Leitora: Namorei um rapaz por 3 anos e meio e quando fizemos 3 anos e 3 meses acabei traindo-o.
Um mês depois, contei a verdade e ele terminou tudo. Eu estava desesperada, liguei para o rapaz que eu havia beijado e ele me deu apoio. Naquele mesmo dia ele disse que gostaria de sair comigo, carente e desesperada eu aceitei. Durante o carnaval desse ano (uma semana após o término), passamos a noite juntos e transamos (com proteção) e eu fui pega pela margem de erro e agora não acredito em métodos contraceptivos.
Acontece que todo mundo, amigos, familiares meus (principalmente mãe e irmãos) e pessoas próximas acham que eu sou uma vagabunda sem vergonha por ter traído um rapaz tão bom. E lá pelo dia sete de abril descobri que estou grávida. Falei com o pai da criança e decidimos que o melhor, principalmente pra mim, seria abortar, afinal eu tenho vinte anos e a barra que estou passando é pesada demais. Compramos um remédio abortivo, mas enquanto a mercadoria não chegava optamos por ficar com a criança, ainda não contei a minha família da minha gravidez e sei que ninguém irá me apoiar (com exceção do meu irmão gêmeo).
Estou com muito medo das pessoas, do meu ex (que ainda é uma pessoa que eu amo muito e não quer me ver nunca mais), mas principalmente do que minha família ira dizer.
Trabalho e estudo, e estou pensando em largar tudo isso e ir embora pra outro lugar mesmo sabendo que passarei muita dificuldade financeira e psicológica, mas acredito que ainda será mais fácil do que viver aqui onde todos não param de me apontar dedos e me julgar (já faz mais de dois meses desde o término e ainda continuam) e quem sofre muito com isso é a minha mãe que está muito envergonhada de mim. Ninguém além de mim e o agora meu namorado (o pai achou melhor a gente começar um relacionamento :)) sabe do neném. Ele me dá todo apoio, é um grande homem muito querido e inteligente, me ajuda em tudo que pode, é meu amigo acima de tudo, só que eu sinceramente não sei o que fazer da minha vida, estou com medo de estar entrando em depressão, se passam um milhão de coisas na minha cabeça e essas coisas estão me machucando muito.
Se você puder me dar algum conselho fico muito grata, muito obrigada por estar lendo esse relato.
Eu poderia ficar te enchendo de lição de moral, poderia ficar falando sobre traição, mas sinceramente? Com certeza você já entendeu essa parte muito melhor do que eu poderia te explicar e não te resta outra coisa que não seja ter coragem para chutar essa bola para frente, e com força!
Não entendi essa da sua família não te dar apoio, de todos “te acharem uma vagabunda”. Tudo bem que trair não é uma atitude louvável, mas não deixo de achar interessante essa mania social de julgar os outros como se eles fossem super “bons samaritanos”, que nunca erraram na vida, né? Não ligue para o que eles dizem: eles até podem estar “se sentindo por cima da carne seca” agora, mas eles têm o teto de vidro tão vulnerável quanto o seu. A diferença é que eles não foram pegos ”na mentira” e você foi. E é óbvio que isso não faz deles pessoas melhores que você, e nem faz a história deles mais bonita que a sua. Se ainda tem papel (vida), ainda tem história: só não tenha preguiça de escrever e nem fique borrando o papel com tantas lágrimas, certo? Se continuar assim, você só estará atrasando o seu final feliz.
Preste muita atenção no conselho que eu vou te dar agora: se não for para o seu bem, se não for para te ajudar e para te apoiar, não será um conselho que te serve – pelo menos não para esse momento delicado da sua vida. É claro que ninguém precisa dizer que você está certa e passar a mão na sua cabeça, porém, não apoiar é algo completamente diferente. A pessoa pode até não concordar contigo, mas se ela te ama e quer te ver feliz, é o dever dela te ajudar. Porém e ao mesmo tempo, você não deve esperar esse bom senso e discernimento das pessoas, porque nem sempre elas sabem o que fazem, tampouco da gravidade que o julgamento delas tem para você. Em alguns casos, a pessoa pode até te amar, mas a ignorância – social e cultural – dela não deixa com que ela entenda que apesar do seu erro, você não se torna uma pessoa ruim e digna de chacota por isso. Se os outros não entendem e querem “a sua morte”, caberá a você ficar viva e forte. E acredite, você é capaz de conseguir tudo o que você quiser: você só não pode ser ingênua de esperar que se consegue algo sem luta. Você vai suar bastante, e chorar outro tanto, mas no final de tudo, você irá arrasar, terá uma criança linda e dirá: “ainda bem que eu não abortei a maior alegria da minha vida”. Palavra de toda mulher que é mamãe. Pode perguntar para elas, inclusive às mães solteiras (como o seu caso!) =)
Já deu para perceber que sou contra o aborto, né? E sou mesmo. Eu entendo perfeitamente o seu medo, o seu sofrimento e a dor de ser julgada pela família e demais pessoas que você ama, mas acredite: depois que essa criança nascer e você olhar os olhinhos dela e colocá-la no seu colo, você dará graças a Deus por não ter cometido nenhuma atrocidade. Toda mãe tem como maior alegria um filho. Toda mãe fala que o dia mais feliz da vida delas foi quando o filho nasceu, e se você ainda não vê isso com total clareza, é porque você ainda “não o viu com os próprios olhos”, “não pegou nele”, porque depois que ele nascer e você criar apego, você verá que ele é muito mais importante do que os julgamentos externos, entende?
Você percebe que você está colocando julgamentos dos outros acima de uma vida (inclusive da sua vida!)? Que você está colocando o fato de te chamarem “de vagabunda” acima do seu filho e da sua felicidade? Criar coragem e arcar com as dificuldades da vida é sempre a melhor opção para quem quer ser feliz. Todo mundo tem problemas, todo mundo enfrenta barras fortíssimas durante a vida (pelo menos umas 3 “por cabeça”!) e essa é uma das suas: enfrente-a e se sinta capaz de vencer, porque você é! Sem contar que se a dor é comum a todos nós durante nossa jornada, a força que vem depois dela também é! Agora você está acuada, com medo, se sentindo fraca, mas acredite, é da dor que tiramos a nossa maior força, aquela força que a gente nem sabia que tinha. E aí minha amiga, quando você chegar nessa fase e você tiver o seu filho nos braços, você verá que nada mais será capaz de te derrubar.
Eu não sou religiosa, mas você já parou para pensar que quando a gente fez tudo que pode e mesmo assim algo aconteceu, é porque era para ser mesmo? Ou seja, se você se preveniu durante o ato sexual e mesmo assim engravidou, você não acha que isso pode ter sido uma espécie de mensagem para você ter esse filho? Sei que isso parece papo de louco sem o mínimo respaldo cientifico, mas eu não ignoro essa hipótese. Você não acha que foi coincidência demais você ter feito tudo certinho e mesmo asism ter acontecido um imprevisto? Certa vez eu escrevi um texto aqui no blog sobre destino, que falava que o destino nada mais é do que aquilo que acontece depois da gente ter feito tudo o que podíamos em um momento “X”. Assim, se na hora do sexo você se protegeu e engravidou, às vezes estava escrito “nas estrelas” mesmo. E mesmo se você não tivesse se prevenido, quem garantiria que o filho não estaria nos planos da vida para você? Dizem também que nunca nos é dado uma cruz mais pesada do que somos capazes de carregar, e que se todo mundo tem sua própria cruz, também tem uma sombra para descansar. Você já parou para pensar que, por sua vez, o pai do seu filho, que é o mesmo que está te dando apoio e que está do seu lado nesse momento tão difícil é a sua sombra?
Também iria dizer que a sua mãe poderia te ajudar em caso de saber toda a verdade, mas sinceramente não sei se te aconselho a contar ou não, porque a depender do grau de moralismo e tolerância dela, talvez não seja uma boa. Porém, se mãe é mãe e sempre nos ama, vale a pena considerar essa hipótese e sondar, como quem não quer nada, como ela receberia uma notícia dessas. Sei que ela poderá se assustar no começo e te respeito em caso de você optar por não contar nada durante a gravidez, porém, cá para nós que duvido que se um dia você chegar com o seu bebezinho todo sorridente chamando “vovó” se ela não se desaguará toda de amores por esse serzinho tão especial =). Palavra de quem já viu casos de avós e avôs que eram contra a gravidez da filha, mas que depois que o netinho nasceu, ficaram cheios de orgulho e felicidade!
Por fim, eu no seu lugar não pensaria em mais nada que não fosse o meu filho, e ao invés de ficar ouvindo vizinha chata e fofoqueira, eu sairia para comprar roupinhas para ele. Ao invés de ficar me lamentando e chorando na cama, abriria a internet e leria dicas práticas para mães de primeira viagem, e até mesmo a entrevista com uma grávida adolescente que fizemos aqui no blog. Você tem que pensar na sua saúde, na saúde do seu filho e sabemos que se você se estressar e ficar triste, ele ficará triste também (há pesquisas que falam inclusive sobre essa relação de sentimentos entre “mãe e filho” durante a gestação). Sendo assim, se é para o bem da mamãe e do neném mudar de cidade, por que não tentar essa possibilidade? Eu mesma saí de casa quando ainda era jovem, foi difícil e sofrido no começo, mas hoje em dia me sinto uma pessoa muito mais forte e preparada para a vida. Eu no seu lugar usaria os meus problemas para me dar força, não para me matar de vez. Tudo tem a época certa de acontecer, e acredito que a sua dor durará apenas até ouvir o primeiro choro do seu filho. Se é que ela não virá antes, quando a sua barriguinha começar a crescer e você começar a senti-lo dentro de você =)
Boa sorte!