Leitora: Olá Luiza, boa noite! Gostaria que você pudesse me ajudar, creio que estou precisando de um toque. Bom, meu problema é o seguinte, me relaciono com uma pessoa há mais de um ano, na maioria do tempo ele é bom, atencioso, carente no sentido bonitinho de querer abraços, beijos, coisinhas fofas blá blá. Mas o engraçado é que, ao contrario disso, tem horas que ele tem um pavio curtíssimo, qualquer coisa o estressa e ele fica muito muito diferente. Não era algo comum, às vezes eu achava que era estresse pela nossa rotina nada leve, mas ele perdeu o emprego.
Achei que fosse melhorar por um tempo, pq ele tava precisando muito de um descanso, mas não melhorou, acho que até piorou. Hoje qualquer coisinha é motivo dele se estressar e descontar em mim, ele não consegue perceber que está exagerando e quando eu vou dá um toque, ele apela mais. Quando isso acontece, eu saio de perto e deixo ele sozinho, às vezes ele me dá um pouco de medo, fico assustada, mas não acho que ele seja capaz de me agredir, é que eu fico assustada mesmo com pessoas nervosas. A questão é a seguinte, eu não quero desistir dele, eu o amo, e por mais difícil que seja, eu quero ajudar ele a melhorar, estar do lado dele, querer tentar antes de tratar ele como se fosse descartável. O que eu posso fazer pra abrir os olhos dele? Beijos, obrigada.
Amiga, achei muito bonito da sua parte não querer tratá-lo como algo descarável, etc. Porém, ainda que dê pra tentar ajudar com algumas dicas que eu e os comentaristas vamos dar, o maior esforço tem que partir DELE. E isso acontece pelo simples fato de que o problema é dele, não seu. E não digo isso no sentido egoísta, mas sim porque se ele não consegue enxergar o óbvio, o máximo que você pode fazer é tentar dar as dicas, jamais enxergar por ele, entende? Porém, sempre pode acontecer dele ainda não estar preparado para ser uma pessoa melhor, e aí vai de você aceitar ser saco de pancadas ou não. Lembre-se que, ainda que em teoria seja lindo, ninguém salva a pátria sozinho.
Acredito que ele não seja um ser humano ruim, porém, não está sabendo lidar com ele mesmo. E sei disso porque já passei por algo semelhante quando mais nova: não no nível dele, mas já passei. No meu caso, eu vivia uma rotina estressante porque não tinha liberdade pra fazer muita coisa que queria, era uma pessoa “diferente” das demais, brigava muito com uma pessoa da família e o resultado era que ficava explosiva. Ou seja, fora (ele) ter perdido o emprego (= fator externo prejudicial), tem que ver como é a vida familiar e social dele. Porém e de qualquer forma, acho relevante dizer que, no meu caso, as coisas só começaram a mudar realmente pra mim quando:
1- Eu percebi que tinha que correr atrás do que me fazia bem. Ou seja, percebi que meu estresse era porque estava frustrada em uma área da minha vida e, enquanto não corresse atrás pra reverter isso, poderia descontar em quem quisesse, que despejar minhas frustrações em terceiros não melhoraria minha realidade. Muito pelo contrário…
2- Também sabia que nem tudo era culpa minha. Porém, também percebi que, independente disso, como eu iria reagir perante a situação era sim culpa minha. Ou seja e mais uma vez: nada justifica descontar em você.
Junte a tudo isso a terceira dica que não é minha, mas de uma amiga que era bem explosiva e que, felizmente, conseguiu mudar graças a duas coisas:
1- Teve um dia que ela foi tão descontrolada com o namorado, que ele simplesmente terminou com ela e, com toda razão do mundo, disse que ela não podia tratar as pessoas assim, porque machuca, ofende, etc. Minha amiga disse que foi ruim, claro, mas foi bom também, porque quando ele apenas brigava (mas nunca terminava), não era o suficiente para que ela mudasse algo, entende? E, às vezes, ela até brigava de volta (tal como ele faz contigo kkk) porque o “choque do se manca” não tinha sido o suficiente. Daí, só quando ele realmente teve a coragem de terminar, ela viu que existe um preço para manter as pessoas de bem por perto. E que se ela não se controlasse, iria perder todas elas.
E nisso entra uma (in)direta pra você: chegará num ponto que, depois de tentar de tudo, você terá que estar disposta a perdê-lo. Ou seja, arriscar um choque pra ver se, ou ele te respeita, ou vocês se largam de vez. Sim, pode ser que vocês nunca mais voltem, mas e aí? Qual seria a sua outra opção? Colocar sua autoestima lá no chão só pra dizer que “o ama”, que ele não é descartável e demais coisas que talvez estejam mascarando apenas sua falta de amor próprio e covardia em terminar algo que te faz mal, não necessariamente seu excesso de bondade e de amor por ele?
Por fim, outra coisa que considero muito relevante é que essa minha amiga entrou pra meditação. E cara, eu que convivo com ela, percebo nitidamente o MILAGRE que isso fez na vida dela! E digo milagre de milagre mesmo! Pense numa pessoa que não se irrita com nada? Minto, quase nada kkkk. Às vezes fico chocada kkkkkkkkkkkk, parece que nasceu de novo! Só que claro, não é fácil e é a pessoa que sofre com o estresse que tem que correr atrás.
É isso minha amiga: espero que você tenha se visto nesses exemplos. E se você realmente quiser continuar com ele, terá que se impor um pouco mais. E caso dê tudo errado e você quiser continuar tentando ajudar um cara que só te dá chute, recomendo fortemente um acompanhamento mais extenso pra lidar com esse inferninho que provavelmente irá acontecer. Independente de você gostar dele e/ou estar disposta, você é gente, corre sangue nas veias e tem que se cuidar também, não tem?
Se sentir que precisa, não economize em procurar ajuda.
Boa sorte!
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