Leitor: Olá, tenho 23 anos de idade e nunca tive um relacionamento. Não me incomodava, porém cada vez mais adentro a vida adulta, vejo todos os amigos se relacionando, amando. Sou gordo, me acho nojento. Odeio minha personalidade. Me vejo como um figurante. Tenho muitos amigos que gostam muito de mim (não consigo ver por quê). Tenho raiva de mim mesmo por admitir, mas acho que preciso de uma pessoa do meu lado. Além de tudo, sou virgem. Não sei se me relacionando com alguém teria coragem de contar. Acho humilhante. Às vezes me vem esperança, mas logo se vai. Não entra na minha cabeça a ideia de conseguir a mulher que quero. Infelizmente não me acho merecedor. Me acho um lixo. Feio. Um nojo. Ridículo.
Sou uma pessoa sociável. Tenho muitos amigos. Não tenho problemas em falar com mulheres. Mas acho ridículo eu chegar em alguém ou demonstrar interesse. Sou horrível de gordo. Sou um nada. Já ouvi muito o argumento de que aparência não importa, mas não é isso que eu vejo. Infelizmente.
Eu não ia selecionar a sua pergunta porque já temos muitos posts no blog falando sobre autoestima e cia (inclusive recomendo seriamente uma busca por aqui depois que você terminar de ler essa postagem!). Porém, esse negócio de “ser gordo” me chamou muito a atenção por alguns motivos que você conhecerá ao ler essa postagem e que já adianto: nunca contei tanto sobre minha vida como fiz nesse post, mas resolvi assim fazer porque acho que, muitas vezes, o exemplo pode funcionar melhor do que as palavras.
Sabia que eu já fui mais de 10 quilos mais gorda? Pois é, e eu sentia o mesmo que você: achava que ninguém ia querer nada comigo porque eu era gorda, pensava que ninguém gosta de gordo e o resultado disso? Bem, fiquei triste por um bom tempo, com raiva do mundo e xingando geral (por dentro, claro, estilo “a revoltada” kkk). Eu não era obesa sabe, mas era gorda o suficiente para ficar muito triste, até porque vida de mulher não é fácil e convenhamos que, ainda que muita gente ligue para a aparência, as gordinhas são sempre mais zoadas do que os gordinhos pelo simples fato de que, em geral, os homens ligam muito mais para a aparência da parceira do que o contrário (tudo culpa dos filmes pornôs padrões de venda, tem que tirar tudo de circulação kkk). Mulher gosta é de “parangandam”, não necessariamente de beleza. Na verdade, eu sou uma das poucas mulheres que conheço que gosta de homem bonito, mas isso você verá mais abaixo rsrsrs.
O tempo se passou até o dia em que eu me dei conta de que era necessário mudar de vida. Resolvi entrar para a academia e quando entrei, não foi muito fácil: eu pensava que lá era coisa de mulher gostosa e só tinha eu de gorducha, porém e apesar disso, eu fui esperta o bastante para colocar na cabeça que eu precisava de estar lá e que, com o perdão da palavra, foda-se os outros! Eu sou meio cabeça dura: quando quero, sai da frente, mas como diz minha mãe: “o duro é querer” kkkk!! Enfim, eu me dei conta que ir para a academia era necessário e sabe-se lá se era por defesa inconsciente ou por vergonha do meu corpo, mas eu não olhava para a cara de ninguém ao mesmo tempo em que eu sabia que valeria a pena. Então, eu chegava lá, entrava muda e saía calada, ou em outras palavras: malhava e ia embora! Pouco depois, eu comecei a fazer umas aulas de spinning e aí era melhor ainda, porque fora queimar mais calorias, o professor apagava as luzes e eu ficava lá toda confortável ouvindo música (não precisava nem murchar a barriga, já que ninguém estava enxergando na escuridão mesmo kkkkk). Fora que eu sempre fui apaixonada por música e como nessas aulas tinha um som na caixa, isso me dava um pontinho a mais na motivação para ir para lá!! Sem contar que música massageia a alma enquanto o exercício cuida do corpitcho e alivia a ansiedade. Algo que me lembrei agora: sabia que nas fases mais felizes da minha vida eu estava praticando algum esporte? Ou era dança quando era mais nova, ou academia mais tarde. Acho que tem tudo a ver, você só tem que sair do comodismo e tentar. Coragem meu amigo!
Um detalhe: eu não fui gordinha durante toda a vida: eu já fui muito magra, já fui padrão gostosa e já fui gorda. Ou seja, já tive todos os corpos nessa vida e te digo uma coisa: é pior ter sido gostosa e ficar gorda do que ter nascido gorda, pode acreditar kkk! É igual a história do rico que fica pobre: é foda!!! Continuando a minha historinha: quando recém entrei na academia, lá estava eu com a minha cabeça de gorda sedentária achando que um pouco de exercício já era muito, até que um dia um professor – por sinal o mais grosseirão de todos – me falou direto e reto que achava que eu ainda estava gordinha demais para ir lá tão poucas vezes, que 3 vezes na semana é muito pouco para quem quer emagrecer e blábláblá. Resultado, quis dar uma voadora na cara dele e fiquei triste pra caramba, mas depois eu agradeci e agradeço muito até hoje. Isso porque quando a raiva passou, eu vi que, apesar dele ter sido um grosso e sabe-se lá se ele também não falou um pouco para me machucar, ele estava certo: poxa, se uma mudança é realmente importante para mim, eu tenho que dar todo o meu gás por ela, não é verdade?
É justamente nesse ponto que quero chegar e que acho que você precisa: você não pode ficar com pena de você mesmo como você parece estar, se xingando de gordo ridículo. Não se trate como um coitadinho porque você não é, e tenha certeza que você é uma pessoa muito mais forte do que você imagina. Na verdade, todos nós somos: experimente colocar um leão correndo atrás de você para ver se você não corre igual um queniano kkkk. Tenha coragem e maturidade para admitir “sim, estou gordo e se eu acho que isso está piorando a minha qualidade de vida, eu vou lutar e vou emagrecer”. Ninguém pode sugar o seu bacon por você, você que tem que tomar a decisão e estar disposto a abdicar pequenas coisas por um bem maior: jogar menos games para fazer uma caminhada, trocar uma barra inteira de chocolate por dois quadradinhos, e por aí vai. Ninguém chega ao céu sem antes subir a escadaria, se conforme com isso e siga adiante!
É claro que hoje em dia a sociedade tem cultuado cada vez mais corpos magros e de preferência sarados, porém, convenhamos que o seu maior problema não é estar acima do peso, mas sim você odiar estar acima do peso! Tem gente que não deixa de amar e nem ser amado por estar gordinho, e para provar isso basta olhar atentamente ao seu redor: quantos casais de gordinhos você vê? Muitos! Há quem diga que a maioria dos brasileiros está acima do peso, porém, independente das estatísticas, você não é um gordinho assumido e não está feliz assim, pelo contrário, você está triste e isso já é o bastante para você se lamentar menos e agir mais!!
Você diz que não gosta da sua personalidade, mas na boa? Para mim você não gosta é de estar gordinho, e como você não gosta de assim ser, você acaba achando que tudo gira ao redor disso, o que acaba te deixando uma pessoa mais ranzinza. Nisso é claro que você não vai se gostar mesmo!! Eu também me achava uma chata quando era gordinha. Hoje, depois que emagreci, vejo que eu não era bem uma pessoa chata, mas sim infeliz e triste com a vida. Depois que comecei a perder peso, eu mesma fui me aceitando mais, coisa que automaticamente me fez me amar mais e como consequência disso, me fez ficar uma companhia mais agradável (nota-se até pela minha cara que não ficava mais tanto de “bunda” kkk). Nem precisa dizer que quando você está bem consigo mesmo tudo conspira a seu favor.
Independente da sociedade, pare de reclamar e pense: quem você gostaria de ser? Eu queria perder peso, queria estudar em uma universidade federal, queria mudar de cidade e queria um namorado bonito. Baseado nisso eu fui moldando a minha vida: se eu queria perder peso e se amo comer (que nem todo gordinho(a)), eu comecei a pegar pesado nos exercícios para equilibrar e de brinde ainda descobri que eu também era muito ansiosa, coisa que me fazia comer mais ainda e que melhorava consideravelmente ao me exercitar. Se eu queria passar em uma universidade federal e mudar de cidade o que eu fiz? Comecei a estudar muito e tentei a UFPR, passei, me mudei para Curitiba e estou aqui até hoje e com dois diplomas na área de Letras (que como há de perceber, eu amo ler e escrever!). E o namorado bonito? Bem, isso foi consequência de tudo o que te contei anteriormente, porque cheguei a um ponto que eu já estava confiante o bastante para acreditar que era capaz.
Entendeu a lógica da coisa? Ah, eu também tinha tendência à depressão, coisa que consequentemente também foi resolvida por estar mais feliz – e acima de tudo – muito ocupada conquistando os meus sonhos (você já sabe que mente vazia é a oficina do diabo, né?). Sabia que muitas vezes o caminho deixa a gente mais feliz do que o fim?! A ciência mesmo explica. Assim, mesmo nos dias que eu estava desanimada, eu tentava nem pensar muito: já vestia meu short, ia pra academia, depois estudava, e aí ia fazendo a minha vida, até o dia em que vi que esse ciclo já estava cumprido e era só ir em busca do próximo sonho: quem sabe escrever um livro sobre algo relacionado ao blog?
A propósito: outra coisa que me ajudou muito foi ter feito esse blog e ver que todo mundo tem problemas, mas essa história fica para outro dia.
É isso aí meu amigo, corra atrás dos seus sonhos e fé na vida que ela não é mole para ninguém!
Boa sorte!