Já parou para se perguntar o quanto você ama alguém? Ou o quanto é amado? Isso é um questionamento bastante comum entre casais, e até mesmo entre as pessoas que estão conhecendo ou tentando esquecer alguém após uma ruptura. Porém, percebo que é muito raro alguém questionar: Eu amo realmente essa pessoa? Será que o que sinto é amor?
Tenho conversado com algumas pessoas após o fim de seus relacionamentos e tenho acompanhado a dor e falta que sentem de tudo que o outro proporcionava. Momentos, viagens, companhia, sexo, apoio nos períodos difíceis, planos, sonhos. Falta da pessoa? Sinto que poucas lágrimas são destinadas a isso. Não que a dor não seja real, muito pelo contrário, a pessoa sente mesmo que perdeu um amor. E ela tenta se convencer lembrando de todas as coisas que o outro proporcionava e de tudo que ela mesma fez pelo relacionamento e que aparentemente foram jogadas no lixo. Mas não consegue sequer pensar na outra pessoa em si.
Lembro-me de certa vez tentar consolar uma menina que estava sofrendo porque descobriu que foi traída e acabou optando pela separação.
“Estou sofrendo não só pela traição, mas porque eu sei que ele está triste e dói também o fato dele estar assim.”
Esse é o verdadeiro amor. Um amor que vai além de ser enganada, além da dor de ter sido colocada de lado. A dor de saber que a pessoa que você gosta está sofrendo. E isso nada tinha a ver com a autoestima dela, mas com o fato de amar mesmo o namorado. E gostar de alguém é não querer que essa pessoa fique mal, mesmo que o mal tenha sido provocado por ela e nos afetado. Quantas pessoas vocês conhece que não choraram muito nesse momento? Mas a maioria chora pela traição, por ter sido enganada, deixada para trás, porque viu a dedicação jogada fora: eu eu eu… E a outra pessoa? A pessoa “amada” torna-se apenas um detalhe para quem sofreu uma traição e, de ser amado, transforma-se única e exclusivamente em um agente causador de dor. Só que ao menos ao meu ver, a maior dor de alguém que ama não deveria ser sentir-se enganado, mas sim ter que se afastar de alguém que apesar de tudo é especial.
As pessoas costumam confundir gostar do que alguém proporciona a elas com gostar desse alguém. E mentem para si mesmas dizendo tratar-se de amor. A frase “O que vou fazer da minha vida agora?” ilustra bem isso. Em um amor de verdade, deveria ser “O que vou fazer agora sem meu amor?”. Há uma diferença básica entre as duas frases. A primeira foca a discussão em você, ou sobre os reflexos das atitudes do outro na sua vida. O segundo questiona a ausência da pessoa em si e a falta daquele que personificou o sentimento mais nobre que você tinha.
Isso já aconteceu comigo. Fiquei mal com o fim de um relacionamento que acabou influenciando negativamente em outras partes da minha vida, algo que o tempo, o melhor remédio, desfez. E essa pessoa voltou a me procurar tempos depois, coincidentemente depois do fim de seu relacionamento (curioso como sempre acontece algumas coisas na vida da pessoa para voltarmos a ser relevantes, não é?), dizendo que nunca tinha me esquecido, que gostaria de tentar novamente, que mesmo em seu relacionamento só pensava em mim. Algumas pessoas me diziam: “Se ela voltou depois de tanto tempo é porque não te esqueceu” no que eu rebatia: “Mas ela voltou porque gosta de mim ou do que acha/pensa/sabe do que posso proporcionar a ela?”. Era natural que algum sentimento ainda restasse em relação a mim, mas nenhuma palavra tive sobre a dor que senti no término. Se minha dor deixou de interessar no momento em que ela me deixou e se isso também não foi um motivo de tristeza para ela, poderia haver um milhão de motivos para me procurar. Amor com certeza não era um deles.
Procurar depois e insistir para ficar não provam nada do que a pessoa sente. Prova apenas que ela quer ficar com a gente, naquele momento. A prova real se dá involuntariamente quando você está mal e o natural seria a pessoa se preocupar contigo, chegando até a sentir sua dor; mas no mundo real, o que acontece é que a maioria das pessoas lamentam sua dor não por amar você, mas porque ela própria terá menos a sua atenção. Em pouco tempo, você que já está mal, descobre que o pior da sua dor é ela causar dor em outras pessoas. Os seus motivos? Ah, seus motivos…
Tento resumir o amor assim: imagine que você tenha uma viagem marcada para o fim de semana e ouça a semana inteira a pessoa amada fazer planos, falar do que vocês irão conhecer, o que irão viver. E de repente, na sexta, você tenha um mal súbito, que te faça desmaiar durante o trabalho. Uma preocupação natural do amor seria: “O que será que ele tem? Será que é grave? Não seria melhor irmos no médico? O que posso fazer para a pessoa ficar bem?”, mas geralmente o que acontece é a pessoa lamentar:
“Não acredito que perdemos nosso final de semana que planejei tanto!!”.
Esse é o típico caso onde o bem que você proporciona a alguém é mais amado do que você.
E você? O quanto você ama alguém?
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