Leitor: Não sei se você tem experiência dessa situação, mas pergunto de qualquer jeito. O caso é o seguinte: tenho 24 anos e, por não ser atraente e quase nunca sair de casa, nunca namorei. Não, não quero ajuda para desencalhar. Estou tranquilo com isso e o problema é justamente esse. Parece que minha situação incomoda mais aos outros do que a mim mesmo! Não que as pessoas saibam que eu nunca namorei. Para cada grupo da minha convivência (família, amigos, colegas de trabalho) eu conto uma história diferente (tenho umas peguetes, já namorei mas tomei pé na bunda, etc.), de modo que, para todos os efeitos, eles acreditam que sou um jovem como qualquer outro. Mas o cerco está se fechando e não sei até quando vou conseguir mantê-los enganados, porque afinal de contas, ninguém nunca me viu com uma mulher. Esse ano minha mãe perguntou se sou gay. Não sou e nunca tive dúvidas a respeito disso, gosto de mulher (mas aprendi a viver sem). Vivo tranquilamente da forma que sou, mas somos vistos como uma anomalia se não cumprimos o protocolo social (se formar, arrumar emprego, casar e ter filhos). Quando isso chegar a um ponto insustentável, o que você acha que devo fazer? Vou conseguir contar minha verdadeira história e fazer as pessoas me aceitarem como sou?
Olha, você disse que se sente bem em ficar sozinho. Se sente mesmo, ou é só porque, como você mesmo disse, você se acha pouco atraente e aí acabou optando por não ficar com ninguém e fingir que é feliz, não por ser de fato, mas sim por acreditar que assim você teria menos dor de cabeça e humilhação/trabalho social? Com isso quero dizer que, uma coisa é ser feliz, outra coisa completamente diferente é aceitar a situação por covardia, só para não ter que dar sua cara para bater “na vida comum e tradicional”. O vulgo medo de sofrer que te faz se defender antes de apanhar, entende?
Se mesmo depois de ter pensado com toda sinceridade do mundo a respeito do que eu disse, você continuar com a mesma ideia de que “sim, quero continuar como estou e sou feliz assim”, o caso é simples e não precisa complicar: é só não pensar muito para não mudar de ideia enquanto você diz a verdade, e pronto: simples assim! É claro que no começo muita gente não vai acreditar, e pode até mesmo se chocar, mas depois se acostumam, tenha certeza disso! O ser humano se acostuma até mesmo quando é ele que está se fodendo, quem dirá quando é o outro kkkk. PS: não que você esteja se fodendo de fato, mas é que na cabeça de muitos você estaria, então deu para me entender, né?!
Interprete tudo como se você estivesse em qualquer outra minoria social: emos, punks, gente que acredita no Santo Daime, enfim, existem vários grupos de pessoas que também são incompreendidos pela maioria e que mesmo assim vivem sem se esconderem e do jeito que acreditam! O fato é: se você aceita isso em você, é muito mais fácil dos outros aceitarem – e mais do que isso: aumentam as chances de você atrair gente compatível com a sua realidade, pelo simples fato de que, ao mostrar quem você é, fica mais fácil de te (re)conhecerem e assim, quem se identificar, se aproximar de você (nisso você pode fazer novas amizades, e por aí vai).
O problema é que, pelo pouco que li, você também se incomoda com a sua situação, tanto é que você mente a respeito dela. Você pode responder: “Ah mas eu minto pro povo não me encher o saco, não porque eu me importe com isso”, mas concorda que mesmo assim é um incômodo que você sente e que de certa forma você está dando corda para eles perceberem que o assunto de uma forma ou de outra te afeta?
Não pense no que os outros vão pensar, simplesmente fale que você é feliz assim e ponto final. A depender do seu argumento, muita gente vai ter uma sensação do tipo: “ele realmente parece estar bem assim e passa segurança, vou parar de encher o saco então” rsrs. O segredo está na segurança em suas respostas.
Você pode falar coisas como:
“Acho engraçado essa mania social em achar que todo mundo tem que ter um relacionamento, que quem não tem é problemático ou gay. Como se gays ou problemáticos também não tivessem uma tampa da panela! No meu caso, eu não namoro porque não sinto necessidade. Cada um tem suas peculiaridades, essa é a minha”.
Nisso você daria um sorriso enquanto falaria super tranquilo e educadamente, aí quero ver quem vai te perguntar a mesma coisa novamente, rsrs. E como sua maior preocupação é a sua família e amigos, pense assim: se eles não são tantos assim, você só vai precisar falar algumas vezes e ninguém mais vai te perguntar novamente. O legal é só você ter uma resposta já meio pronta do tipo a que te sugeri e que já responderia muitas coisas que você acha que iriam querer saber sobre você. Ou seja, sem precisar pensar ou te perguntar, você já responderia que “não”, você não é gay, entre outras coisas. Só não dificulte o que é relativamente simples para poder se expressar naturalmente, ok?!
Boa sorte!!!