O que nosso envolvimento com animais domésticos diz sobre nós?
“Eles brigam feito cães e gatos.”
A comparação do comportamento humano ao dos animais, ditos irracionais, é prática comum. Chamamo-nos uns aos outros de porcos, cavalos, gatos ou burros. Geralmente o fazemos com a intenção de ofender, embora algumas vezes sejam elogios. A raça humana tem uma ligação com os bichos, no entanto, muito mais estreita e dependente do que simplesmente servir para analogias. A domesticação de várias espécies remonta ao berço da humanidade e sempre foi caracterizada por ser uma relação utilitária, seja para a alimentação, defesa ou até para viabilizar atividades sobre humanas. No decorrer da nossa evolução, algumas espécies garantiram sua sobrevivência, justamente por ter esta relação simbiótica com as pessoas, mas a utilidade delas se estende, também, ao plano afetivo.
Nós amamos nossos bichos!
O convívio com animais é indicado por especialistas da área médica e da psicologia para um sem número de situações, como por exemplo: a equoterapia é indicada para pessoas com alguma deficiência neuropsicomotora, onde tem-se obtido bons resultados com o auxílio de cavalos; na diminuição do estresse em indivíduos muito solitários, como idosos ou pessoas com fobia social, onde um bichinho é recomendável para atenuar a falta de interações afetivas; ou ainda para ajudar no desenvolvimento emocional das crianças, por ser uma forma de aprender a lidar com o afeto, a responsabilidade e a perda.
Dos animais domésticos, com os quais mantemos relações afetuosas, se destacam os cachorros e os gatos. Eles costumam ter status semelhantes ao de qualquer outro membro da família. Entre cães e gatos, a preferência da maioria pende aos dogs, com certeza.
Cachorros:
Estima-se, segundos os mais recentes estudos arqueológicos, que eles estão conosco há 33 mil anos. Eles são efusivos, geralmente barulhentos, aprendem facilmente brincadeiras e não aceitam bem serem deixados a sós, uivando em protesto até que alguém apareça. Costumam ter uma relação hierárquica com suas famílias humanas, colocando-se abaixo do dono ou em relação a todo o grupo. Acompanham os seus proprietários em atividades externas, quase sem exceção. É muito comum hostilizarem pessoas desconhecidas ou quando um estranho entra no seu território, com latidos inconsequentes ou até mordidas. Algumas raças, pelo porte e agressividade, representam perigo às pessoas. Podem exercer diversas atividades de apoio aos seus donos, como caça, condução ou proteção.
Muito se diz sobre os cães, mas a frase mais clássica em relação a eles é:
“O cão é o melhor amigo do homem”.
Gatos:
São mais recentes na vida humana, estima-se que há 12 mil anos atrás,tenha inciado a sua domesticação. Os gatos são silenciosos, discretos, não costumam obedecer e é comum que escolham apenas um dos membros da família como preferido, independentemente deste ser ou não o dono oficial. Pelo porte, não costumam representar perigo físico às pessoas e raramente atacam. Têm uma higiene apurada e são muito independentes, suportando períodos de solidão sem reclamar. As suas manifestações de afeição são imperceptíveis para muitas pessoas, mas acontecem. É muito raro acompanharem seus donos fora do seu habitat. Não sem muito estresse, pelo menos.
Ao contrário dos cães, os felinos domésticos não costumam ter uma boa reputação, pelo menos para um número expressivo de pessoas. “Eles gostam mais da casa do que do dono”, “Dão um tapa e escondem a pata…”. Estas afirmações depreciativas são muito comuns e fazem parte do imaginário popular. No entanto, muitos poetas e prosadores dedicaram sua admiração pelos felinos domésticos em forma de frases, como:
“Deus fez o gato, a fim de dar ao homem o prazer de acariciar o tigre”.
Em clima de brincadeira, no canal do youtube – Heart Star Moon Sun – homens e mulheres demonstram as diferenças entre felinos e canídeos, representando em vídeo como seriam as namoradas ou os amigos se fossem cães ou gatos. Dificilmente alguém não reconhece algum traço destes bichos nestas brincadeiras.
Mas e os donos?
O pet escolhido diz muito sobre o seu dono. Eles funcionam como um Raio X, revelando muitas verdades, às vezes não muito aparentes, sobre os seus proprietários.
Fãs dos Cães
Preferir cães, de uma maneira geral, indica donos mais extrovertidos. Também, pode ser um claro indício de que estas pessoas gostam de dominar, e o cão com sua obediência cega ao proprietário, serve como uma luva para os mandões.
Outro tipo é o carente, que encontra no seu fiel amigo, às vezes, a única relação de afeto. Aquela lambida no rosto quando você chega em casa é, para muitos, o carinho mais intenso que recebem em suas vidas. Outra especulação é sobre o tipo de carência que um diferente cachorro sugere. Em clima de piada se diz daquelas meninas que passeiam alegremente com seus cães:
“Se o cachorro for pequeno, é vontade de ser mãe, se for grande, é falta de namorado.”
Algumas raças e seus pares humanos:
- Poodles, meticulosamente tratados. Podem muito bem ser o atestado de que seu dono navega no mundo das aparências e a futilidade é o fluído que corre em suas veias.
- Pittbulls, Filas ou Rotweillers. São um alerta para se ter muito cuidado com os donos! Querer ter um animal que, se algo sair de controle, poderá até matar uma pessoa, incluindo o dono, não é um bom indício. Seria uma compensação pela falta de poder na vida real? Uma vontade reprimida de agredir? Ou querem apenas alguém que os defendam por não se sentirem protegidos?
- Pugs, ou outras miniaturas derretedoras de corações sentimentais. Provavelmente o seu dono tenha muito amor para dar, mas não consiga conviver muito bem com o fato de que o objeto da sua adoração tenha vontade própria. Somente amor de cachorro é para sempre. Sem contar que o Pug agora é moda e muita gente tem sem nem saber direito o porquê. (por ser moda?).
- Vira-lata. De todos os tamanhos e temperamentos, combinam melhor com pessoas, que também no cotidiano, tendem a ser mais transigentes.
Fãs dos Gatos
É a minoria, embora a cada dia aumente mais a participação deles.
Ainda se têm a imagem muito forte deles associados como companheiros típicos de mulheres solitárias ou de homens gays. No passado eram um forte indicador de que a dona era uma bruxa e tinham, invariavelmente, como destino a fogueira acendida sempre por bons humanos.
Mas além destes estereótipos, existe uma legião de apaixonados por gatos, que veem outra característica neles para justificar sua preferência. O gato, pela sua independência, é o companheiro perfeito para pessoas que aceitam melhor a autonomia alheia. Também é um animal mais adequado a pessoas introvertidas. Perceber o enorme afeto que os bichanos transmitem aos seus companheiros humanos é tarefa para as pessoas mais sensíveis, portanto, não é à toa que o número de artistas que preferem gatos é expressivo.
Alguns tipos:
- Persas, pela pelagem e temperamento, mais parecem bibelôs, úteis para colocar junto às almofadas e decorar o sofá da sala. Imaginamos sempre o dono destes bichos como aquelas figuras que, ao saírem na rua, ofuscam de tanto usar objetos brilhantes, do pescoço ao calcanhar.
- Sphynx são gatos sem pelos. Imagino que os fãs desses exóticos bichanos devem ter como objetivo máximo da vida, a originalidade. Farejo uma tendência antissocial, mesmo que escondida.
- Comum. É o gato por excelência, se você realmente ama os felinos, não tem como não se afeiçoar por um deles, não importa a cor ou comprimento da pelagem. Bicho para pessoas sensíveis e independentes.
Mas algo une os amantes dos bichinhos de estimação e uma das frases mais repetidas é:
“Quanto mais conheço humanos, mais gosto dos animais”.
Embora seja usada para criticar alguma atitude humana abominável, ela também revela algo muito triste sobre nós. Declarar-se mais afeto a animais do que a pessoas é um forte indicador de intransigência e dificuldade de convívio social. A intolerância e a dificuldade de interação com o semelhante, cada vez mais presente na sociedade humana, é o combustível perfeito que alimenta o crescente mercado de pets. É a válvula de escape perfeita para a solidão urbana.
Apesar dos bichinhos serem extremamente úteis nas mais diversas situações, a verdade é que é sempre uma relação de exploração. Gaiolas, aquários, apartamentos ou grandes pátios são, todos, prisões para os nossos animais. Afinal, o teu bichinho vai sempre te amar e se você cuidar bem da porta, das grades ou da coleira, ele nunca vai te abandonar…
Eu não sou o primeiro, nem serei o último a dizer, mas acho que sempre cabe constatar este incrível paradoxo. As pessoas parecem mais preocupadas e tocadas por dramas envolvendo bichos do que com o sofrimento humano.
É impossível não concluir que há algo muito errado com a gente.
Pelo menos deveríamos refletir sobre isso, um pouco que seja.
E, por fim, a conclusão que eu chego, generalizando sobre os diferentes tipos de pessoas, que preferem cães ou gatos, está bem resumida na seguinte frase:
“Gatos te escolhem, cães te obedecem.”
Imagino que ouvirei muitos latidos contra mim, então fica aqui a minha resposta:
Miau.