Hoje iniciamos uma série de textos que, permitam-me dizer, talvez sejam os melhores encontrados em relação ao tema da violência contra a mulher na Internet. Nossa colaboradora, que foi delegada e psicóloga, abordará as várias questões sobre o tema que vão muito além dos clichês sociais.
O intuito será não só o de ajudar a vítima da agressão e dar norteadores de como sair dessa, como buscará esclarecer ao público leigo os motivos que a levam a agir assim. Por fim, terá uma abordagem direta ao agressor, que talvez não entenda muita coisa sobre ele mesmo.
PS: Ainda que os textos sejam fundamentalmente voltado às mulheres, homens também sofrem agressões e falaremos sobre isso também.
Entre os textos que serão postados aqui semanalmente estão:
1- Como saber se você está em um relacionamento abusivo?
2- O que leva uma pessoa a permanecer em um relacionamento abusivo
3- Dicas práticas para te ajudar a sair dessa!
4- Um texto para que o agressor se entenda um pouco mais (sim, ele também precisa de ajuda)
Começamos agora?
Juliana era uma mulher como muitas de nós: criada com o carinho dos pais, estudou em boas escolas e desejava muito se casar e formar uma grande família. Com 20 anos, conheceu Roberto. Ah, o amor!!!
Nos primeiros meses de relação, Roberto sempre foi muito ciumento, mas utilizava o pretexto de ser “atencioso”. Com seis meses de relacionamento, viajaram pela primeira vez. E também foi aí a primeira agressão física. Segundo ela, Roberto havia ficado possesso. Afinal, como ela teve a audácia de dançar com outro homem? Ele chorou, pediu desculpas e disse que não faria mais. E não fez mesmo: durante um mês e 15 dias. A partir disso, as agressões foram constantes e cada vez piores. De alguma forma, que não me cabe aqui julgar, Juliana se achava merecedora daquilo. Até que em uma quinta-feira, até então como qualquer outra, recebo uma ligação: era a mãe de Juliana, dizendo que a filha não iria mais continuar em processo terapêutico. Juliana havia se suicidado.
Quando ouvimos uma história assim, o primeiro pensamento que surge é: “Como ela é burra! Por que aceitava isso? No mínimo, deveria gostar de apanhar”. Nesse momento, caro leitor, eu te faço um pedido: deixe cair as pedras que estão em sua mão e tente ampliar os horizontes do conhecimento. Isso vai te exigir um pouco de empatia e compaixão. Mas ao término dessa saga (um texto semanal nesse site, resultando talvez em três), valerá muito a pena. Afinal, sua mãe, sua filha, sua irmã ou até mesmo você ou seu parceiro, poderão precisar dessas informações: agora ou no futuro.
A violência doméstica, que é aquela praticada dentro de um relacionamento, pode se dar de várias formas. A primeira delas é a violência física, que ocorre quando há o uso de força física. São os famosos tapas, empurrões, socos, chutes, puxões, estrangulamentos, cortes ou ferimentos – com objetos ou armas.
Há também a violência sexual, que é quando o(a) parceiro(a) coage a outra parte a manter relações sexuais, forçar aborto ou impedir o uso de métodos contraceptivos, como o preservativo. E é importante entender que não importa se estão em “um caso”, se estão casados ou se são namorados: será violência mesmo assim.
Por último, existe a violência psicológica. Essa é caracterizada por ações que ferem a autoestima do indivíduo, por meio de humilhações, xingamentos, depreciações e críticas negativas. Em geral, são agressões de teor verbal.
Depois de tudo, a pergunta que fica é:
Como saber se estou em um relacionamento abusivo?
Há alguns sinais que Deus (o Universo, a vida, a energia quântica ou como queira chamar) nos dá para que possamos perceber se estamos, ou não, em uma relação saudável.
-
Ciúmes e Possessividade
O indivíduo agressivo utiliza os pretextos de “cuidado, preocupação ou atenção” para controlar os lugares que você frequenta, as pessoas com quem sai e inclusive com que roupa? Liga com frequência anormal? Tem desconfianças e interrogatórios infundados? Te proíbe de visitar sua família ou só permite que o faça desde que ele esteja junto, inclusive em lugares que você deveria ir sozinha(o)? Fica nervoso ou instável quando sai com pessoas próximas a você? Se ele faz uso das frases “é porque estou preocupado com você” e “só faço isso para o seu bem”, fique atenta aos sinais!
-
Comportamento Agressivo
Quando contrariado, o indivíduo agressivo tem “explosões” de raiva? Desconta de forma exagerada problemas em você? Desrespeita outras pessoas em situações do dia-a-dia? Já te fez sentir medo? Tem reações hostis quando algo sai do controle? Tem atitudes impulsivas com frequência? E principalmente: se ele faz (ou quando faz) uso de álcool, tem mudanças bruscas de humor? Fala exageradamente e depois alega que não se lembra?
-
Agressão Verbal
A pessoa com a qual você se relaciona já te ameaçou, ainda que verbalmente? Frequentemente te humilha, inclusive na frente de outras pessoas? Te manipula para que você se sinta culpada(o) por algo que você não foi responsável? Essa pessoa fala com desdém de você ou da relação entre vocês? Repetidas vezes, você é colocada(o) em um nível inferior ao dele(a)?
-
Irresponsabilidade
Em geral, a pessoa agressiva não se responsabiliza por seus próprios atos. Ela manipula a situação e age como uma vítima. Uma vítima de você. Nada nunca será culpa dela. Então se pergunte: você sempre se desculpa por ele, ainda que ele esteja errado? Sente vergonha de certas ações dele e acaba as justificando? Quando alguém questiona seu relacionamento, você fica na defensiva e fica irritada(o)?
-
Histórico de Abuso
Você se relaciona com alguém que tem histórico de violência contra ex-namoradas(os)? Ou maltratou animais? Já esteve atenta ao passado dele? Trata mal os próprios familiares ou alguém supostamente querido? Desrespeita garçons e porteiros?
É minha amiga(o), considere esse texto como uma mensagem para mudar:
Homens ou mulheres, denunciem: Disk 180
Ou se quiserem apenas conversar, Disk 141: Telefone do CVV, que vale não só para quem sofre violência doméstica, como pessoas que estão sofrendo com depressão, vontades suicidas, etc.
Espero do fundo do meu coração que – sendo vítima ou não – você compartilhe esse texto caso sinta que alguém precisa dele.
“Somos poucas, mas todas capazes de mudar o mundo”
*************************************
Semana que vem falaremos sobre as causas/motivos que levam às mulheres + os homens a permanecerem em um relacionamento abusivo.