e seu marido, Mariana!
Tem gente que fala que a bipolaridade não existe, “que é frescura”. Acho que o relato dela fora dar coragem para outras pessoas, também servirá para saber que existe bipolaridade sim.
PS: Acho que muita gente também fala que não existe porque tem gente que usa esse termo para designar pessoas que mudam de opinião facilmente ou gente que mudou rapidamente de humor sem necessariamente ter relação com a bipolaridade. Tem gente que fala ”sou bipolar” só para falar que mudou rapidamente de comportamento rsrs
Fui diagnosticada a 16 anos com bipolaridade. Na época, era chamado de TMD (tendência maníaco depressiva). Cansei de ouvir que era frescura, e que um tanque de roupas sujas era a solução.
O problema, é que as pessoas vêem isso como um meio de chamar a atenção, mas não se atentam que ao falarem isso a um bipolar, estão ajudando a “detonar” a pessoa um pouco mais.
Meu ex marido vivia perguntando pq eu estava de mal humor,mesmo sabendo da bipolaridade. a mudança de humor não é repentino como muitos dizem, mas sim algo mal dito pode ajudar a desencadear a mudança de humor, ou até deixar a pessoa ainda mais pra baixo.
O que mais me ajudou (e ajuda) a trabalhar isso são meus cães, assim como um curso de inteligência emocional (o qual pretendo assim que possivel, fazer os outros niveis).
As pessoas ainda não tem o tato necessário poara poder lidar com pessoas com este transtorno, infelizmente…..
Talita,
De fato, concordo contigo que as pessoas não estão preparadas para lidar não só com isso, mas com tudo que é diferente do tradicional. Como a Mika bem expôs, nesse post e em outros passados, hoje achamos que o amor é um produto de prateleira, que se tiver com a embalagem amassada, deixamos de lado e pegamos outro.
Falta bem mais coisas que tato, amiga. A preguiça de buscar ajuda, para si ou para pessoa que gosta, para mim é tão condenável quanto a indiferença à problemas alheios. E falta sentimento também. “Porque eu vou perder tempo com alguém, se tem um produto do lado na prateleira que é igual?”. Aí, perdemos oportunidades de fazer a diferença na vida de alguém, e reclamamos que os “outros” é que são superficiais. Falta profundidade nas relações hoje, e isso explica as pessoas que são deixadas na primeira dificuldade que encontram.
Muitas vezes já vi isso acontecer. Vi muitas pessoas que valiam a pena serem deixadas para trás, porque simplesmente passavam por um momento difícil. E isso é triste. Muito triste.
Nós, humanos, somos uma legião de São Tomés. Tudo aquilo que não pode ser visto e tocado é passível de dúvida, por mais evidente que seja. Infelizmente, é mais fácil as pessoas acreditarem num bandaid recobrindo um corte no dedo do que aceitarem que o cérebro humano está tão sujeito a problemas de funcionamento ou doenças quanto qualquer outro órgão do corpo humano. Depressão, síndrome do pânico, TOC, Bipolaridade e várias outras doenças ditas “mentais” são produzidas por disfunção de processos bioquímicos. E enquanto a medicina não avançar mais no diagnóstico e tratamento dessas doenças, suas vítimas continuarão a sofrer preconceito.
obvio que este e outros transtornos existem, deve ser muito difícil para quem não sofre com eles diretamente, enter e principalmente conviver com eles, e e obvio tbm, que o (a) parceiro (a),pode ajudar, mas acredito que a solução de qualquer problema de saúde, seja físico ou emocional, principalmente da atitude do enfermo em se tratar e melhorar. Conheço muitos casos, em que o próprio doente, não se ajuda,e quer paciência e compreensão da outra parte. Ai fica difícil né.
So pra resumir o pensamento em um frase, eu posso te entender,posso ter paciência e posso te ajudar, mas só vc pode te curar.
Olá amigo, muito bom o post, mandá lá pro janalinks com este e outros que você tiver, para bombarem ainda mais, como vi que seu blog tem um conteudo bem bacana, os 10 primeiros links que você mandar serão liberados!!!!!!
Abração!
www janalinks com
Que massa, fico muito feliz em ouvir historias felizes com pessoas dedicadas!!!!Isso me faz acreditar que o mundo é muito legal!!!!
Eu to quase cometendo suicídio, chega uma hora que não aguento mais. Estou isolado do mundo e com uma vontade grandiosa de por fim nisso. Nem ligo se alguém vai ler, namorada, parente, mãe, pai, pois todos acham que nós somos dramáticos e que isso é frescura. Estressam a gente querendo questionar esse “defeito” que temos no cérebro e achando que brigando e falando merda vai resolver. Bem, é um desabafo meu. Atitude covarde a minha? Sim sim, a vida é minha e posso tira-la a hora que eu bem entender.
Ok, suicídio, podemos conversar sobre, pois tenho conhecimento de causa pode acreditar. Não vou te falar de fé ou Deus e que isso é o problema, porque quando nos sentimos assim o que nos traz esse desespero é a falta de perspectiva no futuro, para alguns Deus é a perspectiva, mas não é todos que pensam assim e tudo bem. Todas as vezes, as cinco vezes, que tentei o suicídio eu estava tão desesperada, tão desesperada que era a ÚNICA alternativa que EU enxergava. Sim, É uma alternativa, sim, vc pode escolhe-la, mas é ai que está meu amigo. SUA escolha, SUA responsabilidade! Seus familiares sofrerão muito e eles vão se preocupar com você, mas é só isso. A vida é sua e você pode escolher, mas terá que ser responsável por suas escolhas, inclusive se vc decidir pedir ajuda, porque essa também É uma alternativa. Eu tenho familiares realmente compreensivos, mas não foi o tempo todo que eles foram assim. Como eu disse no texto fez muita diferença na minha vida eu decidir me tratar. Eu só parei de tentar o suicídio quando eu decidi que aquilo não era vida, que eu não aguentava mais ser levada pro hospital e ter um tubo enfiado na garganta, que essa porra de tubo doía muito e que a minha úlcera no estomago era o suficiente para me fazer parar de tomar toda a medicação do mês de uma vez. Não quero soar clichê, não quero parecer só mais uma pessoa te dizendo pra não fazer isso. Só que eu realmente acho que vc não deveria. Não ter perspectiva neste momento não quer dizer que amanhã ou depois ela não possa surgir, eu posso até afirmar que ela vai surgir, como será e quando eu não sei, mas meu conselho para agora neste momento é: Vá fazer algo que te dá prazer, pode ser ler, ver filme, conversar com alguém (existem grupos de bipolaridade e outras doenças no face, se não tem alguém para conversar em casa, conheça essas pessoas, eu costumo conversar por lá e me faz bem) ou dormir (meu caso). Bruno, pode me adicionar no face e espero que eu tenha ajudado
Bruno,
Cometer suicídio não é ato de covardia, mas de coragem. Eu mesma já pensei nisso diversas vezes, mas confesso que nunca tive coragem de levar a cabo. Sou patife pra dor. Quem não quer uma morte suave, sem sofrimento? Além disso, tenho formação católica. Morro de medo do que vou encontrar lá do outro lado ou mesmo se vou ser punida por isso… rs.
Então, vou ficando por aqui, torcendo pra que o dia de amanhã seja melhor…
Não sou bipolar, por isso não sei como é ter altos e baixos. Pra mim, é sempre “meio baixo”. Não fico no fundo do poço, mas também nunca tenho picos altos. Sou parceira da mesmice e do círculo vicioso…
Já tentei tomar remédio, mas só me senti mais alienada, como se existisse em mim um botão de “foda-se” que ficasse ligado 24 horas por dia. Detestei…
Quem sabe para o seu caso eles possam ser de melhor serventia.
É só o que posso lhe dizer no momento.
Força, amigo, você não tá sozinho nessa.