Em 1889 o dramaturgo Oscar Wilde escreveu: “A vida imita a arte…”. Passaram-se os anos e o contexto é outro, mas a ideia ainda se aplica. Afinal, o pornô retrata algo real ou ele, na sua forma, afeta a realidade?
Desde a legalização da pornografia em 1969 pela Dinamarca – o primeiro país na história a fazê-lo, passando pela produção em massa nos EUA e por todas as inovações tecnológicas que popularizaram a distribuição e produção, comercial ou caseira, de material erótico, até os dias de hoje, muita coisa mudou, mas outras não. O alvo inicial deste produto foi o público masculino, e tendo ele como parâmetro, o vídeo pornô tomou a forma como o conhecemos até hoje.
Assista: Mulheres e os filmes pornôs
A abundância de vídeos íntimos caseiros nos dias de hoje, mas divulgados sem permissão, permite uma constatação: O pessoal está copiando o pornô comercial.
Existe algum problema nisso? Claro que sim!
Algo que surgiu exclusivamente para excitar homens, transformou-se em modelo. Pode-se dizer que a primeira visualização de um ato sexual, da quase totalidade das pessoas que nasceram a partir da década de oitenta do século passado, foi através de um vídeo pornô.
E o que mostram estes “modelos” de transa?
O roteiro:
Por ser um “filme”, ele tem que ter início, meio e fim bem definidos, e aí começam os problemas. É quase sempre a mesma sequência, quando no mundo de carne e osso, deveria prevalecer o improviso e a atenção voltada à reação do parceiro.
O início:
Ela puxa o pinto do cara para fora e, já de início, ele está duro, bem distante do que acontece na vida real, quando muitas vezes ele demora para acordar. Embora, em muitas ocasiões, a ereção possa acontecer espontaneamente e com rapidez, não é a regra, como sugerem os vídeos pornôs. As consequências que isso tem gerado na expectativa muito artificial que as pessoas nutrem, são nefastas. Homens diminuídos por que não tem o desempenho de máquinas automáticas e mulheres frustradas por acharem que está nelas a deficiência que não liga o sujeito num piscar de olhos.
O oral nelas:
Então o rapaz se ajoelha e reza. E como o objetivo é sempre obter impacto nestas cenas, os caras metem língua e dedos com bastante força. Os caras enfiam a cara e sacodem! Perguntem às mulheres sobre o que elas acham sobre isso. Devido às inúmeras terminações nervosas nestas áreas, a sensibilidade é muito grande e justamente por isso, não costuma combinar com movimentos violentos. Façam menos cena e tenham mais sensibilidade!
As variações:
Um pornô também se caracteriza pela troca frenética de posições. Vira de lado, fica por cima, por baixo, vira e desvira, não ficando muito tempo em cada uma. Isso se justifica, porque o objetivo é manter a audiência estimulada e mostrar um casal “na mesma” por muito tempo seria tedioso demais para o cara que está sentado na poltrona, solitariamente descascando a banana. A troca de posições na vida real pode ser até interessante para prolongar o ato e aumentar a excitação, mas como é muito comum as mulheres demorarem a “engrenar”, nem sempre é uma boa estratégia. Afinal, ela está indo, indo, aumentando, aumentando, quase lá e então… Você para tudo e recomeça, agora com ela com os pés no teto e as mãos no piso, enquanto você, em diagonal, tenta recomeçar o vuca-vuca. Um ato, em que as preliminares se estendem por bastante tempo e não envolva apenas os genitais, mas que termine com um prosaico papai e mamãe, é uma heresia na realidade dos vídeos pornôs, mas pode ser uma foda inesquecível na sua vida de simples mortal.
As posições:
Os homens abraçam as mais variadas profissões, mas todos nós (homens) gostaríamos, no fundo, é de ser médico ginecologista. Os produtores de pornôs sabem bem disso.
As posições assumidas nos vídeos levam em conta a visualização da “perseguida”. Ela é o alvo e tem que ser mostrada em toda a sua plenitude. Então temos uma profusão de posições em que o clitóris é mantido a uma boa distância de seu amiguinho pontudo, e quem quiser imitar aquelas poses na vida real, passa ser obrigatório fazer justiça com as próprias mãos, senão não goza. Também, o viril membro masculino, é completamente ignorado na sua real constituição e fragilidade. O que o pornô faz, é partir da premissa que o pênis tem uma rótula no encontro com o corpo, e que o bilau funciona como uma perna. Amiguinhas, um lembrete: Aquilo não tem joelho, portanto incliná-lo para baixo não é algo tão natural quanto possa parecer quando a ereção não está na sua plenitude. Para baixo, todo o santo ajuda, mas neste caso pode quebrar o “osso”.
O tamanho:
Atores pornôs têm como critério básico serem portadores de um pau grande. Acontece que as medidas destes afortunados pela natureza – maior que 18 cm – correspondem, segundo uma pesquisa brasileira, a 2,5% da população. Homens e mulheres terem em mente estes parâmetros como medida ideal para sua satisfação é por uma razão objetiva da estatística, condenar-se à frustração. As chances de encontrar o seu príncipe na forma de um homem cavalo não são muito grandes. E na prática, existe muita variedade na reação das mulheres aos big boys. Varia do prazer à dor, mas de qualquer forma, mesmo quem aprecie sem ressalvas um grandão, sabe que muitas outras coisas contam no cardápio humano do sexo. O que não se pode contestar, é o valor simbólico de um grande pênis. Os vídeos pornôs apenas responderam à isso. Cabe aos atores e atrizes da vida real, a escolha de se submeter a fetiches ou não.
Os gemidos:
Se você ouvir uma mulher gemer tal qual uma atriz pornô, e não é de volume que estou falando, tenha compaixão, chame a ambulância, ajude-a, pois certamente ela deve estar preste a morrer por algo que deva ser muito doloroso. Os vídeos mostram a reação das mulheres dessa maneira, começando a sonorizar quando o cara sequer iniciou a penetração, porque é o sonho de todo homem, afinal basta você mostrar a vara e a mágica está feita. Se a sua parceira real, logo que começarem os trabalhos, iniciar uma “gemeção” constante, mesmo que em baixo volume, desconfie. As razões dos fingimentos são várias: Elas podem estar querendo te agradar, estimular você a acabar algo que já não está tão bom assim, ou talvez por se acharem na obrigação de ter uma reação mais fogosa do que a realmente vivenciada. Fingimentos fazem parte do jogo, infelizmente, mas você só imita algo, se o conhecer de verdade. Se uma mulher imitar a performance e reação de uma atriz pornô, isso pode ser um indício de que ela nunca tenha tido um orgasmo!
Gozando fora:
O responsável pela validação do pornô, como algo verdadeiro, é o homem. A nudez, a ereção e o ato em si, embora reais, não têm o mesmo impacto do que o orgasmo masculino. E o gozo do homem é comprovado com a ejaculação. Acontece que na vida real, o usual é gozar dentro, portanto, para quem está olhando, não dá para ter certeza de que o cara realmente chegou lá. O pornô mudou isso, pois precisava “provar” que o gozo e todo o resto eram reais.
Então quando chega o grand finale, dê-lhe porra no rosto, na barriga, nos peitos ou nas costas. Algum problema nisso? Pergunte à sua parceira. Mas algumas considerações podem ser feitas: Não há comprovação de que o sêmen traga algum benefício à pele feminina para que se justifique espalhá-lo nas costas e, terminar o ato se masturbando, não acho ser das coisas mais excitantes. No entanto, não dá para negar que existem territórios amplos e prazerosos para se explorar quando você mostra para sua companhia o resultado do seu prazer. A ejaculação no rosto, tão banal no pornô, pode ser excelente para curtir uma performance de dominador versus submissa, mas duvido que a maioria esmagadora das mulheres apreciem, como sugere o pornô.
E por fim, a depilação:
Atrizes e atores pornôs se apresentam totalmente, ou quase, depilados nas genitálias. A razão é muito simples: Nos homens, para que o pau se mostre o maior possível, e no caso das mulheres, para que a visualização microscopicamente detalhada das pepekas seja possível. Esse é o principal motivo, embora não se deva descartar, também, fantasias pedófilas.
Uma polêmica surgiu em 2013, quando a atriz global Nanda Costa apareceu nas páginas da Playboy. O motivo é que ela mostrou fartos pentelhos, mais do que se vê habitualmente nestas publicações. Muitas mulheres, nos comentários que se seguiram, relataram que a prática da depilação total está mais relacionada à higiene e ao conforto pessoal do que à aparência. Quem já viu pornô vintage ou revistas antigas, sabe que os pelos eram fartos em décadas passadas. E há quem aponte que este fenômeno da devastação das matas nativas é relativamente recente, teria iniciado nos anos noventa. Contudo, as mulheres sempre se depilaram e muito: Nas axilas, nas virilhas e nas pernas. A tecnologia e a disposição para raspar pelos, portanto, é muito antiga. E aí, fica a pergunta: As mulheres, de nem tão antigamente assim, não se preocupavam com a higiene? Será que o aquecimento global provocou uma onda de suores que antes não existia?
Esse, para mim, é o maior indício do poder de influência do pornô na vida das pessoas. Embora não se possa contestar os motivos de conforto que as mulheres alegam para a depilação total ou quase, ela só se tornou viável no momento em que a replicação, do que era visto nos vídeos, começou silenciosamente a ser aceito. O que já foi visto como infantilização do corpo feminino, agora tornou-se algo corriqueiro.
Existem várias pessoas que debatem esta questão, e que não consideram a influência da pornografia muito saudável. A sueca Erica Lust produz pornôs com um enfoque diferenciado, que seria mais adequado ao ponto de vista feminino. Existe, até, um site criado para incentivar as pessoas a enviarem os próprios vídeos, mas que fujam do roteiro típico, para contrapor um pouco de normalidade à artificialidade do pornô mainstream.
Na minha opinião, a inconsciência de grande parte das pessoas sobre a origem de suas práticas é o grande problema. Então pessoal, nada contra olhar os pornôs e explorar os limites da sacanagem, mas o façam com o devido cuidado, para não estarem pensando que são protagonistas, quando de fato são apenas fantoches em mãos invisíveis.
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